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Relatório da Comissão Internacional da Baleia

Do Capitão Paul Watson

Paul Watson e amigos da Sea Shepherd jogam dinheiro ao ar simbolizando o suborno do Japão às nações da CBI. Foto: Simon Ager

Paul Watson e amigos da Sea Shepherd jogam dinheiro ao ar simbolizando o suborno do Japão às nações da CIB. Foto: Simon Ager

A embarcação de interceptação e patrulha Brigitte Bardot, da Sea Shepherd Conservation Society, chegou ao porto de Saint Helier, na ilha de Jersey, que fica no arquipélago britânico das Ilhas Channel, em 9 de julho de 2011. Eu fui para lá saindo de Saint-Malo, na França, via Guernsey, e daí para Jersey, para me juntar à tripulação, e não cheguei sozinho. A ilha se encheu de amigos da Sea Shepherd do Reino Unido, França, Países Baixos, Austrália, Nova Zelândia, do Brasil e dos Estados Unidos.

Descobrimos bem rápido que qualquer um que estivesse vestindo as cores da Sea Shepherd era barrado de entrar no Hotel de France, onde a reunião anual da Comissão Internacional da Baleia (CIB) está acontecendo. A segurança do hotel tinha sido avisada – a tripulação Sea Shepherd é pirata, e seu acesso deve ser negado!

Apesar disso, a delegação japonesa não jogou com a sorte. Eles contrataram guarda-costas e foram transportados pelo local por uma empresa de segurança, em SUVs pretos com janelas de insufilme, parece até que somos maus!

A ilha de Jersey, famosa por suas vacas e batatas, é a sede da 63ª reunião anual da Comissão Internacional da Baleia deste ano. Jersey é uma ilha linda, com um povo amigável, um local bastante adequado para a reunião deste ano, onde a Grã-Bretanha deixou claro que a corrupção no interior da CIB precisa ser exposta e resolvida. Uma das mudanças propostas pela Grã-Bretanha é de que se acabe com a prática de pequenas nações que aparecem e pagam a anuidade da CIB em dinheiro (encaminhado a eles pela delegação japonesa em troca de seu voto a favor dos baleeiros).

A proposta britânica foi feita, originalmente, por 23 membros da União Europeia, só para ser vetada pela Dinamarca e, assim, não poder ser apresentada como uma iniciativa da União Europeia. Quando o assunto é matar baleias, a Dinamarca é o único lugar onde o cheiro podre de baleias mortas continua a azedar a consciência da Europa. A Dinamarca continua a apoiar e encorajar as propinas e a corrupção no interior da Comissão Internacional da Baleia, junto com seus parceiros de procedimentos não éticos, nomeadamente, o Japão, a Islândia e a Noruega!

Outro acontecimento surpreendente e desconcertante na CIB foi o comportamento vergonhoso de Monica Medina, a comissária para baleias dos EUA, a primeira representante dos EUA a trair as baleias desde que a implementação da moratória de caça às baleias foi imposta em 1987. Apesar das promessas do presidente Barack Obama em contrário, sua administração tem estado em discussões com o Japão no sentido de legalizar a caça de baleias. Medina chegou a prometer ao Japão que o governo dos EUA iria retirar o estado de organização sem fins lucrativos, e isenção de impostos, da Sea Shepherd, a pedido do Japão. Ela obviamente ignorava o fato de que é ilegal para o governo dos EUA a utilização do Imposto de Renda como uma arma contra uma organização sem fins lucrativos americana, por pedido de nação estrangeira.

Se o Wikileaks não tivesse liberado os documentos contendo esses fatos para a mídia, no ano passado, nós provavelmente nunca teríamos conhecimento de todo esse tráfico de corredores. Devido à liberação dessa informação, nós também descobrimos, ano passado, que os EUA e a Nova Zelândia (com apoio de organizações como o Greenpeace) tentaram agenciar um compromisso que legalizaria a caça de baleias no Santuário de Baleias do Oceano do Sul, em troca de uma redução na quota de matança. A Sea Shepherd já reduziu a quota de matança pela metade, no ano passado, em quase 85%, mas essa conquista foi ignorada. Felizmente, graças aos EUA, às nações latino-americanas e à Austrália, o acordo de compromisso foi derrubado, envergonhando os EUA, que tinham prometido que iriam desistir da proposta de compromisso, embora pareçam estar tentando introduzi-la sob outro nome e descrição, em outra proposta conjunta entre Nova Zelândia e EUA.

