Editorial

Sea Shepherd espalha compaixão pelas vítimas da matança no dia de São Olaf

Comentário por Deborah Bassett, tripulante voluntária da Sea Shepherd, Operação Ilhas Ferozes

Tripulante Deb Bassett ao lado da nossa van "Pare o Massacre". Foto: Georgie Dickson

Tripulante Deb Bassett ao lado da nossa van "Pare o Massacre". Foto: Georgie Dickson

No dia 29 de julho, os tripulantes terrestres da Operação Ilhas Ferozes da Sea Shepherd, compostos por Stephane Gili da França, Georgie Dicks da Austrália, e eu (americana), rodamos pelas ruas de Tórshavn, capital das Ilhas Faroé, em nossa van “Pare o Massacre”, decorada de forma única. Aproveitando a oportunidade de participar da maior festa cultural do país, que ocorre todos os anos, no Dia de São Olaf, nós dirigimos o nosso carro da compaixão, adornado com imagens horripilantes, capturadas por Peter Hammarstedt durante um massacre de baleias-piloto em 2010, no coração do local do desfile, onde gritos estridentes das vítimas inocentes podiam ser ouvidos no ano passado. A matança de baleias, algo ultrapassado, desnecessário, e um verdadeiro desperdício, por serem as baleias-piloto altamente tóxicas, chamado pelos habitantes locais como “grindadráp” ou simplesmente “grind”, continua a ser pateticamente justificado como “tradição cultural” no arquipélago de 18 ilhas, situado a noroeste da Escócia, entre Noruega e Islândia. Nossa equipe concordou que era, portanto, apropriado honrar as vidas das baleias-piloto mortas durante as festividades anuais. Afinal de contas, a evolução muitas vezes exige provocação.

Moradores das Ilhas Faroé vestidos para o dia São Olaf. Foto: Deborah Bassett

Moradores das Ilhas Faroé vestidos para o dia São Olaf. Foto: Deborah Bassett

A procissão do edifício do parlamento para a catedral, liderada por membros do governo, do clero, e conduzida por funcionários públicos, orgulhosamente vestidos em trajes nórdicos tradicionais, forneceu-nos uma oportunidade importante para expor a tradição cruel e terrível para as comunidades locais das Ilhas Faroé, bem como para muitos turistas que visitam a cadeia de ilhas isoladas a cada ano. Enquanto a informação sobre o abate para os visitantes internacionais foi de extremo choque, descrença e indignação, a maioria dos moradores locais começou a brincar, com a falta de qualquer demonstração de emoção. Várias famílias locais paravam para que seus filhos fossem fotografados na frente das imagens de carcaças de baleias profanadas. Evidentemente, há muito pouca relação entre a complexidade social, incluindo os laços familiares muito fortes, compartilhados entre baleias-piloto, e às famílias humanas aqui nas Ilhas Faroe.

Tripulante Stephane educa moradores sobre o massacre. Foto: Deborah Bassett

Tripulante Stephane educa moradores sobre o massacre. Foto: Deborah Bassett

O prefeito passou pela nossa exibição pública, e um grande grupo de espectadores, incluindo os membros da imprensa local e a equipe de filmagem do Animal Planet, que imediatamente ligou para o chefe de polícia, que nos obrigou a desocupar o local. Para as pessoas que possuem tais supostos orgulho cultural em torno do banho de sangue anual, parece que a exposição na mídia ainda prova ser uma das mais fortes ameaças aqui, e assim continuamos a nossa arma de escolha.

Dias antes, Stephane dirigiu a van “Pare o Massacre” de Paris para Copenhagen, e em seguida via balsa local para as Ilhas Faroé, onde foi recebida ao chegar por agentes da alfândega, que confiscaram sete dos oito dispositivos acústicos. O mais provável é que tenham sido avisados por informantes locais, e Stephane foi capaz de esconder um dos dispositivos acústicos em seus pertences pessoais, que os navios, desde então, têm implantado com sucesso para impedir as baleias-piloto de entrar nas baías, locais onde elas encontrariam a morte certa e brutal.
Van "Pare o Massacre" da Sea Shepherd. Foto: Deborah Bassett

Van "Pare o Massacre" da Sea Shepherd. Foto: Deborah Bassett

Nas primeiras horas antes da festa começar, Stephane secretamente aplicou os adesivos com as imagens na van em um local escondido, e rapidamente iniciamos a missão arriscada. Estávamos preparados para as reações potencialmente violentas, como as da maioria do povo das Ilhas Faroé que encontramos nas últimas semanas aqui, avidamente apoiando o genocídio de cetáceos e não tiveram escrúpulos para nos deixar claro que a Sea Shepherd não é bem-vinda por estas bandas. No entanto, além do olhar ocasional ou de uma observação raivosa, houve pouco confronto. Nós conseguimos “chover em seu desfile”, o que serviu como um gesto simbólico de nossa solidariedade com as baleias-piloto. Passamos o resto do dia conversando com moradores e turistas para sensibilizar o público sobre o assunto, e mostrar a nossa oposição direta a essa atrocidade vergonhosa e sem sentido.

Nossa tripulação terrestre da Operação Ilhas Ferozes, liderada pela presidente da Sea Shepherd França, Lamya Essemlali, permanece ativa em solo, continuamente patrulhando as baías de caça e trabalhando em conjunto com as tripulações a bordo do Steve Irwin e do Brigitte Bardot. De acordo com Essemlali, “desde que estamos lidando com uma paisagem geográfica única aqui nas Ilhas Faroé, é fundamental ter olhos e ouvidos em terra durante esta campanha. Este é um esforço de todos, e a tripulação terrestre vem trabalhando diligentemente para proporcionar informações para os navios. Se um grupo de baleias-piloto entrar nestas águas, nós estaremos lá antes dos baleeiros, a fim de proteger nossos clientes cetáceos indefesos”.
 
Traduzido por Raquel Soldera, voluntária do ISSB