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Sobre prostituição e peixes

Por José Truda Palazzo Jr.
Autor desconhecido.

Autor desconhecido.

Juntando as notícias sobre o bestial aumento recente do desmatamento na Amazônia e o lobby do “comunista” amante do latifúndio, Aldo Rebenta,tentando emplacar o fim do Código Florestal Brasileiro, com o apoio velado e safado do (des)governo reinante, não é de se estranhar que estejamos entrando 2011 com o mesmo, eterno predomínio dos temas florestais na agenda ambiental brasileira, enquanto o mar continua mais abandonado que filhos de favelados do bolsa-esmola.

Neste clima de só se pensar em florestas, e de ao menos parte das ONGs que lidam com o tema marinho serem dependentes de fundos e de salamaleques oficiais e por isso não meterem a boca no mundo sobre os descalabros que se sucedem nas águas de nossa combalida Banânia, não é de se estranhar, pois, que tenha passado totalmente despercebida a notícia de que o (des)governo dilmento e luLLesco está por chancelar a prostituição definitiva dos recursos marinhos brasileiros para as grandes máfias internacionais da pesca industrial, através da cessão pura e simples dos direitos de pesca para a maior empresa atuneira do Japão, a instalar-se, com beneplácito e jabás oficiais, no Rio Grande do Norte . Pelas notícias da negociata, nada menos do que 16 barcos japoneses serão autorizados a agregar sua força bruta ao estupro, à mineração desenfreada da biodiversidade marinha brasileira, consolidando a visão soviética da corja mandante de que a Natureza é para ser consumida imediata e completamente para atender à falácia eleitoreira da “redução da pobreza”. Ao prostituir o mar brasileiro, certamente estaremos evitando que os empresários pesqueiros japoneses empobreçam, coitadinhos. Tampouco ficarão pobres seus lacaios nordestinos e brasilienses.

Quem sobreviver nesse país acuado pelo produtivismo soviético, e apequenado pela covardia de ambientalistas e “cientistas” chapa-branca, verá. O que não se verá mais, a curto prazo, serão atuns, tubarões, albatrozes e até mesmo as pobres tartarugas.

O golpe do atum é mais profundo e elaborado do que simplesmente a atuação dos lobistas pesqueiros potiguares para dar de presente o mar brasileiro à máfia industrial japonesa. Ele inclui uma atuação subserviente e “desenvolvimentista” do Brasil na famigerada Comissão do Atum Atlântico, a ICCAT, presidida por um brasileiro cuja especialidade não é propriamente lutar por medidas efetivas de conservação. O atual (des)governo vai à ICCAT fazer-se de morto na hora de discutir conservação, mas acorda na hora de assegurar “quotas” de milhares de toneladas de pesca que sabe que não tem estrutura para capturar (para sorte do ambiente marinho), mas aí usa essas “quotas” exageradamente infladas para sair atrás de “parcerias” internacionais que nada mais são do que entregar com subsídio de dinheiro público a biodiversidade de nossas águas às grandes máfias industriais da pesca predatória. Isso num momento em que o Ministério da (Sobre)Pesca oferta alegremente aos industriais brasileiros de pesca, além do acesso gratuito a esse recurso vivo público, já subsidiado com diesel barato e outras maracutaias, e livre de fiscalização efetiva, mais alguns milhões em dinheiro público nas gordas contas das indústrias para “renovar as embarcações”.

Num país sério, seria caso de polícia. Não apenas o Estado permite a prostituição total do uso de um patrimônio nacional natural público para atender a interesses particulares e estrangeiros de uma ínfima minoria, mas ainda o financia quase que integralmente. Como a incompetente Ministra de Meio Ambiente atual, que dá discurso contra Unidades de Conservação de proteção integral em reunião com ambientalistas (que, covardes, se recusam a meter a boca na imprensa sobre isso), o Estado nacional refém do PT desconhece totalmente qual a utilidade de se manter a saúde dos oceanos impedindo a sobrepesca e promovendo usos alternativos, não-predatórios, do mar: para essa gente de mentalidade estreita e pouquíssimas luzes técnicas, o bonito, o importante é predar.

Notem, por favor, que estou falando prostituição, estupro e assassinato da biodiversidade marinha em senso amplo, não desta ou daquela espécie de atum, pela simples razão de que esta é uma das atividades de pesca industrial mais predatórias e devastadoras. Os espinhéis dos atuneiros massacram indiscriminadamente não apenas atuns, mas também tubarõesalbatrozes e tartarugas marinhas, todos muito ameaçados de extinção justamente pelos abusos de serem capturados como “fauna acompanhante” por essas frotas assassinas. As medidas de “mitigação” dessas capturas criminosas são ou tardias ou cosméticas. No caso dos tubarões, as máfias industriais pesqueiras do Brasil, do Japão e de muitos outros países recusam-se a reduzir as capturas porque auferem lucros astronômicos com o tráfico das barbatanas dos mesmos para fazer a famigerada sopa de barbatanas em países da Ásia. No Brasil, apesar de “proibido” (o que sem fiscalização nenhuma é igual a dizer: façam que o des-governo não liga!), os tubarões são massacrados aos milhões nos espinhéis atuneiros, e seus corpos inteiros são atirados fora, com os barcos chegando ao porto somente com as barbatanas, que são exportadas legalmente – o que em si já é um absurdo sem tamanho – e também contrabandeadas às centenas de milhares, como provou o diligente e corajoso, ainda que escandalosamente solitário, trabalho do Instituto de Justiça Ambiental .

