Editorial

Protesto ambiental é a nova pirataria

Por Capitão Paul Watson, Fundador da Sea Shepherd

Capitão Paul Watson. Foto: Sea Shepherd Austrália/Tim Watters

Você não precisa de um tapa-olho ou uma perna de pau para ser um pirata atualmente. Você só precisa cuidar da Terra e do futuro dos nossos filhos. Pela primeira vez em décadas, posso verdadeiramente dizer que tenho orgulho de ser um cofundador da Greenpeace. Sua campanha recente nas águas do Ártico russo é corajosa, e conseguiu focar a atenção internacional sobre a exploração de petróleo e gás no ambiente no ártico Estrategicamente, é uma campanha brilhante. Com 16 nacionalidades representadas em sua equipe, o resultado são 16 diferentes questões diplomáticas a serem abordadas.

A tripulação é da Holanda (onde o navio está registrado), Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, Dinamarca, Estados Unidos, Grã-Bretanha, Nova Zelândia, Ucrânia, Rússia, França, Itália, Turquia, Finlândia, Suíça, Polônia e Suécia. E agora, a Rússia acusou a Greenpeace de pirataria por embarcar na plataforma de petróleo Prirazlomnaya, para pendurar uma bandeira. Isso será um dilema para os Estados Unidos, porque o capitão do navio do Greenpeace Peter Wilcox, é norte-americano, e o Tribunal do Nono Distrito dos Estados Unidos emitiu uma decisão alegando que embarcar em um navio para protestar é um ato de pirataria. Se for decidido, tanto pelo governo russo quanto pelo dos Estados Unidos, que classificaram o protesto, não violento, como pirataria, isso será um grave atentado aos direitos humanos internacionais. Ainda há uma chance de que os russos enxerguem a luz da razão e retirem as acusações, especialmente a acusação ridícula de pirataria, mas para um país que envia jovens para a prisão por dois anos por protestos de rua não violentos, o panorama é sombrio. O mais provável é que os russos irão retirar ou reduzir as acusações contra a tripulação para diminuir a pressão diplomática, e manterá as acusações contra o capitão, os oficiais de alta patente e qualquer equipe sênior do Greenpeace.

Será que o patrocínio do governo russo na perfuração de petróleo será interrompido por este protesto? Claro que não, nem as ameaças potenciais por interesses petrolíferos americanos e canadenses serão interrompidas por protestos. Mas temos que nos levantar e nos opor a estas potenciais ameaças à segurança do meio ambiente. Esta missão do Greenpeace em águas russas ajudará a manter o mundo ciente dessas ameaças, e temos uma responsabilidade para com o futuro, de fazer tudo o que pudermos para parar o rolo compressor da destruição ambiental que está corroendo rapidamente.

As reivindicações russas que suspeitam que o Greenpeace teriam a intenção de plantar um dispositivo explosivo são absurdas. E ainda mais absurda é a afirmação russa de que a equipe do Greenpeace era uma ameaça para o ecossistema ártico. Esta não é a primeira vez que a Greenpeace se aventurou em águas russas. Greenpeace e Sea Shepherd Conservation Society desembarcaram na antiga União Soviética para se oporem à caça de baleias, a Sea Shepherd em 1981, e a Greenpeace em 1983.

Em 1981, a Sea Shepherd interceptou uma fragata Soviética e fugiu da perseguição depois de filmar evidências de atividades baleeiras ilegais soviéticas. Nossas provas foram apresentadas à Comissão Internacional da Baleia e foi muito embaraçoso para a União Soviética uma prova positiva de suas atividades ilegais. Em 1983, os ativistas da Greenpeace foram presos por tentar fazer o mesmo. No final, os soviéticos libertaram o grupo Greenpeace sem acusações. Vamos ver se a nova Rússia, com Vladimir Putin, terá o bom senso de fazer o que os seus antecessores soviéticos fizeram, sob o comando do Premiê Yuri Andropov.

O Sea Shepherd II realizou a primeira operação anti-caça às baleias em território russo, em 1981. Foto: Sea Shepherd