Afinal, o que é reciclável e o que não é?
Elaboramos um mini-guia sobre a reciclabilidade dos materiais que mais geram dúvidas no consumidor. Queremos te ajudar a escolher melhor o que você consome e entender como reciclar seus resíduos corretamente.
Segundo a ONU, cerca de 80% da poluição marinha tem origem terrestre. Nosso consumo impacta, independente se moramos perto ou longe do mar.
Hoje produzimos e consumimos em uma velocidade muito acelerada. Essa lógica linear tem um enorme impacto econômico e ambiental, uma vez que a maior parte do material acaba sendo desperdiçado ou poluindo o meio ambiente. Esse estilo de vida descartável transformou nosso modelo de produção e consumo: o que antes era durável e reutilizável passou a ser projetado para durar menos, propositalmente.
“Ah, mas a maioria desses itens descartáveis são feitos de materiais recicláveis. Então não tem problema consumir e produzir esses itens, pois eles serão reciclados”. Correto? Errado!
A reciclagem se tornou o pretexto ideal para justificar esse nosso modelo de consumo desenfreado e infinito, baseando-se no mito que se o material é reciclável, está tudo bem.
O que acontece é que as taxas de reciclagem são muito baixas em todo o mundo. O Brasil recicla entre 3 e 4% dos resíduos que produz. Se falamos de plásticos, o número é ainda menor, cerca de 1,2%. E o que acontece com todo o resto? Acaba em aterros sanitários e lixões ou poluindo o oceano.
Para ajudar a minimizar este problema devemos praticar o consumo consciente: evitando ao máximo gerar resíduos e quando realmente tiver que comprar algo, optar pelo material de menor impacto e descartar corretamente.
Nesse contexto, precisamos entender a diferença entre duas palavras chaves:
Reciclável: Que pode ser reciclado
Reciclado: Que se reciclou, chegou no destino correto, foi triado e processado para ser utilizado novamente.
Mas importante destacar: um material passível de reciclagem (reciclável) não necessariamente será reciclado de fato.
Por que isso acontece?
Porque a reciclabilidade de cada material depende de diversos fatores. Vamos entender melhor alguns deles:
- Valor: alguns materiais são caros demais para reciclar. A produção com matérias primas virgens é mais vantajosa do que com recicladas ou o valor do material no mercado da reciclagem é muito baixo – em alguns casos, poucos centavos por tonelada.
- Logística: há materiais que são difíceis de coletar, armazenar e transportar; por serem muito leves, quebradiços, perigosos, volumosos, etc.
- Destinação: muitos materiais que não são destinados para o lugar certo ou da maneira correta (separação inadequada de lixo seco e molhado, etc).
- Tecnologia: quando não existe tecnologia para reciclá-lo ou os materiais não são de interesse para as empresas do setor.
Resíduos que devem ser encaminhados para a coleta seletiva:
Embalagem longa vida (Tetra Pak)
- É reciclável? Sim.
- É de fato reciclado? Depende.
- Por quê? Apesar do papel ser facilmente separado, as embalagens são compostas por outras camadas de filmes plásticos e alumínio, o que dificulta sua reciclagem.
- O que fazer? Separe e envie para a coleta seletiva de seu bairro.
*Através da logística reversa, a empresa Tetra Pak reciclou 35,9% das embalagens longa-vida em 2021. Fonte:Tetra Pak
Vidro
- É reciclável? Sim.
- É de fato reciclado? Depende.
- Por quê? O vidro é um material 100% reciclável – pode ser reutilizado infinitas vezes sem perder sua qualidade. Mas por ser um material muito pesado e quebradiço, a logística para coleta e reciclagem é complicada em algumas regiões do país. Outro problema é o descarte incorreto feito pelo consumidor.
- O que fazer? Separe e envie para a coleta seletiva de seu bairro.
*25,8% foi seu índice de reciclagem em 2018. Fonte: Abividro
Alumínio
- É reciclável? Sim.
- É de fato reciclado? Sim! Quase 100%.
