Editorial

Sou eu um “verdadeiro” canadense?

Comentário pelo Capitão Paul Watson

Oh! Canada!
Nossa casa e terra natal!
Verdadeiro amor patriota vossos caçadores de focas comanda.
Com corações em brilho nós vemos os golpes surgirem,
Assim aquelas focas não serão fortes e livres!
De longe e vasto, ó Canadá,
Nós golpeamos as focas bebês para Vós.
Deus guarde nossos golpes sangrentos e os livre de protestos
Oh! Canadá, nós golpeamos focas bebês para Vós.
Oh! Canadá, nós golpeamos focas bebês para Vós.

Capitão Paul Watson protege um filhote de foca

De acordo com o governo do Canadá, eu não sou um canadense autêntico e patriótico porque me oponho às agressões contra as focas bebês.

Eu pensei que era um canadense. Eu nasci no Canadá, assim como meu pai e minha mãe. Fui criado na costa leste, na província marítima de New Brunswick, em uma vila de pescadores, numa família acadiana cujas raízes remontam através de Nova Scotia, Prince Edward Island, e as ilhas francesas de St. Pierre e Miquelon, onde os meus primeiros antepassados norte-americanos desembarcaram, em 1587, vindos da Bretanha, França.

Meu nome de família, Watson, veio da Escócia e chegou às costas do Canadá sob o comando do General James Wolfe, em 1759, na Batalha de Quebec. O soldado escocês que ficou e se casou com uma mulher acadiana de Nova França estabeleceu-se em Gaspe, e o resultado foi que eu nasci duzentos anos mais tarde.

Um acadiano, um marítimo, mas, pelo visto, não um autêntico canadense !

Acredito que primeiramente traí o meu país quando testemunhei, pela primeira vez, uma foca bebê sendo morta na praia de New Brunswick, no Golfo de St. Lawrence, quando eu tinha dez anos. Eu olhei para os inocentes olhos arregalados daquela recém-nascida foca “casaco branco”, pouco antes de um pescador bandido quebrar seu crânio com um porrete de madeira.

Isso foi há cinquenta anos atrás e vejo hoje que foi então, um assassinato a sangue-frio, com apoio do Estado, de um filhote inocente, cuja vida foi encerrada no momento em que ele estava descobrindo o mundo ao seu redor.

Aquela imagem ainda me assombra e me enfurece mesmo após meio século.

E é por manter minha oposição a este horror que o meu governo acredita que eu não sou um verdadeiro canadense. Você vê, na visão deles, ser um verdadeiro canadense é aceitar e patrioticamente apoiar a desumanidade cruel de golpear focas bebês até a morte e, por vezes, esfolá-las vivas.

Os pescadores de Newfoundland e das ilhas Madalena são os canadenses ideais aos olhos da maioria dos políticos canadenses. Eles se deleitam com histórias de sangue e matança, do consentimento a Ordem do Império Britânico em Abraão Kean, para assassinar cruelmente um milhão de focas e dezenas de caçadores de focas, a ter o Governador Geral comendo um coração cru de foca em rede nacional.

Eles têm celebrizado assassinos sem instrução de bebês em lendários heróis corajosos que defendem “nobres” tradições e têm demonizado qualquer canadense que se opõe ao abate, pessoas como Brian Davies, Rebecca Aldworth, e eu, por exemplo.

Crédito: Raeside

Anos atrás, quando o Canadá criou a Comissão Real de focas e sua caça, excursionou o Canadá como uma espécie de agência de viagem de atividades não-canadenses – rejeitando qualquer evidência de crueldade e destruição ecológica e tratando os caçadores de focas e seus defensores como se fossem discípulos ungidos de Cristo .

Eu era uma criança com raiva depois de testemunhar a morte de um bebê foca e cinco décadas depois, continuo zangado com os compatriotas que caçam focas e tiram vidas dos oceanos, sem qualquer reflexão ou compaixão para com a destruição que provoca.

“Sr. Presidente, eu gostaria de ver os seis milhões, ou qualquer que seja o número que está lá fora, de focas mortas ou vendidas, destruídas ou queimadas. Eu não me importo com o que acontece com elas… O que eles (os pescadores) querem é ter o direito de sair e matar as focas. Eles têm esse direito e quanto mais eles matam, melhor, eu vou adorar.” (Hansard, 04 de maio de 1998)

John Efford, Ministro das Pescas Terra-Nova

Criado em uma vila de pescadores, não tenho ilusões românticas sobre os pescadores. Eu os vi bombear o petróleo ao longo de seus barcos. Eu os vi atirar em aves e focas por despeito. Eu os vi jogar lixo ao lado de seus barcos. Eu também os vi choramingar e queixar-se sobre as focas, os golfinhos e pássaros que estavam “roubando” seus peixes. Eu não conheci muitos pescadores com uma compreensão da ecologia, e muito poucos com uma empatia com as vidas e sentimentos de outras espécies.

