Editorial

Quem realmente está no comando na Costa Rica?

Comentário pelo Capitão Alex Cornelissen

Tubarões mortos em uma operação ilegal de remoção de barbatanas de tubarão

Há cerca de um mês me foi pedido para ir até a Costa Rica e encontrar com políticos e com nosso advogado local para ver se conseguiríamos encontrar uma solução para o insano caso no qual o Capitão Paul Watson vem sendo acusado. Eu me encontrei com o Ministro do Meio Ambiente e muitos de seus funcionários, e em reuniões à portas fechadas nós chegamos a diversos acordos. Um deles é que nós não iríamos divulgar à imprensa. Para a minha surpresa, dois dias depois, eu li um artigo em um jornal costarriquenho citando palavra por palavra o que eu havia dito na reunião; nada mais de reuniões à portas fechadas com políticos costarriquenhos.

Nossa estratégia desde o começo deste caso tem sido tentar trabalhar com as autoridades na Costa Rica. Apesar do desejo da grande maioria de nossos apoiadores, nós não apenas nos mantemos em silêncio sobre o boicote ao turismo como nós aconselhamos uma posição contra o boicote, acreditando que podemos encontrar uma solução que ajudará a Costa Rica, a Sea Shepherd e, acima de tudo, os tubarões. Nós nos oferecemos para retornar a Costa Rica e continuar de onde paramos há dez anos. Nossa oferta foi ainda além, eu pessoalmente prometi que nós financiaríamos e instalaríamos uma rede AIS (sistema de identificação automática) ao redor da Ilha Cocos, similar ao que foi feito em Galápagos. Afinal, nós temos conhecimento e experiência para fazê-lo. Tal rede imediatamente melhoraria o controle do Parque Nacional da Ilha Cocos. Mas aparentemente, há coisas acontecendo ao redor da Ilha Cocos que o governo costarriquenho não quer que o mundo veja.

Nós ouvimos as mentiras da tripulação do Varadero I impressas nos jornais da Costa Rica, aguentamos abusos de pessoas que se posicionaram rapidamente ao lado dos caçadores, e todo esse tempo ouvimos o mesmo argumento de que ninguém deve achar que está acima da lei.

Deixemos isto bem claro: o Capitão Watson nunca afirmou que estava acima da lei, a Sea Shepherd sempre atuou dentro da lei. Na verdade, nós defendemos a lei.

O mesmo ocorre no caso do incidente com o Varadero I:

  • Nós temos fortes evidências, assim como depoimentos de testemunhas de 24 tripulantes, provando que as autoridades de Guatemala não só permitiram a intervenção da Sea Shepherd contra os caçadores, eles na verdade pediram por isso. Isto significa que o Varadero I estava sob ordem oficial da Guatemala para seguir o Ocean Warrior até o porto. Sob estas condições, a recusa de seguir é, na verdade, um crime em separado.
  • Nós temos evidências em vídeo da colisão, provando, sem sombra de dúvida, que o Varadero I é a embarcação culpada. Qualquer experiente marítimo pode ver isso.
  • Nós temos evidência em vídeo e depoimento de testemunhas afirmando que ninguém foi ferido no Varadero I.
  • Nós temos evidência em vídeo e depoimento de testemunhas que contradizem a afirmação de que o Varadero I foi danificado pela colisão.
  • Nós revelamos evidências incriminadoras contra o Varadero I, datando de um ano antes do incidente. O Varadero foi pego enquanto operava ilegalmente dentro da Reserva Marinha de Galápagos, na verdade, dentro da Reserva Marinha que é conhecida por ter um grande número de tubarões. Uma área também conhecida por repetidas violações por parte dos navios costarriquenhos.
  • O Ocean Warrior teve permissão de deixar o porto, nós nunca fugimos da justiça, como alguns tem afirmado. Nós temos o Zarpe (aprovação de partida) para provar isso, concedido pelo capitão do porto em Puntarenas.

