Paul Watson: mais do que Defensor do Oceano, um Mensageiro pelo Planeta
Capitão Paul Watson e Nathalie Gil, presidente da Sea Shepherd Brasil, em frente à prisão de Nuuk, Groenlândia, onde Paul ficou preso por 5 meses.
Muitos ouviram falar de Paul Watson pela primeira vez apenas nos últimos meses.
No entanto, o grande ativista pelos oceanos, fundador do Greenpeace e da Sea Shepherd, está em sua missão de proteger a vida há mais de 50 anos.
23 de dezembro de 2024
por Nathalie Gil
Quando Paul Watson iniciou sua luta, as baleias ainda eram dizimadas por diversos países, incluindo o Brasil, por meio de navios-fábrica baleeiros. Esses animais eram mortos para a extração de óleo, usado na indústria balística durante a Guerra Fria por sua resistência.
Quando jovem, um encontro com uma baleia-cachalote em alto-mar mudou sua vida. Enquanto confrontava um navio baleeiro soviético, a baleia, mesmo em desespero e à beira da morte, optou por não atacá-lo, embora pudesse matá-lo facilmente. Ao olhar nos olhos do animal, Paul sentiu que a baleia sabia que ele estava ali para ajudá-la.
Esse momento marcou uma transformação. Paul percebeu o quão insana é nossa sociedade, que destrói vidas humanas e não humanas sem remorso. Somos responsáveis pela devastação de ecossistemas milenares, movidos pela conveniência e pelo poder. Extraímos da terra e do mar recursos vitais sem compreender seu papel essencial na biosfera. Em nossa arrogância, ignoramos que somos passageiros de uma espaçonave magnífica no universo, destruindo sua tripulação — as espécies que habitam a Terra muito antes de nós.
Sem nós, a vida prospera. Sem minhocas, abelhas, baleias, tubarões, fungos e bactérias, nós não existimos. Ainda assim, protegemos templos, fronteiras imaginárias e narrativas fictícias, enquanto aniquilamos a natureza real e magnífica. Paul estava certo: somos insanos.
No dia 21 de julho deste ano, Paul Watson foi preso em Nuuk, na Groenlândia, enquanto tentava interceptar navios baleeiros japoneses. A prisão foi resultado de uma estratégia de vingança do Japão, que há anos era exposto por Paul e suas equipes. A acusação remonta a 2010, quando um membro da sua equipe, Peter Bethune, foi acusado de invadir um navio baleeiro japonês, cortar uma rede e ferir três tripulantes com ácido butírico (substância menos ácida que suco de laranja). Paul, no entanto, estava a dezenas de milhas de distância no dia do incidente e não incentivou a invasão. Mesmo assim, em 2012, a Interpol incluiu Paul na lista vermelha — destinada a criminosos de guerra e assassinos — por salvar baleias de uma atividade comprovadamente ilegal.
A Corte Internacional de Justiça e a Comissão Internacional das Baleias já comprovaram que as ações japonesas são criminosas. Paul e sua equipe, portanto, estavam aplicando a lei internacional, que assegura a proteção ambiental.
Durante as operações da Sea Shepherd, ninguém jamais foi seriamente ferido ou morto. Paul sempre defendeu ações diretas e agressivas, porém não violentas. Seu objetivo é proteger vidas, nunca promovê-las à destruição. Apesar disso, Paul foi tratado como criminoso. Como alguém pode ser punido por rasgar uma rede, enquanto matar baleias cruelmente é considerado aceitável?
Estive em Nuuk com Paul Watson, acompanhando de perto sua libertação após 150 dias preso. Foi um momento de intensa emoção vê-lo deixando a prisão e embarcando em um voo rumo à liberdade. Após meses de injustiça, Paul agora segue para Paris, onde será recebido como o herói que é.
Em uma visita ao Ministério do Meio Ambiente para tratar deste caso, a Marina Silva o descreveu brilhantemente: Paul é o “Chico Mendes do mar”. Enquanto um se colocou entre a árvore e a serra elétrica, o outro se coloca entre a baleia e o arpão.
Vivemos tempos sombrios, onde quem luta pela vida é punido, e quem promove a morte prospera. Em minhas visitas a Paul na prisão, ele me confidenciou que não tinha esperança para o futuro, pois o futuro não existe. Só o aqui e agora é real.
Ele transformou seu tempo aprisionado em mais uma campanha bem-sucedida, descrevendo a prisão como um navio e seu tempo por lá como uma nova missão. Paul mostrou que não se prende uma ideia nem se cala uma visão de mundo. Sua prisão despertou o mundo para o fato de que, em 2024, ainda matamos baleias e perseguimos ativistas que expõem crimes ambientais.
Paul nos ensina que a esperança não está no futuro, mas no presente. É em nossas ações de hoje que construímos um amanhã melhor. Ele nos inspira a agir já, pela vida, simplesmente porque é o certo a fazer.
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Juntos pelo Oceano.