Editorial

Sete bilhões de macacos arrogantes fora de controle em uma bola de lama acelerada

Comentário do Capitão Paul Watson

Eu estou aqui sentado, no fundo de um dos braços espirais remotos da Via Láctea, nesta pequena bola azul e branca girando, feita de lama, orbitando em volta de uma estrela amarela, e compartilhando essa experiência com uma diversidade de maravilhosos companheiros terráqueos, e outros sete bilhões de macaquinhos bobos como eu.

As últimas estimativas da multidão de cientistas observadores de estrelas é que poderia haver cerca de sessenta bilhões de planetas inabitados, possivelmente, só na nossa galáxia. E, claro, há uma infinidade de possibilidades de vida em evolução em outros lugares. Tantos seres desconhecidos, completamente alheios a nós, espalhados na vastidão do universo. E, claro, somos alheios não só à vida extraterrestre, mas estamos muito mais alheios à vida da maioria dos seres não-humanos em nosso planetóide viajando através do cosmos.

Nos últimos milhares de anos, nós, macacos humanóides, temos feito parte um inferno em detrimento de praticamente todas as outras espécies do planeta. Nós não tratamos muitos deles com respeito e o mínimo de consideração, mesmo os que parecem com a gente, como por exemplo, os chimpanzés e os macacos. Na verdade, nós damos à maioria das outras espécies muito pouca atenção, mesmo quando estamos os comendo ou os usando para trabalhar para nós. Tendemos a dar mais atenção quando estamos matando por prazer ou simplesmente porque não gostamos deles.

Para a maior parte de nós, macacos sem pêlos, ou relativamente calvos de qualquer forma, damos pouca atenção para onde viemos, quem somos, ou para onde estamos indo. Estamos satisfeitos enquanto houver algo para comer e beber, alguma coisa para comprar, outro macaco para copular ou jogar, ou enquanto temos o suficiente de uma variedade de estimulantes e dispositivos de entretenimento e oportunidades de atirar bolas ao redor juntos.

Nós, macacos na bola de lama, a propósito, absolutamente amamos tudo que tenha a ver com uma bola. Nós gostamos de jogar bola, pegar bola, chutar bola, bater bola, ou, melhor ainda, gostamos de assistir a outros macacos atirarem bolas, pegarem bolas, chutarem bolas e baterem bolas. Nada deixa uma espécie de macaco como nós mais animados do que uma bola passando entre dois postes, sendo jogada em algum aro ou atirada com um pau em algum buraco distante no solo. E bater em uma bolinha através da boca aberta de um palhaço em movimento, e passando os moinhos de vento.

Passamos a vida acreditando que nós, macacos, somos o ápice da criação. Na verdade, alguns de nós pensa que existe um grande macaco nervoso e poderoso no céu, que nos criou à sua imagem. Outros acreditam que viemos aqui em um navio no espaço intergaláctico e fomos jogados fora como uma espécie de projeto de realocação extraterrestre. Um grande número de nós, macacos, ainda acreditamos que quando morremos, passamos para algum paraíso exótico criado a partir da imaginação de alguns poetas, onde seremos felizes para sempre, a não ser, claro, que formos macacos maus, a julgar pelos mais poderosos macacos que se consideram mais superiores, o que então dizer que nós vamos passar a eternidade sendo torturados e abusados por macacos míticos feios, por não obedecermos ao macaco gigante Deus no céu.

É tudo um grande mistério, com muitas perguntas e absolutamente nenhuma resposta definitiva. A realidade é que nenhum de nós tem a menor idéia de qual é a realidade disso tudo. Mas poucos de nós querem ouvir que a resposta pode ser que não existe uma resposta, e assim nós fiamos e tecemos fantasias para vender para os fracos e os crédulos, porque sempre foi o melhor mercado.

Macacos, no entanto sempre tiveram talento para se divertir, e sete bilhões de macacos fazendo macaquices sobre esta bola de lama fornecem um fluxo interminável de tragédias divertidas, que muitas vezes me pergunto se existe uma maneira de colocar um fim neste espetáculo de comédia global.

mud_world Atualmente, dois macacos considerados melhores que a maioria dos outros macacos, esta semana se uniram em casamento, em um grande evento, onde milhões de outros macacos de todo o mundo comentaram sobre suas roupas, cabelos, relações e comportamentos.

Enquanto isso, em outros lugares, outros macacos estão batendo uns nos outros, e matando uns aos outros, através de uma interminável discussão sobre quem tem o melhor e mais poderoso macaco deus.

