Editorial

Uma chamada de Berlim para defender nossos oceanos

Comentário pelo Capitão Paul Watson

Que dia!

Capitão Watson se une a apoiadores da Sea Shepherd em Berlim. Foto: Jan Holste

Com apenas algumas de horas de sono, Scott West e eu pegamos um táxi para o aeroporto de Frankfurt, às 04h30, com uma parada no caminho, para a minha primeira apresentação do dia na delegacia de polícia de Frankfurt. Pegamos o vôo às 07h30 para Berlim, onde fomos recebidos por Jean e Ulrike, da Sea Shepherd Berlim, e de lá fomos levados direto para a praça da Estátua da Vitória, onde a presidente da Costa Rica, Laura Chinchilla Miranda, era obrigada a passar.

Quando chegamos, já havia cerca de uma centena de pessoas presentes, e não muito tempo depois, a presidente da Costa Rica iniciou o seu caminho pela cidade. Nós claramente temos sua atenção. Nós sabíamos que ela voltaria para sua reunião agendada com o governo alemão na Schloss Bellevue, a residência do Presidente alemão. Enquanto esperávamos, centenas de pessoas chegaram, todas vestindo camisetas da Sea Shepherd, alguns vindo de Hamburgo, Munique e Bremerhaven, Cologne, e outros da Austrália, Holanda e até da Costa Rica.

No momento em que a presidente Chinchilla Miranda voltou em sua carreata escoltada pela polícia, havia cerca de 400 apoiadores da Sea Shepherd, e cerca de uma dúzia de oficiais da polícia de Berlim, que também eram muito favoráveis. Não havia dúvida de que a Sea Shepherd Berlim estava bem representada, e ficou evidente à presidente que a nossa base de apoio é forte.

Durante o dia, diversos comunicados continuaram chegando, de diversas manifestações da Sea Shepherd em frente às embaixadas e consulados alemães em Hong Kong, Austrália, Canadá, Estados Unidos, África do Sul, França, Espanha, Brasil, Costa Rica, e muitos outros países. Em Paris, o protesto teve lugar na Torre Eiffel.

O Jolly Roger voa orgulhosamente acima da praça Estátua da Vitória, em Berlim. Foto: Jan Holste

As manifestações foram organizadas para pedir a minha liberdade, e para enviar uma mensagem para a Alemanha para rejeitar uma extradição que a Interpol já rejeitou como politicamente motivada, mas era também algo mais. Minha prisão sob a acusação decorrente da interrupção ilegal de operações de caça furtiva de tubarões na América Central uma década atrás, deu à Sea Shepherd Conservation Society uma ótima oportunidade para mudar o foco para a farsa internacional e a criminalidade do finning, o massacre brutal e impiedoso de dezenas de milhões de tubarões em todo o mundo para suprir as demandas de sopa de barbatanas de tubarão de alguns países asiáticos.

Foi uma oportunidade para chamar a atenção para o Dr. Giam Choo Hoo de Cingapura, o notório membro da ONU da comissão da CITES, que trabalha para a indústria de barbatanas de tubarão e ajudou a impedir a proteção das espécies ameaçadas de tubarões. Foi uma oportunidade para focar o abate de tubarões na América Central e Latina, e a demanda insaciável de barbatanas de tubarão na Ásia.

Foi uma oportunidade de focar nossa próxima campanha para o Pacífico Sul para investigar a remoção das barbatanas de tubarão. Foi também uma oportunidade de oferecer à Costa Rica uma oferta de cooperação e apoio para defender e proteger o ecossistema marinho em torno das Ilha Cocos, um tesouro da Costa Rica.

Apesar de ser um cidadão de Berlim por um dia, eu tive que deixar a multidão incrível de apaixonados ativistas Sea Shepherd alemães para voltar para Frankfurt, onde eu tinha que me apresentar à polícia antes das cinco horas. Nos termos da minha libertação, devo me apresentar à delegacia de polícia de Frankfurt duas vezes por dia, uma vez antes das onze da manhã e mais uma vez antes das cinco da tarde. Claro que eu não estou autorizado a deixar a Alemanha. Apesar de não ser mais um prisioneiro na prisão, eu continuo um prisioneiro sob prisão domiciliar, proibido de deixar a Alemanha até que a demanda de extradição seja rejeitada ou até que eu seja forçado a ir para Costa Rica.

Manifestantes da Sea Shepherd em Berlim. Foto: Jan Holste

Em Frankfurt à noite, e incapaz de estar presente no evento do nosso aniversário de 35 anos de arrecadação de fundos em Cannes, eu ainda consegui participar pelo Skype com todos os presentes. Não é bem a mesma coisa, mas melhor que nada. Tem sido sempre a minha política de esperar o inesperado e, em seguida, trabalhar para fazer o trabalho inesperado para a causa. Isso é o que estamos fazendo, e estamos voltando a inconveniência de minhas restrições na Alemanha em uma campanha não só para me livrar dessa demanda de extradição, mas o mais importante, para tornar esta uma campanha sobre como salvar nossos tubarões e defender nossos oceanos.

Em 1997, quando eu enfrentei uma situação semelhante na Holanda, onde fui detido por 120 dias em um pedido de extradição norueguês, fomos capazes de transformar a internação em uma campanha muito divulgada contra a caça da Noruega. Temos agora uma excelente oportunidade para aproveitar o rumo dos acontecimentos para resolver a situação dos tubarões dos oceanos do mundo. Esta exibição por milhares de pessoas em todo o mundo em um ato para conquistar a minha liberdade, é muito apreciada e incrivelmente encorajadora. No entanto, mais encorajadora é a oportunidade de explorar as possibilidades reais para agirmos no trabalho de conservação de tubarões na Costa Rica e a oportunidade de atingir milhões de pessoas com a mensagem importante de que os tubarões estão em perigo e precisamos fazer tudo o que pudermos para defendê-los e protegê-los. Graças ao apoio encorajador de milhares de pessoas em todo o mundo, eu posso ver o lado bom da minha posição aqui, como um prisioneiro na Alemanha. A Sea Shepherd Conservation Society está se tornando uma voz mais forte todos os dias em defesa da diversidade de espécies vivas em nossos oceanos. Hoje tive a oportunidade de ver que a voz coletiva em ação e o que vi foi uma preocupação apaixonada, dedicada e amorosa com os nossos oceanos e os seres sencientes maravilhosos que habitam as profundezas salgadas da nossa vida sustentada pelos oceanos.

Traduzido por Raquel Soldera, voluntária do Instituto Sea Shepherd Brasil