Vamos também olhar para algumas das chamadas “evidências” que estes caçadores levantaram contra o Capitão Watson neste caso:

  • A alegação original incluía tentativa de homicídio. Eu sou marinheiro por mais de 15 anos e participei de mais de 20 campanhas da Sea Shepherd. Nós temos um grupo não violento e nunca ferimos uma pessoa durante toda a nossa história. Isto teria sido fácil, porque os nossos oponentes manobram suas embarcações perigosamente próximas às nossas, mas nós estamos sempre sob instruções de evitar colisões ou qualquer tipo de situação perigosa. Acusando-nos de tentativa de assassinato é uma alegação tão distante da realidade que até o juiz de Puntarenas percebeu que isso não tinha nenhum fundamento. Ao invés disso, a alegação “colocou em perigo uma embarcação causando dano” foi criada. Obviamente, nós nos opomos a esta alegação, já que temos fortes evidências provando que isto é uma fraude. A falsa alegação de dano foi maliciosamente acrescentada para agravar as acusações contra o Capitão Watson. Engraçado que, sempre que a Sea Shepherd encontra os pescadores, eles não se mostram caras durões como clamam ser, mas um bando de reclamões patéticos.
  • É alegado que a tripulação da Sea Shepherd arremessou as ditas bombas de atum no Varadero I. Em primeiro lugar, nós não jogamos explosivos, sob nenhuma circunstância. Em segundo lugar, nós nem temos estas bombas de atum a bordo, mas sem dúvida, a tripulação do Varadero I tinha, por este ser um item usado na pescaria.
  • É alegado que as janelas do Varadero I foram todas quebradas pelos canhões do Ocean Warrior. Estranho, porque na filmagem fica bem claro que nenhuma janela foi quebrada. Eu também posso dizer por experiência que nenhuma janela foi quebrada. Eu também posso dizer por experiência, tendo navegado por cinco anos naquele navio, que os “canhões” de água no Ocean Warrior tinham uma pressão tão baixa que não poderíamos nem mesmo derrubar uma mosca do corrimão de nosso próprio navio, muito menos a janela de uma embarcação de pesca.
  • Os caçadores alegam que eles ficaram à “deriva” dentro de águas guatemaltecas devido a um problema na ignição, e entraram 45 quilômetros dentro da Zona Econômica Exclusiva. Nós ouvimos alegações similares em Galápagos há um tempo, até que eu deixasse claro para as autoridades de Galápagos que as correntes estavam, na verdade, se deslocando para longe da região. O mesmo vale para esta área, NÃO há corrente nesta posição que pudesse fazer uma embarcação se mover por 45 km para dentro da Zona Econômica Exclusiva da Guatemala. E mesmo se tal corrente existisse, e eu repito que não existe, seria uma corrente de no máximo um nó, e isso significaria que o Varadero I deveria estar a deriva por cerca de 30 horas. Isto, no entanto, é impossível, já que estavam puxando uma rede quando o Ocean Warrior os avistou. Sua captura estava bem viva, o que quer dizer que a rede não poderia estar na água por mais de 24 horas. Eles estavam sem dúvida, propositalmente praticando finning em águas guatemaltecas.

Agora analisemos alguns outros fatos interessantes já que temos descoberto mais deles a cada dia:

