São Paulo, 19 de setembro de 2024 – A Sea Shepherd Brasil, em parceria com o Instituto Oceanográfico da USP e patrocinada pela Odontoprev, apresenta os resultados iniciais da Expedição Ondas Limpas, o maior estudo já realizado sobre o perfil dos resíduos marinhos no Brasil. Após 16 meses de expedição, cobrindo mais de 7.000 km da costa e 306 praias, o estudo evidenciou a onipresença do plástico ao longo de todo o litoral do país.
A expedição percorreu 201 municípios brasileiros, do Chuí ao Oiapoque, e analisou uma área equivalente a 22 campos de futebol para mapear os resíduos marinhos. Os resultados mostraram que 100% das praias do Brasil contêm resíduos plásticos, e microplásticos foram encontrados em 97% delas. Do total de resíduos, 91% são plásticos, sendo 61% itens descartáveis, como tampas de garrafa. Entre os macrorresíduos, o maior volume foi de bitucas de cigarro.
Além de trazer à tona o estado crítico da poluição marinha no país, o estudo também revelou que as praias mais isoladas e protegidas, como áreas de proteção integral, estão entre as mais afetadas por resíduos plásticos de uso único, expondo um paradoxo entre as zonas de conservação e a presença massiva de poluição.
Os dados coletados vão além dos números chocantes: oferecem um panorama profundo sobre os tipos de plásticos e resíduos, destacando a importância de políticas públicas mais robustas e ações governamentais urgentes para enfrentar a crise da poluição.
“Pretendemos que os resultados do projeto não somente choquem, mas provoquem a ação, trazendo à tona a necessidade de políticas públicas e de uma mudança na cultura de consumo de plástico no Brasil.”, afirma Nathalie Gil, presidente da Sea Shepherd Brasil.
A expedição seguiu uma metodologia científica rigorosa, seguindo o protocolo da UNEP para a coleta de dados, com amostras analisadas em laboratório para identificar a origem dos microplásticos. Um relatório resumido, com diagnósticos e propostas de soluções, já está disponível, e o lançamento de um artigo científico mais detalhado está previsto.
“Esta parceria tem a importante missão de realizar uma leitura abrangente do perfil dos resíduos na costa do Brasil como nunca antes feita no mundo”, afirma Alexander Turra, Professor do Instituto Oceanográfico da USP e Coordenador da Cátedra Unesco para a Sustentabilidade do Oceano.
O estudo mapeou as regiões mais e menos afetadas pela poluição, destacando áreas críticas. Cidades do sul e sudeste estão entre as mais impactadas. Em São Vicente, por exemplo, foram encontrados 10 resíduos por metro quadrado nas praias. Em Mongaguá, o cenário é ainda mais alarmante, com 83 fragmentos de microplástico por metro quadrado. A praia do Pântano do Sul, em Florianópolis, apresentou os maiores níveis de contaminação do país. Esses dados estão disponíveis em uma plataforma interativa digital, onde o público pode explorar as praias, cidades e estados mais e menos poluídos, categorizados por tipo de resíduo, facilitando a análise e visualização dos dados.
Embora o estudo apresente um ranking de praias e cidades mais poluídas, é importante considerar com cautela os resultados dessas análises mais focais, devido à menor representatividade do tamanho das amostras em algumas áreas. Ainda assim, esses dados fornecem uma fotografia indicativa relevante para gestores locais, ajudando a orientar ações de limpeza e preservação.
Ao longo das 306 praias analisadas, foram encontrados 16 mil fragmentos de microplástico e 72 mil macrorresíduos. Em média, as praias brasileiras contêm 4,5 microplásticos por metro quadrado e 0,5 macrorresíduo por metro quadrado, ou seja, 1 resíduo a cada 2 metros quadrados. Para garantir uma análise mais precisa e comparável entre as diferentes regiões, utilizamos uma abordagem que considera a densidade de resíduos por unidade de área, permitindo uma comparação mais justa entre as áreas mais e menos poluídas.
A Sea Shepherd Brasil também enfatiza a importância de pressionar por legislações que abordem a poluição plástica, como o PL 2524/2022, que trata da gestão de plásticos, e o PL 1874/2022, voltado à economia circular. No âmbito internacional, a organização acompanha as negociações do Tratado Global sobre o Plástico no contexto da ONU.
Renato Costa, da Odontoprev, destaca o papel do setor privado em apoiar causas ambientais: “Acreditamos que as ações ambientais e sociais precisam andar de mãos dadas. Este projeto pode gerar informações valiosas que levarão à adoção de medidas públicas e privadas para preservar o meio ambiente.”
O estudo revela a necessidade urgente de uma gestão de resíduos mais sistêmica no Brasil, abrangendo tanto áreas isoladas e protegidas quanto grandes cidades que, apesar das políticas de gestão de resíduos, ainda enfrentam a persistência de plásticos em suas praias. Os resultados da expedição reforçam a importância de mudanças estruturais no consumo de plásticos e a implementação de políticas públicas eficazes para proteger o oceano e garantir um futuro sustentável para as próximas gerações.
Dados Importantes do Raio-X dos Resíduos na Costa Brasileira:
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306 praias estudadas e 201 municípios brasileiros cobertos
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156.600 m² de área analisada (equivalente a 22 campos de futebol)
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91% dos resíduos são plásticos; 61% plástico de uso único, 22% plásticos de vida longa e 17% apetrechos de pesca
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97% das praias têm microplásticos
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Foram coletados 16 mil fragmentos de microplástico e 72 mil macrorresíduos.
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Em média, 4,5 microplásticos/m² e 0,5 macrorresíduos/m² nas praias brasileiras.
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1 em cada 12 itens são filtros de cigarro.
REGIÕES MAIS AFETADAS:
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Sudeste e Sul lideram em resíduos plásticos maiores e microplásticos.
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Três das cinco praias mais poluídas por macrorresíduos estão no Rio Grande do Norte
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Pântano do Sul (Florianópolis) foi a praia mais poluída, com 17 resíduos e 144 partículas de microplásticos por m²
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São Vicente e Mongaguá, na Baixada Santista (SP) estão entre as cidades mais poluídas.
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Áreas de proteção integral possuem duas vezes mais plástico de uso único, 150% mais apetrechos de pesca e 3x mais resíduos do que áreas sem proteção.
AÇÕES REALIZADAS:
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306 limpezas científicas e 172 mutirões de limpeza.
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32 visitas entidades e educadores focados na proteção ao meio ambiente.
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46 dias de visitação educativa ao ônibus Guardião da Costa.
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Impacto direto em 39 cooperativas e empresas de reciclagem.