Editorial

Quando golfinhos voam

Comentário de Gary Stokes, Coordenador da Sea Shepherd Hong Kong

Gary Stokes e um grupo de voluntários e apoiadores da Sea Shepherd falam com um representante da Hong Kong Airlines.

Gary Stokes e um grupo de voluntários e apoiadores da Sea Shepherd falam com um representante da Hong Kong Airlines.

Em 16 de janeiro de 2012, a Hong Kong Airlines juntou-se ao pequeno grupo de uma elite de empresas que estão direta ou indiretamente envolvidas no massacre e aprisionamento de golfinhos, ao transportarem cinco golfinhos do aeroporto de Osaka, no Japão, para o Vietnã, via Hong Kong. Isso provavelmente teria sido completamente ignorado, mas a empresa, tão orgulhosa de suas realizações ao transportar carga viva, decidiu parabenizar todos envolvidos enviando um memorando interno com uma foto dos golfinhos no porão de carga. Isso deixou alguém dentro da empresa chateado, que vazou o memorando à imprensa. Em 22 de fevereiro, a história saiu no China Daily e um grande alvoroço mundial começou.

Muitas das ONGs do mundo enviaram cartas de desaprovação, mas poucas respostas foram recebidas. Isso, provavelmente, foi por causa do poder da mídia social moderna pois depois que a história chegou ao Facebook, ela literalmente decolou e o mural do Facebook da companhia aérea foi fechado por postagens externas e todas suas linhas telefônicas tocaram sem parar. Sandy McElhaney, da Save Misty the Dolphin, iniciou uma campanha online com a change.org e a causa ganhou ímpeto. Depois de não receber respostas aos meus telefonemas e e-mails, decidi que nós faríamos a coisa da velha maneira, e entregaríamos a carta em mãos. Assim, no sábado, dia 25, fomos ao escritório da empresa aérea, armados de uma carta da Sea Shepherd Hong Kong, de um DVD do filme A Enseada (The Cove), e de uma petição que, em apenas 48 horas, atingiu 2.400 assinaturas, graças a todos os apoiadores no mundo todo, tanto da Sea Shepherd, como todos aqueles que se opõem ao massacre de Taiji.

Ao chegarmos, entramos casualmente e chegamos à recepção do segundo andar, onde encontramos uma fila de mais de 300 potenciais novos funcionário, aguardando suas entrevistas (nossa visita coincidiu com o dia de recrutamento da companhia aérea!). Abordamos um funcionário da recepção e pedimos para falar com a Sra. Catherine Yick, a gerente de comunicações corporativas, e nos pediram educadamente para esperar. Os funcionários, obviamente, não tinham ideia de quem era a Sea Shepherd e, provavelmente, não faziam ideia da crise dos golfinhos que estava prestes a abater-se sobre eles. Depois de entregar meu cartão de visitas, eles obviamente fizeram uma busca no Google para ver quem éramos, e o seu humor modificou um pouco.

Os voluntários da Sea Shepherd entregam petição e carta de protesto ao represente da Hong Kong Airlines.

Os voluntários da Sea Shepherd entregam petição e carta de protesto ao represente da Hong Kong Airlines.

Pediram para que fôssemos a outra área, onde poderíamos esperar, mas decidimos ficar parados na recepção, pois “era só para entregar a carta, petição e DVD, e só levaria alguns instantes”. A fila de funcionários em potencial passava pelas crianças segurando imagens do massacre da enseada, paradas em frente aos grandes modelos de aviões na recepção. Depois que passou um tempo, e certamente ligações tinham sido feitas para as autoridades, pedi a Danielle que levasse os mais novos para fora, enquanto eu e Rehouven ficamos ali. Uma das funcionárias da empresa aérea ficou emocionada e usou o recurso de nos chamar de bandidos e vagabundos, encantador! Continuamos a ficar ali parados, educada e pacificamente, esperando que alguém da administração aceitasse nossa carta. Era uma batata quente que ninguém queria. Um homem, que parecia, por sua roupa casual, estar fora de serviço, assumiu o comando e ordenou que ninguém falasse conosco. Ele, então, nos forçou a ir para uma sala de entrevistas à saída da recepção. Nós nos sentamos e ele perguntou quais eram nossas intenções. Perguntei com quem estávamos falando e ele respondeu, “isso não é importante!”. Expliquei que estava ali para falar com a administração e que se ele não ia se apresentar, que nós iríamos voltar para esperar na recepção. Imaginei que o plano dele era nos manter falando naquela sala até a polícia chegar. Eu me levantei e fui em direção à porta, quando o antes enfurecido funcionário fez menção de bloquear a maçaneta, mas pensou melhor! Rehouven e eu reassumimos nossa posição na recepção, silenciosamente.

Crianças que apoiam a Sea Shepherd desaprovam o transporte de golfinhos vivos por parte da Hong Kong Airlines

Crianças que apoiam a Sea Shepherd desaprovam o transporte de golfinhos vivos por parte da Hong Kong Airlines

Finalmente, o mesmo rapaz voltou e disse que ele estava autorizado a receber a carta, o DVD e a petição. Pedi pelo cartão dele, para saber para quem estava entregando e ele me deu o seu cartão. Então, ele nos acompanhou para fora e, no elevador, disse que “essa não é a maneira convencional de fazer as coisas!”. Respondi a ele, “se você tiver um tempo mais tarde, vai ver que nós nem sempre fazemos as coisas do modo convencional, mas nós conseguimos resultados!”.

Desde a entrega da carta, o apoio tem se amplificado. A petição passou da meta de 5.000 assinaturas em apenas três dias e continua aumentando. Neste momento em que escrevo, está em 6.000 assinaturas, e subindo rápido.

Recebemos duas respostas da Hong Kong Airlines diretamente e o capitão Paul Watson, Scott West e Jeff Hansen têm sido mantidos informados constantemente sobre o que está ocorrendo aqui em Hong Kong. Esses resultados foram possíveis porque todos nós nos unimos pelos golfinhos, e eu gostaria de agradecer pessoalmente à Sandy McElhaney, da Save Misty the Dolphin, Samuel Hung, da Hong Kong Dolphin Conservation Society, Janet Walker, da HK Dolphinwatch e, é claro, ao pessoal da Sea Shepherd Hong Kong, (Danielle, Rehouven e os jovens futuros Sea Shepherds).

Pessoalmente, vejo esse incidente como algo muito maior do que só na Hong Kong Airlines, é a rachadura na represa pela qual todos esperávamos. Esta ação deve funcionar como um recado para todas as linhas aéreas de que as consequências de transportar golfinhos vai resultar em publicidade global tão negativa, afetando seus negócios, que em muito superarão os ganhos financeiros de curto prazo dos seus transportes. Se pudermos parar o transporte internacional, isso deve, então, interromper o comércio de cativeiro e, assim, sem comércio de golfinhos, não haverá massacre de golfinhos, pois o dinheiro terá desaparecido.

Traduzido por Carlinhos Puig, voluntário do Instituto Sea Shepherd Brasil