- Por quê? O alumínio pode ser reciclado infinitamente sem perder suas propriedades. Além disso, a “latinha” é fácil de manusear, não ocupa espaço e tem um dos melhores valores de venda do mercado da reciclagem.
- O que fazer? Separe e envie para a coleta seletiva de seu bairro.
*O Brasil é campeão em reciclagem de alumínio: em 2021, 98,7% das latas de alumínio produzidas foram recicladas. Fonte: Reciclalatas
Papel
- É reciclável? Sim.
- É de fato reciclado? Sim.
- O que fazer? Separe e envie para a coleta seletiva do seu bairro. Sempre que possível, procure encaminhar o papel inteiro, sem picotar ou amassar, para facilitar a coleta nas centrais de triagem. E se o papel estiver sujo (como guardanapos, papel toalha, etc.), não envie para a reciclagem.
*66,9% foi o índice de reciclagem para o papel em 2019. Fonte: Cempre
Aço
- É reciclável? Sim.
- É de fato reciclado? Médio.
- O que fazer? Separe e envie para a coleta seletiva do seu bairro.
*47,1% das latas de aço consumidas no Brasil foram recicladas em 2019. Fonte: Cempre
BOPP - Plásticos metalizados
- É reciclável? Sim.
- É de fato reciclado? Não ou tem taxas muito baixas.
- Por quê? Por ser composto por várias camadas de diferentes materiais, sua reciclagem não é tão simples, além de ser pouco viável financeiramente.
- O que fazer? Primeiro, reduza ao máximo seu consumo. O que consumir, separe e envie para a coleta seletiva de seu bairro.
EPS (Isopor)
- É reciclável? Sim.
- É de fato reciclado? Muito pouco.
- Por quê? Por ser um material muito leve, sua coleta e reciclagem são pouco viáveis financeiramente e seu valor comercial para venda é um dos mais baixos do mercado.
- O que fazer? Primeiro, reduza ao máximo seu consumo, principalmente no delivery e nas lanchonetes. O que consumir, separe e envie para a coleta seletiva do seu bairro.
*Esse material é cada vez mais usado devido ao seu baixo preço, sem levar em consideração o custo ambiental do descarte incorreto – muitas vezes em vias públicas.
Plásticos "biodegradáveis"
- É reciclável? Depende.
- É de fato reciclado? Muito pouco.
- Por quê? O termo biodegradável muitas vezes é empregado erroneamente – como greenwashing – e mistura conceitos de matéria prima com degradabilidade. Existem tecnologias de “biodegradação” que impossibilitam a reciclagem, por acelerarem a degradação do plástico, por exemplo, reduzindo a qualidade da matéria prima.
- O que fazer? Informe-se com o fornecedor sobre o descarte correto. Busque por produtos “compostáveis” ao invés de biodegradáveis.
*Nem tudo que é biodegradável se decompõe como deveria. Muitos dos plásticos ditos biodegradáveis precisam de condições de temperatura e ambiente controlado para que isso aconteça e ainda assim, isso leva um tempo considerável, colocando em risco a vida de animais.
Resíduos que requerem cuidados especiais:
Esponja de cozinha (sintética)
- É reciclável? Sim.
- É de fato reciclado? Muito pouco.
- Por quê? É feita de um tipo de plástico de difícil reciclagem e quando descartada já está muito contaminada.
- O que fazer? Você pode destinar este material para o programa de Logística Reversa da TerraCycle que, em parceria com a empresa Scotch-Brite, garante a reciclagem das esponjas sintéticas. Encontre um ponto público de coleta de esponjas aqui.
*A Terracycle também promove programas de logística reversa de outros produtos sem reciclabilidade, como cápsulas de café, instrumentos de escritórios, brinquedos Hasbro, etc.
Pilhas e baterias
- É reciclável? Sim.
- É de fato reciclado? Muito pouco.
- O que fazer? Como são resíduos perigosos, se descartados incorretamente contaminam o meio ambiente. Portanto, encaminhe para pontos de coletas de pilhas e eletrônicos ou retorne diretamente para o fabricante ou loja que você adquiriu. Você pode encontrar o ponto de coleta mais perto de sua casa no Ecycle e Rota da Reciclagem.