  • A frota baleeira japonesa apresentou uma liminar (que perdeu) contra a Sea Shepherd em um tribunal de Washington, UMA SEMANA antes do processo contra o Capitão Paul Watson ser misteriosamente reaberto no tribunal da Costa Rica. Coincidência? Acho que não.
  • A Presidenta Chinchilla visitou o Japão no ano passado, deve ter sido uma boa oportunidade para discutir possíveis cenários de como o governo da Costa Rica poderia ajudar o Japão a ter em suas mãos o Capitão Watson. Este processo judicial de dez anos deve ter vindo à tona. A visita ocorreu no exato momento em que o processo judicial contra o Capitão Watson foi misteriosamente reaberto.
  • Apenas hoje a imprensa noticiou que o Japão doou nove milhões de dólares para os Parques Nacionais da Costa Rica. Recompensa por ser lacaio de Tóquio?
  • A administração Chinchilla não é exatamente popular na Costa Rica, devido a escândalos relacionados com inúmeras questões, uma das quais é a questão marinha. De fato, uma pesquisa de popularidade dos líderes políticos nas Américas lista Chinchilla na última posição, com o apoio de 26% do povo de Costa Rica (Equador é o primeiro, com 81% de apoio à Correia). Isso explica porque os estudantes universitários em São José me perguntaram por que raios a Sea Shepherd gostaria de trabalhar com um governo que os costarriquenhos desprezam.
  • A recompensa de 25.000 dólares pela vida do Capitão Watson ainda está pendente, e poderia até mesmo ter sido levantada. Qualquer pessoa sensata não gostaria de dar a oportunidade para alguém ganhar esse dinheiro. É por isso que o Capitão Watson está disposto a vir para a Costa Rica, voluntariamente, para que ele não tenha que esperar seu julgamento em alguma prisão da Costa Rica. Se ele for extraditado, precisará permanecer por tempo indeterminado em um lugar onde a sua segurança está seriamente em risco.
  • O Capitão Watson havia sido informado sobre a continuação do processo judicial na Costa Rica, e logicamente não acho que ele ainda era um problema (que tem DEZ anos!), até sua prisão na Alemanha. Normalmente, esse caso teria sido judicialmente prescrito, mas como os tribunais da Costa Rica o consideravam fugitivo desde 2006 (!) o caso foi suspenso. Por que demorou SEIS anos antes de o tribunal na Costa Rica decidir enviar um mandado de captura internacional é um mistério absoluto. O Capitão Watson também deveria ter sido devidamente notificado que sua presença era necessária durante um processo judicial em 2006, mas o tribunal não fez esforço algum para contatá-lo, não que fosse difícil localizá-lo.
  • A Interpol não lançou um mandado de captura internacional para o Capitão Watson por acreditarem que o pedido da Costa Rica não cumpria com as normas. Eles ainda fizeram uma jogada altamente incomum, de postar esta decisão em seu site, deixando muito claro que essa demanda é política. Afinal, é claro que o Capitão Watson fez um monte de inimigos na arena política durante seus 35 anos à frente da Sea Shepherd Conservation Society.
  • A Alemanha não tem um tratado de extradição com a Costa Rica, na verdade a Alemanha não tem nenhuma obrigação de honrar qualquer pedido da Costa Rica. E ainda, o Capitão Watson foi preso em Frankfurt, sendo que já havia viajado por todo o mundo e nenhum outro país viu como necessário sequer considerar o pedido da Costa Rica.

Apesar do fato de termos uma enorme quantidade de evidências em nossa defesa, e de já termos tentado argumentar com os juízes para aliviar o pedido de extradição, o Capitão Watson ainda é tratado como um criminoso. O Capitão Watson ofereceu-se para vir à Costa Rica voluntariamente, e defender-se em frente ao tribunal, mas seu pedido foi recusado.

Os caçadores NUNCA foram processados por seus crimes contra a natureza, apesar da filmagem entregue aos tribunais provar, sem dúvida, que eles estavam envolvidos em uma operação criminosa.

Você pensaria que Costa Rica tem coisas mais importantes a fazer do que trazer uma acusação de dez anos de um grupo de caçadores furtivos contra um homem que tem feito mais para a proteção dos oceanos do que qualquer pessoa na história do mundo.

As acusações são baseadas em nada além de declarações dos caçadores, sem apoio de sequer um fragmento de evidência real.

A Costa Rica tem um problema sério com a prática de finning de tubarões e além disso, com o tráfico de drogas. Por que então, o governo alemão, ao menos considera extraditar o Capitão Watson para um país seriamente desafiado pelo crime organizado e onde finners de tubarões, pegos em flagrante, são liberados em poucos dias, mesmo sem pagar a fiança? Em vez disso, o Capitão Watson teve que pagar uma fiança de 250.000 euros, e tem que se apresentar à polícia todos os dias. Seu alegado crime: seguir as instruções do governo guatemalteco.

Alguém poderia pensar que isto é se trata do governo da Costa Rica tentando mover o foco do país para longe dos problemas reais, afinal de contas, o ano eleitoral está chegando.

Acredito, sem sombra de dúvida, que o Capitão Watson, ainda que longe da Costa Rica há dez anos, tem feito mais pela proteção da Ilha Cocos do que a administração Chinchilla, e isso que deve ser difícil de digerir.

Traduzido por Flávia Milão, voluntária do Instituto Sea Shepherd Brasil