Editorial

Golfinhos precisam de mais proteção do que nunca

De Hardy Jones, diretor executivo da BlueVoice

Golfinhos sendo encurralados na enseada.

Golfinhos sendo encurralados na enseada.

Nos últimos cinco anos houve uma tsunami massiva de publicidade sobre a matança de golfinhos no Japão. Em 2003 eu fiz filmes sobre o assunto para a National Geographic Television International e para a PBS. Esses filmes foram vistos por milhões. Whale Wars no Animal Planet e The Cove também no Associated Press e nos cinemas por todo o mundo trouxeram para audiências internacionais a barbárie da matança de golfinhos e baleias. Eu já ouvi dos próprios caçadores de golfinhos que eles ficariam sem trabalho se seus métodos bárbaros fossem divulgados. Divulgar a matança em Iki, Futo, e Taiji se tornou então minha estratégia. Mas a matança continua e ela pode até estar crescendo.

Enquanto o mundo se foca nos eventos em Taiji, outra ameaça letal e traiçoeira aos golfinhos segue amplamente desapercebida, uma que provê uma razão imponente para que os golfinhos e baleias não só deixem de ser caçados mas que recebam mais proteção do que nunca.

Golfinhos estão severamente ameaçados por um número crescente de doenças derivadas da contaminação dos oceanos. Durante o último ano, um número crescente de artigos científicos vem sendo publicados documentando um aumento por todo o mundo na incidência de doenças até agora desconhecidas em golfinhos. Um grupo de pesquisadores e veterinários do Marine Animal Disease Lab, da Universidade da Flórida, descobriram pelo menos cinquenta novos vírus em golfinhos. O aumento exponencial é devido ao corpo dos golfinhos carregar altos níveis de poluentes orgânicos como PCBs, PBDEs, DDT, e outros produtos químicos que suprimem o sistema imune de mamíferos e atrapalha o funcionamento normal das funções endócrinas. Alguns destes produtos químicos são conhecidos por serem mimetizantes de estrogênio que agem feminilizando machos e super-feminilizando fêmeas.

Ainda mais, resistência a antibióticos foi encontrada em golfinhos em diversos locais ao redor do mundo. Obviamente, antibióticos não ocorrem naturalmente. Eles são derivados de pessoas e animais que usam antibióticos e os introduzem no ecossistema através de excreção ou simplesmente ao jogar fora pílulas não utilizadas. Após chegarem às bacias hidrográficas são consumidos pelo plâncton e bio-acumulados pela cadeia trófica se concentrando em predadores como os golfinhos. O que preocupa o Centro para Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês) é o fato que golfinhos resistentes a antibióticos tem o potencial de criar super parasitas que podem retornar ao seres humanos. A transmissão de doenças entre espécies é conhecida como zoonose. AIDS é um exemplo de transmissão zoonótica.

Se o Japão parasse a caça de baleias e golfinhos agora passaria a imagem de que os ambientalistas os forçaram a se render, algo que uma nação insular orgulhosa não pode tolerar. Mas a informação de que doenças tais como a brucelose e vírus como o papilomavírus estão sendo encontrados cada vez mais frequentemente em golfinhos pode, ironicamente, ser o que force o fim da alimentação por carne de golfinho.

Me surpreende que a caça de baleias e golfinhos se mantenha no século 21. Nós sabemos tanto sobre estes animais magníficos. A observação de baleias e golfinhos gera mais de U$2.1 bilhões por ano em todo mundo, muito mais do que a caça de baleias e golfinhos.

À luz de ameaças emergentes aos ecossistemas marinhos, e à baleias e golfinhos em particular, a matança deliberada desses curiosos, inteligentes e conscientes animais é trágica e irá apena acelerar a extirpação de populações inteiras dessas magníficas sentinelas do mar. Mas o que acontece agora com os golfinhos é claramente um arauto do que confronta a humanidade.

Traduzido por Marcelo C. R. Melo, voluntário do ISSB.

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