O que realmente me irrita é quando essas pessoas saqueiam os oceanos durante anos até destruirem e degradarem a natureza e, em seguida, procuram a indenização, pelo fato de que não há nada mais para pegar nela.

Depois de superalimentar-se no vale da natureza e descobrir que o banquete está desaparecendo, eles fazem exigências para se alimentar no cocho público. Primeiro eles roubam da natureza e quando não há mais nada, eles roubam do contribuinte.

A posição universal deles parece ser a de que o resto do mundo deve algo a eles, e devem pagar pelo peixe que eles já não conseguem mais pegar por causa da sua má administração. Os políticos, sempre com medo de perturbar os lobbies poderosos da pesca, obedientemente lhes dão o que eles querem. Eu chamo isto de pescadorfobia ou o medo da política dos pescadores. O governo gasta quantidades excessivas de dólares dos impostos comprando a “integridade” da comunidade científica a seu serviço, a quem me refiro como biostitutas.

Tenho visto pescadores que operam em todo o mundo. Todos eles jogam a culpa da diminuição dos peixes em outras espécies. Eles culpam as focas, os pelicanos, as baleias, os golfinhos, as gaivotas, os papagaios, as lontras de mar, enfim, tudo menos eles próprios. Os políticos e os seus cientistas conscienciosos estão sempre lá para apoiar a histeria.

Eu também acredito que os piores desses assassinos-seriais-de-peixe-criadores-de-desculpas, são os pescadores da Terra Nova, Nova Escócia, Nova Brunswick, e Quebec, que apontam o dedo para as focas e massacram dezenas de milhões destas criaturas inocentes ao longo dos anos. Em outras palavras, os pescadores do meu próprio país e da minha própria região.

Por causa da minha oposição à brutalidade do massacre das focas, tenho, ao longo dos anos, sido espancado por caçadores de focas, policiais canadenses e oficiais da pesca. Fui preso e multado, perdi meus navios, e rotineiramente sou insultado e caluniado pelos políticos canadenses.

Crédito: Raeside

Tudo isto valeu a pena porque depois de décadas de luta contra esta obscenidade sangrenta, enfim, o mercado comercial de produtos derivados da foca foi destruído, e apesar do fato de que o Canadá postou uma cota ridícula de mais de 400.000 focas no ano passado, a matança foi de 38.000. Em um acesso de revolta, o governo canadense definiu a cota para esta temporada novamente em 400.000, sabendo muito bem que menos de 10% desse número será abatido, simplesmente porque não há mercado para produtos derivados da foca em um mundo civilizado.

Isso não quer dizer que o Canadá não tentou criar mercados, usando o dinheiro dos impostos para implorar e convencer a Rússia, a China e outras nações a comprarem os produtos derivados da foca.
Isto ficou tão tolo que o primeiro-ministro canadense, Stephen Harper, tentou vender pênis de focas para a China, como uma alternativa ao Viagra, uma espécie de poção milagrosa do sexo.

É incrível como esses políticos canadenses se curvam para beijar as bundas desses bandidos sádicos assassinos de bebês. Alguns deles carregam suas carteiras de pele de foca e carne de foca é servida no refeitório Federal Parlamentar.

Seria muito cômico se não fosse a imposição real de sofrimento e morte. Com as focas ameaçadas pelo aquecimento global e a diminuição do gelo no mar que está causando o afogamento de dezenas de milhares de filhotes a cada primavera, o Ministro das Pescas, Keith Ashfield, um homem da minha província natal de New Brunswick, que é aparentemente desprovido de empatia e compaixão, foi arrogantemente convidado para o abate de quatrocentas mil focas em 2012.

Eles repetem como papagaios os lamentos patéticos dos pescadores sobre o fato das focas comerem “seus” peixes, apesar do fato de que antes da ocupação européia da América do Norte haviam cerca de 45 milhões focas na costa leste e não havia nenhuma escassez de peixes.

É a ganância humana que é responsável pela diminuição dos peixes e usar as focas como bodes expiatórios não vai trazer os peixes de volta, na verdade, vai tornar a situação pior, porque as focas comem os peixes predadores que caçam o bacalhau, e quando a população de focas é reduzida, isto provoca um aumento anormal dessas espécies que caçam bacalhau, espécies como o arenque, cavala e capelim por exemplo. E assim segue, enquanto a caça comercial às focas é reduzida a um projeto de bem-estar glorificado com os políticos canadenses disputando sobre qual partido ama mais os pescadores e todos concordando que qualquer canadense que se opõe à matança de focas, realmente não faz o tipo canadense de maneira alguma.

Então, assim como eu fui declarado, recentemente, pelos diretores revisionistas, como não sendo o co-fundador da Fundação Greenpeace, parece que eu agora não sou considerado nem mesmo como sendo um canadense.

Bom, eu ainda sou um terráqueo, digo, espera aí, havia um manifestante japonês no ano passado segurando um aviso, “Sea Shepherd, saia desta Terra.” Eu amo ser tão malditamente popular.

Traduzido por Danielle Vasques, voluntária do Instituto Sea Shepherd Brasil