Editorial

Requiem para os tubarões da ilha de La Reunion?

Por Lamya Essemlali, Presidente da Sea Shepherd França 

Na Playa Del Carmen (México), tubarões-touro são considerados muito importantes para o turismo e a economia local. Foto: Shane Gross

A Sea Shepherd França reconhece a recente decisão do tribunal que afirma que a prefeitura de La Reunion “tem a obrigação de encontrar uma solução para a questão dos tubarões em La Reunion”. Entre a solução possível, “um abate maciço de tubarões, incluindo os da Reserva Marinha”. Estamos agora aguardando a resposta da prefeitura. Até lá, nós temos que lembrar alguns pontos de uma realidade econômica e do ecossistema, que permanecem inaudíveis entre a confusão ambiente, mas cuja disputa é uma negação da realidade.

Para resolver a crise que atualmente paira sobre a ilha de La Reunion é preciso soluções radicais. A palavra radical vem do latim e significa “voltar às raízes”. Por isso, temos de atacar o problema pela raiz, em vez de apenas abordar os sintomas, que são os acidentes com tubarões.

Até agora, as autoridades só foram capazes de propor soluções “placebo”, combatendo os sintomas. A maioria dos acidentes que têm ocorrido poderiam ter sido evitados. O último, sendo particularmente questionável. Como é possível que um lugar como a baía de St Paul, conhecida por ser perigosa, não foi claramente indicada? Sobretudo no contexto da ilha de La Reunion. Esta é claramente uma falha grave para evitar acidentes.

Essa medida vai levar a um extermínio sistemático de TODOS os tubarões que se aproximam da costa. A ilha de La Reunion é aberta ao oceano, isso significa colocar em ação um plano de extermínio para estes predadores cujas populações mundiais estão diminuindo acentuadamente. Estas campanhas de pesca já ocorrem, supervisionadas pelo Estado, ou em um contexto particular, e que exigem uma enorme profusão de recursos, como navios palangreiros hidráulicos com centenas de anzóis, e é proibida a pesca comercial perto da costa! Também é preciso levar em conta todas as outras espécies que serão capturadas e que irão, sem dúvida, ser muito mais numerosas do que os tubarões mortos. Tem que ser notado que uma opacidade total reina quando se trata deste assunto, além da raia-viola (espécies ameaçadas de extinção e inofensiva) massacrados durante a última campanha, nenhuma informação é tornada pública ou disponível.

Na verdade, a pesca realizada por algumas pessoas (a propósito, quais são os números que estamos falando? 10, 20, 100, 300??) será completamente inútil, e pode criar uma perigosa ilusão de segurança, prejudicando ainda mais a imagem da ilha. Além disso, a Sea Shepherd exige que aqueles que recomendam esta solução, propagando uma psicose, comunique o limiar da morte de tubarões úteis para sua “segurança”. É muito importante que as autoridades ouçam as sábias recomendações dos cientistas, que repetem constantemente que essas campanhas de pesca só tem uma função psicológica. O único efeito é resfriar alguns espíritos superaquecidos, dando-lhes uma resposta imediata. Mas a que preço estas discussões para a paz social têm?

Entregar esses animais à ira popular não só é eticamente problemático, mas acima de tudo, envia uma mensagem preocupante de uma regra de direito: aqueles que gritam mais alto, insultam e difamam ONGs, cientistas e representantes eleitos acabam por ganhar o seu caso ao Estado. É esta a mensagem que as autoridades querem enviar?

Finalmente, será que a ilha de La Reunion vai se tornar uma ilha onde os tubarões, predadores naturais dos oceanos, são exterminados por causa de lazeres náuticos? É esta a imagem que a ilha vai mostrar para o mundo, em um contexto global em que a consciência ambiental está se tornando um padrão cada vez mais importante para os destinos turísticos?

Traduzido por Raquel Soldera, voluntária do Instituto Sea Shepherd Brasil