Notícias

Uma face triste dos parques marinhos

Por Guilherme Ferreira – Comunicação ISSB

Quando assistimos golfinhos, baleias e focas, brincando tranquilamente nas piscinas dos parques marinhos, espalhados pelo mundo, temos a nítida impressão de que eles estão em paz, bem alimentados, cuidados e felizes. Os golfinhos, mais especificamente, parecem sorrir ao brincar com bolas, argolas e peixes jogados por seus tratadores. Infelizmente a realidade é outra. O “sorriso” destes cetáceos esconde um olhar triste e sofrido, de um animal pessimamente alimentado (muitas vezes sua ração é alterada com medicamentos, antidepressivos e antibióticos), estressado e subjulgado a fazer estripulias, para alegrar uma horda de turistas ávidos por diversão, em troca de míseros peixes como recompensa.

Durante o último PADI Festival 2013, maior evento de mergulho da América Latina, realizado em São Paulo (SP), o ativista ambiental e voluntário do Instituto Sea Shepherd Brasil (ISSB) e da Sea Shepherd Conservation Society (SSCS), Guilherme Pirá, expôs de forma direta esta situação lamentável. Pirá, que trabalha na ONG desde 2011, fez parte da “Operação Paciência Infinita”, que visa defender e preservar os golfinhos na cidade de Taiji, no Japão, local onde milhares de golfinhos são mortos e capturados. No ano passado, Pirá passou cinco meses, na cidade japonesa. O local se tornou bastante conhecido depois do documentário “The Cove”, que expõe a matança de cetáceos pela comunidade local. Esta produção recebeu o Oscar de melhor documentário, em 2010.

Guiga Pirá. Foto: Carlos Crow

“O que vemos nos parques marinhos não condiz com a realidade. Os animais estão sofrendo. Sua captura é brutal e sua realidade, nestes locais de entretenimento, é torturante. Seu calvário começa na sua apreensão. Diversos barcos pesqueiros encurralam bandos inteiros de golfinhos em uma enseada denominada Hatariji Bay, também conhecida como “The Cove”, onde são mortos e capturados. Aqueles que são mortos servirão para serem consumidos como alimento, apesar de sua carne não ser popular no Japão. Os que são capturados irão para os parques marinhos”, denúncia Pirá.

Os colch›ões de espuma n‹ão sã‹o para o conforto dos golfinhos, são para absorver o sangue que se espalha pelo barco. Foto: Sea Shepherd/ Cove Guardians

Os próprios tratadores, muitos deles biólogos marinhos, pessoas que deveriam proteger estas espécies, mergulham ao lado dos barcos pesqueiros japoneses para selecionarem os animais mais fortes e jovens para serem adestrados. “Estes “alegres” tratadores, sorridentes nas suas apresentações, são os mesmos que mergulham em um mar de sangue para realizarem a triagem dos animais que serão levados aos parques. Durante minha estadia em Taiji, pude ficar cara a cara com estes elementos. A vergonha estampada em suas faces é visível. Porém os interesses econômicos, que esta atividade gera, são mais forte que suas consciências”, revela Pirá.

Cada golfinho capturado, no mercado da “diversão marinha”, pode ultrapassar 200 mil dólares.

Alimenta‹ção pobre. Golfinhos caçam, não precisam receber comida. Foto: Sea Shepherd/ Cove Guardians

Um negócio lucrativo, que envolve grandes empresas e, até mesmo, a máfia japonesa. “Em alguns casos estes animais morrem durante o translado e o manejo até as piscinas de treinamento. Morrem de fome, ressecados (sua pele é sensível e precisa ser umedecida constantemente), feridos ou por estresse”.

Golfinho sendo transportado por um guindaste. Foto: Sea Shepherd/ Cove Guardians

Infelizmente o governo japonês acoberta esta ação. “Durante minha estadia, em Taiji, eu e meus companheiros da SSCS fomos alvo de perseguições, truculência e ameaças de morte. Até mesmo uma delegacia, especial para ativistas, foi montada na cidade. Nosso principal objetivo é atrapalhar este negócio, sempre de forma pacifica e responsável. Jamais usamos violência ou força física para impedirmos esta caça. Nossos métodos visam tornar este negócio financeiramente inviável para esta indústria da “diversão marinha”. Se impedirmos que as cotas de caça e captura sejam atingidas, faremos que o lucro seja reduzido. Talvez quando “eles” sentirem no bolso, tenham um pouco de sensibilidade e parem com esta atividade”, esclarece Pirá.

Guilherme Pirá. Foto: Carlos Crow

Outra forma de tentarmos impedir esta prática é pressionando as embaixadas e consulados do Japão, no mundo inteiro. “Se cada pessoa, sensibilizada por esta situação, enviar um e-mail ou uma carta para as embaixadas e consulados do Japão, faremos que nossa voz seja escutada. Essa pressão gerará resultado. As próprias autoridades japonesas afirmam que somente uma ação global poderá cessar este pratica sanguinária”, finaliza Pirá.