Do nada, descobri que o filme e diretor estariam aqui no dia seguinte. Correria para ver como conseguir um convite, já que estavam esgotados. Solução: vamos para a porta do cinema tentar entrar. Bom, deu certo: nenhum evento lota 100%, sempre restam lugares.
Entrando na sala, batí o olho em um rosto que me era familiar pela internet: era ele, Robert Stewart. E não é que ele também me reconheceu? Eu ví o movimento de seus olhos, o que me fez sentir à vontade de me apresentar a ele. E o que o fez me reconhecer não foi o meu rosto, por que eu não tenho meu rosto estampado na internet e não sou nada famosa, na verdade a responsável foi a minha camiseta da Sea Shepherd. Pipocas na mão e uma oferta do próprio Robert para sentar no lugar reservado para ele, que abram-se as cortinas!
O objetivo deste filme, a princípio, era limpar a barra dos tubarões com humanidade, já que Steven Spielberg e outros humanos fizeram o favor de retratá-los como monstros sedentos por sangue humano. Isso lhe parece familiar? Bem, Robert, fotógrafo submarino e também biólogo, sempre cultivou uma grande admiração por estes seres mais antigos do que os dinossauros, e começou a mergulhar com eles desde muito cedo. Percebendo que mostrar fotos ou tentar conscientizar o público através de planfletos não estava dando resultado, ele saiu de um total estado de ignorância quanto a produzir um fillme para o de ganhador de diversos prêmios internacionais.
Foi com a Sea Shepherd que ele saiu para fazer as filmagens, num momento em que a Sea Shepherd havia sido convidada pelo governo da Costa Rica para patrulhar suas águas no navio Ocean Warrior, quando de repente se deu conta de que havia muito mais além de desconstruir a imagem horrenda pré-concebida sobre os tubarões: existe uma enorme indústria de venda de suas barbatanas para alimentar a necessidade de status pessoal em alguns países asiáticos. A “receita” consiste em: corte a barbatana do tubarão, os outros 95% por cento do seu corpo não são importantes, portanto, devolva-o ao oceano para sangrarem até morrer. A barbatana deve ser seca ao sol antes de virar produto de exportação para restaurantes asiáticos que preparam uma sopa sem qualquer gosto ou valor nutritivo pela bagatela de até US$ 400,00 por unidade. É muito chique também servir esta especialidade em casamentos. De repente, o rumo do filme mudou e se fez necessário documentar não o mundo submarino, mas o mundo dos humanos e seu leque de más intenções.
E como rola dinheiro, ou melhor, muito dinheiro, de colaborador do governo na patrulha do mar, a tripulação do Ocean Warrior teve que sair corrida das águas que patrulhava para não ser condenada por tentativa de assassinato por ter mexido com a máfia das barbatanas (sim, podem acreditar).
Mesmo proibido de voltar à Costa Rica, Robert fez seu caminho de volta, sob a ameaça de ser preso ou até ser morto pela máfia (neste momento, cheguei a conclusão de que Robert realmente é um Sea Shepherd) para terminar seu filme. Surpreendemente, a sua volta foi marcada pelos protestos do público contra a indústria das barbatanas, influenciados pela filmagem do Sharkwater.
Nosso amigos tubarões que, sim, podemos chamar de amigos, pois eles nos mantêm vivos, comandando a impecável corrente alimentar e controlando a liberação de dióxido de carbono na atmosfera, hoje se tornaram presa, sendo que está é uma total agressão à perfeição da teia da vida. Por meio do Sharkwater, Robert conseguiu me convencer não só disso, mas também da beleza que existe neste animal que não está invadindo o meu espaço terrestre para me comer ou arrancar minhas pernas. Tem algo muito invertido nesta estória: os oceanos não são meu habitat natural e toda a minha permanência nas águas tem que ser suportada por técnicas de respiração e equipamentos. Isso não é uma boa pista para entender que a invasão e o show de horrores são comandados por nós?
Falando em tubarões sendo meus amigos, isso me faz lembrar uma passagem da Biblia que diz que não há coisa mais bela do que dar a vida pelos seus amigos e que não chama-se amigo aquele que não dá conhecimento do que se pratica. Bom, os tubarões nunca deixaram de mostrar o por que de estarem aqui e o seu comportamento nunca mudou, por mais de 450 milhões de anos. Neste mundo maluco em que vivemos, quem assumiu o papel de senhor foi os homens e os nosso servos tubarões não fazem idéia do que há na mente sórdida de alguns exemplares da raça humana.
Robert, só tenho que dizer muito obrigada. Porém, como é de praxe fazer alguma crítica, só tenho a criticar a falta de participação da Sea Shepherd na divulgação do Sharkwater aqui na Austrália, mas a gente já está arrumando isso. E, finalizando, não gostei de ver a participação do Greenpeace no filme, rsrs, mas tudo bem, faz parte…
Por Karina Caris, Coordenadora de Comunicação, Sea Shepherd Brasil.