O povo da Nova Zelândia está, em geral, descontente com a entrega das baleias por seu governo, e parece que os políticos no poder em Auckland são mais leais a Toquio do que a Aotearoa.

O <i>Brigitte Bardot</i> ancorado em Jersey. Foto: Dan Marsh

O Brigitte Bardot ancorado em Jersey. Foto: Dan Marsh

Uma coisa é certa: os EUA abandonaram seu comprometimento de longo prazo com a defesa e proteção das grandes baleias para poder agradar o governo japonês. O presidente George H. W. Bush nos deu o Santuário Marinho Havaiano e o presidente Barack Obama nos deu uma traição. Não é necessário dizer, não vou votar no Obama de novo. Eu tinha grandes esperanças em 2008, com essa nova administração, mas todas as esperanças em Obama foram abandonadas ao nos prepararmos para entrar no ano eleitoral de 2012.

Outro desenvolvimento interessante foi o fato de que muitas das nações fantoche dos japoneses não pagaram suas anuidades da CIB este ano, primeiramente porque o Japão tem tido um monte de problemas em sua recuperação da tripla urucubaca de terremoto, tsunami e derretimento de reator nuclear. Isso deixou alguns de seus partidários bajuladores chegarem ao evento sem sua anuidade em dia. E a falta de dinheiro significa falta de voto, de modo que o Japão, a Noruega, a Islândia e a Dinamarca terão sua postura pró matança severamente enfraquecida com a diminuição do número de nações oportunistas votantes.

O Japão chega a esta reunião esperando negociar a simpatia mundial por seus apuros em troca da permissão de matar mais baleias e vão colocar, mais uma vez, sua proposta na pauta da CIB de que os EUA, a Austrália e os Países Baixos proscrevam a Sea Shepherd em seus territórios, arrancando nossos registros e bandeiras.

Paul Watson e voluntário da Sea Shepherd protestam do lado de fora da reunião da CBI. Foto: Simon Ager

Paul Watson e voluntário da Sea Shepherd protestam do lado de fora da reunião da CIB. Foto: Simon Ager

Hoje cedo, enviei uma carta ao Dr. Simon Brockington, secretário da Comissão Internacional da Baleia, requisitando permissão para a Sea Shepherd assistir à reunião da CIB, para que possamos, nós mesmos, nos defender das acusações japonesas. Mas é muito provável que não tenhamos essa permissão, e a Sea Shepherd continuará a ser a única organização banida de entrar.

Acho que devemos ter orgulho desse fato. Não há outra organização que salve mais baleias do que a Sea Shepherd. Se o preço por nossas intervenções agressivas e altamente efetivas é o de ser barrado de assistir a reuniões chatas e improdutivas da CIB – então, que seja. Entretanto, sem nossa participação, as propostas do Japão para a CIB, de condenar a Sea Shepherd, terminam por ser uma “corte canguru”, onde é negado a nós, os acusados, a oportunidade de nos defender das alegações dos assassinos de baleias.

Contudo, a primeira razão da Sea Shepherd estar em Jersey é para ver se o Japão tem a intenção de voltar ao Oceano do Sul em dezembro, para retomar seu massacre ilegal de baleias. Se for o caso, a Sea Shepherd também retornará e, mais uma vez, interceptará e bloqueará suas operações. Se retornarem, lançaremos a Operação Vento Divino, e nossas embarcações Bob Barker, Steve Irwin e Brigitte Bardot, em breve, retornarão aos mares tempestuosos do Santuário de Baleias do Oceano do Sul para fazer o que fazemos melhor – defender as baleias!

Carta da Sea Shepherd para o Secretário da Comissão Internacional da Baleia

10 de julho de 2011

Para: Dr. Simon Brockington
Secretário da International Whaling Commission

De: Captain Paul Watson
Fundador e Presidente
Sea Shepherd Conservation Society

Caro Dr. Brockington,

Em nome do Quadro de Diretores, do Quadro de Conselheiros, da tripulação e dos oficiais dos navios da Sea Shepherd, nossa equipe e nossos membros internacionais, eu gostaria de pedir permissão para que um observador da Sea Shepherd assista à reunião da Comissão Internacional da Baleia em Jersey.

