Editorial

Operação Vento Divino: perguntas e respostas

1. Esta será a sua oitava campanha ao Oceano Antártico para defender as baleias. Quantas viagens mais você pretende realizar contra a frota baleeira japonesa?

Capitão Paul Watson: Isso depende de quantas vezes os baleeiros japoneses pretendem voltar. Enquanto eles tentarem matar baleias no Santuário de Baleias do Oceano Antártico, continuaremos voltando para nos opor a eles. Todos os anos temos ido mais fortes do que no ano anterior, e a cada ano os baleeiros estão mais fracod do que no ano anterior. Nosso objetivo desde o início é de afundar a frota baleeira japonesa economicamente – para arruiná-los. Nós temos feito isso. Eles continuam a operar apenas por causa de enormes subsídios do governo japonês. Voltamos a cada ano para salvar o maior número de baleias possível, e para impedir qualquer lucro com a caça às baleias pelos japoneses. Pretendemos continuar a nos opor aos baleeiros japoneses até que definitivamente eles se afastem do Santuário de Baleias do Oceano Antártico. Eu vou morrer muito feliz se eu puder ajudar a fazer isso acontecer.

2. Por que o nome desta campanha é Operação Vento Divino?

Capitão Paul Watson: Eu gosto de me comunicar com a oposição através de um simbolismo que eles compreendam. Por exemplo, os nossos navios eram pintados de preto porque os navios negros significam mudança no Japão, que remonta ao primeiro dos navios negros dos comerciantes portugueses e dos sacerdotes, e os navios negros da Marinha dos Estados Unidos sob o Comodoro Perry. Assim, nossos navios negros exigiam mudanças no Oceano Antártico. Pela mesma razão, nós nomeamos uma de nossas campanhas de Operação Musashi, em honra do lendário mestre samurai japonês Miyamoto Musashi, que ensinou o estilo de luta com duas espadas, significado que a nossa abordagem deve ser tanto de confronto e quanto de ensino.

A origem da palavra kamikaze, que significa “vento dos deuses”, remonta a mil anos, quando o governante mongol Kublai Khan duas vezes tentou invadir a China. Ele falhou em ambas as ocasiões, porque as suas grandes frotas foram destruídas por tufões, e estes ventos destrutivos, ou “kaze”, se acreditava terem sido divinamente enviados pelos Deuses, ou “kami”. O simbolismo aqui é que os navios da Sea Shepherd são os ventos que protegem o Santuário de Baleias do Oceano Austral a partir de invasão ilegal pela frota baleeira japonesa.

3. A sua última campanha, Operação Sem Conciliação, foi um enorme sucesso. Você pode antecipar que a Operação Vento Divino será tão bem sucedida?

Capitão Paul Watson: A Operação Sem Conciliação foi de fato um grande sucesso. Encontramos a frota japonesa cedo, fomos capazes de bloquear as suas operações e, assim, encerramos suas atividades baleeiras. Nós perseguimos o Nisshin Maru por mais de 3000 milhas, até que finalmente desistiu e foi para casa, seis semanas mais cedo do que o planejado. Mais importante ainda, a frota japonesa só foi capaz de atingir 17% da sua cota de matança, o que salvou 870 baleias. Prejuízo econômico e centenas de baleias salvas é uma grande vitória, de fato.

Desde o início, nosso objetivo é afundar a frota baleeira economicamente, pela falência da indústria. Temos conseguido esse objetivo, já que a frota baleeira japonesa está agora com dezenas de milhões de dólares em dívida. Para todos os efeitos, nós derrotamos a frota economicamente. Infelizmente, nós ainda não derrotamos a frota baleeira japonesa politicamente.

Embora tenhamos a esperança de que os baleeiros não voltariam em dezembro de 2011, estávamos preparados para que eles fizessem exatamente isso, sabendo que eles só poderiam fazê-lo com enorme subsídios do governo japonês. Aos baleeiros foram dados os seus subsídios, incluindo o equivalente a 30 milhões de dólares, orçados especificamente para se opor à Sea Shepherd. O que isso significa? Logo veremos, quando retornarmos ao Oceano Antártico em dezembro.

4. Esta será a campanha mais desafiadora, e, possivelmente, a mais perigosa, que a Sea Shepherd já realizou. Você e sua equipe estão prontos para assumir uma frota baleeira mais irritada e mais bem financiada?

