Editorial

As Ilhas Faroé e o mercúrio na comida marinha

Por Steve Roest, CEO da Sea Shepherd Conservation Society

2A Sea Shepherd recentemente contou com um agente infiltrado nas ilhas Faroé, na Dinamarca, e dias atrás recebemos imagens chocantes de baleias-piloto com seus bebês mortos antes de nascerem, cortados dos corpos de suas mães. Estes mamíferos são mortos durante o que os nativos chamam de “A Trituração”, mas deve ser chamado pelo que realmente é – uma chacina.

As Ilhas Faroé dizem que o Trituração é um direito tradicional e cultural e uma fonte de alimento, mas a questão da contaminação por mercúrio é novamente trazido à tona porque os médicos chefe das Ilhas Faroé, Pál Weihe e Høgni Debes Joensen, anunciaram no final de 2008 que a carne da baleia-piloto e sua gordura contém mercúrio, PCBs e derivados do DDT em demasiado para serem seguras para o consumo humano.

Há muita conversa de ambientalistas sobre o elevado nível de contaminação por mercúrio em certos tipos de peixes e grandes animais marinhos. A indústria da pesca e lobistas pró-pesca nos dizem que este é apenas um alarmismo vegetariano hippie, e que devemos comer todos os peixes que podemos, porque é bom para nós.

Como os diretores da Sea Shepherd são questionados sobre isto com muita frequência, eu pensei que seria uma idéia detalhar algumas informações obtidas e deixá-los decidirem por si mesmos.

Nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA) divulgou o seguinte em 2006: “enlatados importados de atum continham quase dez vezes o nível de mercúrio considerado “baixo” em peixes”. O primeiro relatório da FDA sobre metilmercúrio em peixes apareceu em 1994 e alertou os consumidores de que tubarões, peixe-espada e atum branco continham níveis elevados de mercúrio. No entanto, sob pressão da indústria do atum, que movimenta bilhões de dólares dos Estados Unidos, o atum branco foi retirado do aviso.

Marion Nestle, chefe do departamento de Nutrição, Estudos Alimentares e Saúde Pública da Universidade de Nova York, disse que “todos devem evitar comer muito dos peixes que contém elevadas quantidades de metilmercúrio – especialmente tubarão, peixe-espada e atum… mulheres grávidas e crianças pequenas não devem comer esses peixes nunca“.

Vamos para o Japão.

Ensaios sobre a carne de baleia vendida no Japão revelaram níveis surpreendentes de mercúrio, de acordo com Andy Coghlan, na revista New Scientist, em 2002. “Embora seja conhecido há muito tempo que os animais acumularam metais pesados como o mercúrio em seus tecidos, os níveis descobertos surpreendeu até os especialistas. Duas das 26 amostras de fígado continham mais de 1.970 microgramas de mercúrio por grama de fígado. Esse limite é quase 5.000 vezes o limite estabelecido pelo governo japonês para a contaminação por mercúrio”.

Com estes níveis de contaminação, um homem de 77 kg comendo apenas 0,15 gramas de fígado de baleia excede a ingestão semanal de mercúrio considerada segura pela Organização Mundial de Saúde, diz Tetsuya Endo, Koichi Haraguchi e Masakatsu Sakata, da Universidade de Hokkaido. Eles realizaram uma pesquisa e descobriram que “a intoxicação aguda pode resultar de uma única ingestão”.

A informação acima tem várias fontes, mas eu extraí essa informação do livro de Richard Ellis, “Atum – Amor, Morte e Mercúrio”.

Tubarões, peixe-espada, atum, baleias, golfinhos e outros grandes animais marinhos tendem a viver mais e transportar mais mercúrio do que os peixes pequenos, pois eles acumulam mais mercúrio, já que comem grandes quantidades de pequenos peixes e vida marinha.

Certamente existem especialistas e lobistas da indústria pesqueira que nos dizem que não há nenhum risco. Eu me pergunto quantos desses lobistas permitiriam que mulheres grávidas e crianças em suas famílias comam essas espécies…

Então se o problema é real, muitas vezes me perguntam, por que os governantes dos Estados Unidos, Reino Unido, Japão e qualquer outra nação nos permitem comer peixe contaminado com mercúrio? Porque a pesca comercial é um negócio mundial multi-bilionário, e eles se preocupam com o seu dinheiro – não necessariamente com a sua saúde.

Traduzido por Raquel Rivera Soldera, voluntária do ISSB

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