Editorial

Operação Focas do Deserto: direto da linha de frente da guerra

Comentário pelo CEO da Sea Shepherd, Steve Roest

Laurens de Groot e Steve Roest

Laurens de Groot e Steve Roest

Durante vários meses, Paul Watson, Laurens de Groot e eu planejamos uma operação secreta para expor a matança de focas em Cape Cross, na Namíbia, para o resto do mundo.

Esperávamos que a missão fosse difícil e perigosa, mas não tínhamos ideia da verdadeira escala de corrupção que protege esta indústria horrenda, e que acabaríamos correndo para a fronteira, gratos por não termos sido presos sob a acusação ridícula de espionagem, que foi criada em torno da notícia de que nós violamos a segurança nacional da Namíbia.

A equipe que reunimos para esta missão foi composta por funcionários e voluntários da Sea Shepherd de todo o mundo: Laurens (Holanda) e eu (Inglaterra) lideramos a missão, fantasticamente apoiada por australianos, americanos, sul-africanos e outros da Alemanha, Israel e até da Namíbia. Também recebemos o apoio de Pat Dickens, coordenador da Sea Shepherd África do Sul.

No primeiro dia, quando cheguei na Namíbia, tive apenas alguns minutos para me preparar para sair em um reconhecimento noturno, enquanto Laurens e o resto da equipe, que já estavam em terra por alguns dias, estavam ansiosos para continuar com as coisas, assim como a tripulação de mídia, que iria filmar a missão para um projeto de televisão intitulado Seal Wars. Ambos os times estavam ansiosos para testar os equipamentos – especialmente o equipamento de visão noturna.

Preparação para uma tocaia na praia à noite

Preparação para uma tocaia na praia à noite

Durante o caminho para fora da cidade e longe da nossa localização supostamente secreta, passamos ​​por carros de polícia que patrulham as áreas costeiras (a polícia acabaria sendo nossa companhia constante ao longo das próximas semanas). Estávamos apenas algumas horas em nossos testes quando recebemos um telefonema de nossa base – havíamos sido roubados.

Ao voltarmos para a base, imediatamente vimos quão sério era tudo isso. A casa tinha sido arrombada por assaltantes armados, que perseguiram uma de nossas tripulantes na rua, enquanto os nossos computadores, câmeras, alguns passaportes, os caros equipamentos de visão noturna e equipamentos de rádio, dinheiro, e, estranhamente, quase todos os nossos discos rígidos, haviam desaparecido.

Nosso especialista de segurança da Namíbia imediatamente partiu para buscar nossos equipamentos roubados. Então as coisas ficaram muito estranhas – a polícia apareceu com alguns dos nossos equipamentos roubados, mas nenhum dos discos rígidos, e apenas alguns dos equipamentos de câmera. Até hoje não sabemos se a polícia organizou o roubo ou apenas teve sorte – alegando que eles “rastrearam as pegadas” dos assaltantes por uma estrada de asfalto, pelas nossas sacolas descartadas, com alguns dos nossos equipamentos deixados dentro.

Esta foi a primeira noite do que viria a se tornar a mais estranha e, possivelmente, a mais perigosa missão da Sea Shepherd, até então jamais realizada. No mês seguinte, nós tivemos que mudar nossa localização pelo menos meia dúzia de vezes, porque estávamos claramente sob vigilância onde quer que fôssemos. Nossa missão era em camadas múltiplas, o que significou uma série de riscos em torno das tarefas, nas quais poderíamos ser descobertos.

Barreira policial perto de Cape Town, na Reserva de Focas

Barreira policial perto de Cape Town, na Reserva de Focas

Queríamos filmar a matança de focas com câmeras remotas, queríamos acompanhar o processo de abate das focas, o processamento na vergonhosa fábrica em Henties Bay, queríamos expor a corrupção e a venda ilegal de produtos derivados das focas, que são protegidas pela Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (CITES), e queríamos saber quem são os principais intervenientes neste negócio desprezível. Não tínhamos idéia naquele momento de que a corrupção vinha dos salões do governo, e que a Marinha da Namíbia, militares, policiais, caçadores, e seguranças particulares seriam usados contra o nosso pequeno grupo de ativistas, fazendo tudo o que podiam para manter-nos longe de descobrir a verdade.

O que viria a seguir incluía extorsões por caçadores raivosos em Henties Bay, perseguições dramáticas a pé pelo deserto à noite, filmagens secretas, perseguições de carros, e navios de guerra da Marinha implantados para proteger a matança de focas. Cheguei em casa hoje, e enquanto escrevo este relato, eu ainda não consigo acreditar que tudo isso aconteceu.

Traduzido por Raquel Soldera, voluntária do ISSB.