A  Sea Shepherd Conservation Society tem sido banida de participar das reuniões da CIB, enquanto organização não-governamental por 24 anos, desde 1987.

Respeitosamente, afirmo que continuar a proibir a Sea Shepherd Conservation Society o status de observadora é injusto, considerando que há propostas apresentadas pelo Japão que dizem respeito à nossa organização e que a Sea Shepherd Conservation Society não pode, nem tem podido, apresentar sua documentação e sua posição para responder às acusações dos baleeiros japoneses.

A delegação japonesa incluiu a Sea Shepherd Conservation Society intencionalmente na pauta. A delegação japonesa está fazendo lobby com delegações de outras nações para que ocorram ações contra a Sea Shepherd. Não deveríamos ter permissão para apresentar os fatos, as evidências e a documentação para defesa de nossa posição em resposta a falsas alegações?

As embarcações da Sea Shepherd, os oficiais e a tripulação engajaram-se em intervenções agressivas não-violentas contra atividades baleeiras ilegais dos japoneses. Entretanto, nenhuma de nossas ações causou danos corporais a qualquer pessoa, tampouco fomos indiciados por qualquer ato criminoso em relação às nossas atividades. Antes de sermos condenados pela CIB por atividades que não causaram danos e não estão fora da lei, deveríamos ter a oportunidade de que um de nossos representantes pudesse se expressar em nosso favor.

A Sea Shepherd Conservation Society é a ONG mais diretamente envolvida contra a caça ilegal de baleias por parte dos japoneses no Santuário de Baleias do Oceano do Sul. Não há disputa quanto ao fato de que tivemos considerável impacto nas operações baleeiras dos japoneses e, deste modo, que estamos intimamente envolvidos nos esforços de conservação das baleias do Oceano do Sul.

A Sea Shepherd Conservation Society não é uma organização de protesto, portanto, nosso envolvimento em relação à reunião da CIB é estritamente enquanto observadores. Nossa organização nunca interrompeu qualquer reunião da CIB, nem causou intencionalmente nenhum distúrbio em qualquer reunião da CIB desde que participamos oficialmente em 1980, e desde que, oficialmente, nos foi proibida a participação, desde 1987. O ativismo da Sea Shepherd se restringe a intervenções em alto-mar contra práticas ilegais de baleismo, de acordo com os princípios da Carta das Nações Unidas para a Natureza.

Gostaríamos de ter a oportunidade de responder às perguntas de delegações em resposta às acusações japonesas, e ter a oportunidade de apresentar evidências que refutam alegações japonesas de que a Sea Shepherd seja uma ameaça à segurança em alto-mar. Também gostaríamos de ter a oportunidade de apresentar evidências documentais de que os japoneses violam os regulamentos da Comissão Internacional da Baleia no Santuiário de Baleias do Oceano do Sul.

Temos consciência de que os interesses baleeiros japoneses, islandeses e noruegueses deixam claro que a presença da Sea Shepherd não é bem-vinda na CIB. Gostaria, entretanto, de, respeitosamente, afirmar que eles têm interesses específicos em fazê-lo, primeiramente pelo fato de que algumas de suas atividades são claramente suspeitas, e que nós estamos em posição de testemunhar isto. Deste modo, nosso testemunho apresenta potencial embaraço para tais interesses.

A Sea Shepherd Conservation Society alcança uma audiência de milhões de pessoas por todo o mundo com nosso programa de televisão, o Whale Wars. Estamos muito envolvidos nos esforços de preservação das baleias e acreditamos que nossas visões seriam um benefício aos delegados que queiram compreender o conflito entre baleismo e as questões de conservação, especialmente no Santuário de Baleias do Oceano do Sul.

Sendo assim, senhor Secretário, gostaria de oficialmente requerer que a Sea Shepherd Conservation Society tenha permissão de voltar a participar enquanto ONG observadora da Comissão Internacional da Baleia.

Muito Sinceramente,
Capitão Paul Watson
Fundador e Presidente (1977-2011)
Sea Shepherd Conservation Society

Traduzido por Carlinhos Puig, voluntário do ISSB.