Mesmo em Unidades de Conservação federais, como é o caso da APA de Fernando de Noronha e São Pedro e São Paulo, considerada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, o massacre bestial dos atuneiros continua sem qualquer controle, principalmente nas proximidades de S. Pedro e S. Paulo, área de imensa importância ecológica, mas na qual os “pesquisadores” da estação ali existente são amasiados silenciosamente com os pescadores, que fornecem “apoio” à estação de pesquisa em troca de impunidade para ali delinqüirem à vista de todos os “jovens cientistas”, que nada fazem contra isso e apenas denunciam os abusos em mesa de bar e implorando anonimato, mortos de medo de perderem a boquinha de viajar à estação se vierem a público contar os descalabros a que assistem. Ou talvez eles nem dêem bola mesmo, afinal “cientista” não tem de fazer ativismo a favor do meio ambiente, que é “política” e portanto anátema para as múmias mofadas das academias brasileiras…

Toda essa imensa bandalha que destroça irreversivelmente o mar brasileiro não precisa, aliás, dos Estudos de Impacto Ambiental que o IBAMA costuma diligentemente exigir de empreendimentos terrestres. Não precisa? Ou não se exige porque a “interpretação” da lei é de que o lobby industrial da pesca, com sua bancada própria no Congresso, é imune tanto à fiscalização como à avaliação de seu impacto escabroso? Assunto para o Ministério Público Federal analisar.

A nova Ministra de (Sobre)Pesca, a política profissional catarinense Ideli Salvatti, certamente não entende nada de prostituição. É o mesmo seu grau de conhecimento sobre pesca, mas como nos demais Ministérios, não é preciso saber nada além de como eleger-se com o voto dos ignaros para abocanhar as estruturas do Estado nacional. É válido relembrar, entretanto, para onde pendem as simpatias de Ideli nos temas que envolvem gestão ambiental e empresários poderosos, já que, mesmo negando peremptoriamente, ela é mais conhecida aqui no Sul como grande lobista do carvão e sua queima absurda para gerar energia suja. A política pode até não gostar que lembremos que exerceu a pusilânime função de líder da Frente Parlamentar Mista EM DEFESA do Carvão Mineral. Se nossos parlamentares defendessem seres vivos com a mesma garra que defendem minérios, esse país seria outro.

Com esse prontuário e mais o recorde de crimes contra a gestão ambiental perpetrados pelo dilmismo luLLento nos últimos anos, acham nossos leitores que a inclinação da gestão pesqueira da lobista carvoeira Ideli será pela conservação da biodiversidade ou pelo favorecimento aos proxenetas da mineração industrial pesqueira? Quem sobreviver nesse país acuado pelo produtivismo soviético, e apequenado pela covardia de ambientalistas e “cientistas” chapa-branca, verá. O que não se verá mais, a curto prazo, serão atuns, tubarões, albatrozes e até mesmo, inobstante o dedicado trabalho do Projeto TAMAR, as pobres tartarugas que volta e meia viram estrelas involuntárias da enganação estatal sobre meio ambiente.

Reproduzido pelo Instituto Sea Shepherd Brasil.

Essa, a propósito, é minha opinião sobre Roma - uma cidade suja, barulhenta, de gente grossa, em que os fantásticos monumentos arqueológicos foram primeiro cobertos de capelas, igrejas e outras porcarias cristãs, e depois cercadas de autopistas como as que passam a um metro do Coliseu. Quem fez isso devia ir pra cadeia... mas lá é meio como aqui.
Essa, a propósito, é minha opinião sobre Roma – uma cidade suja, barulhenta, de gente grossa, em que os fantásticos monumentos arqueológicos foram primeiro cobertos de capelas, igrejas e outras porcarias cristãs, e depois cercadas de autopistas como as que passam a um metro do Coliseu. Quem fez isso devia ir pra cadeia… mas lá é meio como aqui.

José Truda Palazzo Jr. (Porto Alegre, 28 de julho de 1963) foi fundador e principal força motriz durante 27 anos do Projeto Baleia-franca, projeto que completou em 2007 25 anos e tem como objetivo a proteção da espécie Eubalaena australis, a Baleia-franca. Além disso, Truda Palazzo tem trabalhado, ao longo dos anos, em várias iniciativas de proteção ao meio ambiente, tendo se tornado um respeitado e conhecido ecologista.

Iniciou sua militância na área ambiental aos 15 anos, em 1978, quando somou-se a ativistas como José Lutzemberger na Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural e começou a atuar na campanha nacional para banir do Brasil a caça à baleia (proibida somente em 1985). Em 1979 conhece o Vice-Almirante Ibsen de Gusmão Câmara, então já um expoente do meio ambientalista brasileiro, e passam a trabalhar juntos pela conservação das baleias e do meio marinho.

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