É tudo diversão e jogo de macaco, até a cortina descer sobre este show em breve.

Isso vai acontecer quando nós formos forçados a sobreviver sem a grande coletividade de macacos em nossas costas, em outras palavras, sem aquela droga fedorenta e preta chamada petróleo.

Um mundo sem petróleo! Isso vai ser um filme totalmente novo, e ninguém será capaz de sustentar o mesmo elenco de bilhões de personagens e espectadores.

Mas tem sido divertido ver os macacos evoluírem de savanas e florestas, aprenderem a plantar as sementes, fermentar os grãos, matar animais, matar uns aos outros e entrar em violentas lutas filosóficas sobre cujos macacos de Deus têm o maior “pau”.

A história dos macacos sobre esta bola de lama girando é divertida, principalmente porque todos os macacos são tão sérios sobre a sua auto-importância. Tudo o que fizemos, fazemos e continuamos a fazer é praticar o pequeno negócio de macaco, e que inclui a caça e a coleta de grande quantidade de coisas materiais para que possamos andar mais rápido, comer mais rápido, e divertir-nos melhor, encontrando formas mais eficientes para matar uns aos outros e destruir o planeta mais rápido.

A velha expressão “macaco vê, macaco faz” certamente se aplica a todos nós. Dê-nos uma espada e vamos apunhalar alguém, nos dê uma arma e vamos atirar em algo, nos dê uma plataforma com rodas e nós vamos dirigi-la. Dê-nos um rádio e nós vamos ouvir alguma porcaria que é tocada no ar. Nos dê algum dinheiro e vamos comprar alguma coisa. Dê-nos uma televisão e vamos olhar infinitamente para dentro do tubo, em um esforço para preencher as nossas necessidades de aventura, amor, felicidade e diversão.

É realmente muito engraçado quando você pensa sobre isso. A partir do nada, nos tornamos algo. Quando dois macacos trocam fluidos corporais dão à luz a cada um de nós, que continuamos a passar a vida fazendo o que outros macacos nos dizem que precisamos fazer, quando fazer, como fazer e onde fazer. Infelizmente, eles sempre têm um pouco de falta de informação sobre a razão de por quê fazê-lo, e o motivo fica complicado com um fluxo interminável de opiniões de macacos.

Nossa vida consiste principalmente em encontrar algo interessante para comer, beber, fazer e jogar. Ah, e também à procura de outro macaco ou mais, para trocar fluídos corporais.

E então, algum dia – isso varia, naturalmente, de macaco para macaco – de repente deixamos de existir, o que sempre me leva a pensar cada vez que alguém que eu conheço morre é: sobre o que diabos é tudo isso?

Claro que eu sei que é tudo parte de uma continuidade, mas se todo mundo que já viveu bem antes, cerca de cem anos atrás, está morto e enterrado, parece um pouco sem sentido – como qual é o ponto?

Foi tudo para ter um bom momento, jogar uma bola e trocar fluidos corporais?

Quero dizer, se assim for eu posso entender a necessidade de criar algumas fantasias para lidar com esta existência de morte.

A menos que você possa colocar o dedo sobre a “verdade” de tudo isso.

Uma árvore faz o que uma árvore faz. Um peixe faz o que um peixe faz, humanos, fazemos o que fazemos, cuja maior parte consiste em nos divertir às custas de outras espécies.

Pessoalmente, penso que fomos uma das poucas experiências irracionais da natureza. Algo como vamos ver o que acontece quando damos a esses adoráveis macaquinhos sentados nos galhos das árvores um cérebro grande o suficiente para colocar todos nós em apuros, mas pequeno demais para compreendermos verdadeiramente o que é tudo isso.

E então começamos a dançar como criaturas tolas em torno dessa grande pedra preta, arremessando ossos e vendo onde isso nos trouxe – dançando como criaturas bobas no palco e lançando idéias engraçadas de como realmente somos seres superiores, ao invés de pretensiosos macacos pelados, e lendas divinas que em nossa mente sempre fomos.

E assim, girando, a bola de lama faz o seu caminho em torno de uma galáxia maciça misteriosa, completamente alheia e feliz, que antes de a bola de lama completar uma fração de uma volta completa nós já não existiremos coletivamente.

A bola de lama pode estar aqui e a estrela que orbita ao redor certamente estará lá, e espero que, apenas espero que, alguns dos ancestrais das espécies extremamente diversas que compõem a biosfera desta fascinante vivência coletiva nesta bola de lama ainda estejam aqui e, provavelmente, não faremos falta.

Traduzido por Raquel Soldera, voluntária do ISSB.