Chinelos
- É reciclável? Sim.
- É de fato reciclado? Não.
- O que fazer? Encaminhe para a logística reversa. Busque se há em sua cidade postos de coletas de chinelos. Algumas lojas de marcas como Havaianas ou Ipanema têm. Te ajudamos com alguns pontos de coleta, mas ainda assim, não deixe de pesquisar outros pontos perto de você: Pontos de coleta Lojas Havaianas.
*Para Melissa e Ipanema, pode ser usada toda a rede de lojas da Melissa.
Óleo de cozinha usado
- É reciclável? Sim.
- É de fato reciclado? Sim, se destinado corretamente.
- Por quê? O óleo pode ser transformado em biodiesel e em sabão, por exemplo. Mas, quando descartado incorretamente, contamina mares e rios, além de entupir tubulações de esgoto.
- O que fazer? Vá armazenando seus óleos usados em um recipiente e busque o ponto de coleta ou entrega mais próximo de você, pois muito provavelmente a coleta seletiva de sua cidade não recebe esse tipo de resíduo. Aqui você pode encontrar os pontos de entrega mais perto de você: Soya Recicla | Soya e Liza – Reciclagem de Óleo.
Bitucas de cigarro
- É reciclável? Depende.
- É de fato reciclado? Muito pouco.
- Por quê? A reciclagem desses resíduos é possível, mas complicada e pouco difundida. Existem algumas tecnologias para retirada das milhares de substâncias tóxicas presentes nas bitucas para transformá-las em matéria-prima para indústrias siderúrgicas, cimenteira, de papel, etc. Mas a descontaminação não é tão simples – informe-se sobre a segurança dos materiais feitos com bitucas recicladas.
- O que fazer? Descarte em coletores próprios, como bituqueiras ou em lixeiras comuns (nunca junto com recicláveis). Conheça o trabalho de reciclagem de bitucas da Poiato Recicla.
Roupas
- É reciclável? Depende do tipo de tecido.
- É de fato reciclado? Menos de 1%
- Por quê? Falta de interesse do mercado e tecnologia para separação da mistura complexa de materiais e transformação em fibras de qualidade.
- O que fazer? Se a roupa ainda estiver em condições de uso, doe para alguma instituição ou brechó. Se já estiver muito danificada, pesquise em sua cidade pontos de coleta que recebem roupas velhas e encaminham para reciclagem. Você pode ver no eCycle onde encontrar o ponto de coleta mais perto de sua casa.
Lembre-se: a reciclagem efetiva do que você descarta depende muito da região onde você mora, de como você destina, de quem coleta, do mercado da região e por aí vai.
Sempre pesquise sobre o que de fato é reciclado na região onde você mora. Você pode buscar conhecer uma cooperativa de reciclagem (ou associação de recicladores) perto da sua casa e fazer a destinação do resíduo de sua casa ou condomínio ou utilizar o app Cataki para conversar com catadores e agendar coletas. Também pode questionar a gestão do seu município (como a secretaria do meio ambiente, por exemplo) sobre a destinação dos materiais recicláveis coletados.
Também é importante termos em mente que os processos de reciclagem nem sempre são 100% eficientes, além de consumir energia e água e gerar poluentes. No geral, os dados sobre reciclagem são vagos e nem sempre coesos; e praticamente não temos rastreabilidade dos materiais depois do descarte.
Outro ponto importante é que alguns materiais que seguem para reciclagem apenas viram outros produtos que depois não conseguem ser reciclados – é o chamado downcycling, que apesar de ampliar o ciclo de vida útil do material, continua gerando um resíduo ao final de seu uso.
Logo, o consumo consciente é fundamental. Devemos reduzir a quantidade de coisas que consumimos e descartamos. É importante também cobrar os fabricantes para que se responsabilizem pelos produtos e embalagens que colocam no mercado. Além de dar preferência para empresas com responsabilidade socioambiental, que buscam soluções sustentáveis para minimizar seu impacto negativo.
O descarte é reflexo de tudo que consumimos. Cada compra é um voto: faça valer o seu poder do consumidor!