Capitão Paul Watson: Esta será a nossa oitava viagem para o Oceano Antártico. Estamos veteranos deste ambiente remoto e hostil, e não nos intimidamos com isso. Nós somos veteranos de escaramuças e numerosos confrontos com os baleeiros. Temos experiência, mas o mais importante, tenho uma coisa que os baleeiros não têm. Eu tenho uma equipe apaixonada, dedicada, corajosa e de voluntários de todo o mundo. Eu não poderia pagar profissionais para fazer o que essas pessoas incríveis fazem sem serem pagas. Os baleeiros estão empenhados em tirar vidas. Estamos empenhados em salvar vidas. É a nossa vida, energia positiva se afirmando em oposição à morte negativa, abraçando a energia dos assassinos industrializados. Os homens e mulheres das minhas tripulações, passadas e presentes, doaram-se em um grande empreendimento para defender a vida, para defender as baleias, e todos eles para o resto de suas vidas serão capazes de olhar para trás com orgulho e ver o que eles fizeram, sua aventura, sua nobreza, e para o sucesso e satisfação de saber que, porque eles intervieram, milhares de baleias foram poupadas da morte cruel e terrível dos impiedosos arpões da frota baleeira japonesa.

5. O fato é que você está lá no Santuário Antártico das Baleias sozinho. Não há assistência do governo. Não há outros grupos lá para ajudá-lo. Se você ficar em apuros, não haverá nenhuma ajuda. Isto deve ser intimidante, e certamente o fato de que você está tão sozinho nesta empreitada perigosa e controversa deve dar-lhe motivos para refletir que talvez esta não seja uma coisa sábia a se fazer?

Capitão Paul Watson: Sim estamos sozinhos. Temos repetidamente solicitado a cooperação do Greenpeace. Eles se recusam a nos reconhecer. Nós pedimos para a Nova Zelândia e para a Austrália enviar navios para pelo menos observar a situação e estar por perto no caso de uma tragédia. Afinal, muitos de nossos tripulantes são australianos e neozelandeses. Mas suponho que, se o que fazemos não fosse perigoso, difícil, ou controverso, todos estariam lá. Estar sozinho não é um problema, seria bom ter algum apoio, mas nós fazemos o que fazemos com os recursos e base de apoio que temos à nossa disposição. No entanto, é irritante que os governos nos obstrua e o Greenpeace nos condene publicamente. É especialmente irritante que o Greenpeace também levante dezenas de milhões de dólares a cada ano através de doações para salvar as baleias do Oceano Antártico, e eles ainda não enviaram um navio para lá há anos.

Quando eu penso nas baleias que temos salvado, e as baleias que seremos capazes de salvar mais uma vez este ano, não tenho dúvida de que nossas estratégias e táticas são e continuarão a ser bem sucedidas. Eu não estou interessado em ganhar um concurso de popularidade, a nossa preocupação é salvar vidas, apesar das críticas e controvérsias. O ponto de partida é que nós nunca ferimos ninguém, não temos qualquer intenção de ferir ninguém, e atuamos dentro dos limites da lei. Salvar vidas legalmente sem infligir danos físicos para os baleeiros é o que eu penso ser uma abordagem muito responsável e eficaz.

Somos também experientes em sermos auto-suficiente e a segurança para nossa equipe é de importância primordial. Nós não sofremos quaisquer ferimentos graves, apesar de sete viagens aos mares mais hostis e remotos do mundo.

6. Quem estará em sua equipe nesta temporada? Algum recém-chegado? Veteranos que estão voltando?

Capitão Paul Watson: A grande novidade dos retornados serão Peter Brown e Shannon Mann. Peter esteve afastado desde a primeira temporada de Whale Wars – Defensores de Baleias, e Shannon perdeu a campanha do ano passado. Laura Dakin vai voltar como a cozinheira chefe do Steve Irwin. A má notícia é que Chris Aultman não vai voltar por causa da condição crítica de saúde de sua mãe, por isso vamos ter um piloto de helicóptero novo conosco. Alex Cornelissen será novamente o capitão do Bob Barker, e Locky MacLean será o capitão do Brigitte Bardot.

Acredito que teremos uma equipe altamente motivada, verdadeiramente apaixonada, e muito corajosa para a Operação Vento Divino. Nós também temos um grupo internacional de pessoas muito apaixonado, que apóia em terra os esforços das tripulações dos navios. Mais de cem tripulantes participarão como membros da tripulação a bordo dos navios nesta temporada, representando cerca de 22 nacionalidades.

7. Você tem um novo navio este ano… o Brigitte Bardot. Para que este navio será usado e quando a Sea Shepherd o adquiriu?

Capitão Paul Watson: O Brigitte Bardot não é um navio novo. Nós simplesmente mudamos o nome do interceptor do ano passado, de Gojira (Godzilla) para Brigitte Bardot. A razão é que a única coisa mais assustadora do que o Godzilla são os advogados japoneses do Godzilla. Assim, mudamos o nome da fera para bela, e o navio agora é chamado de Brigitte Bardot, em homenagem à nossa amiga e apoiadora de longa data, Brigitte Bardot. Nesta temporada teremos o Bob Barker, o Steve Irwin e o Brigitte Bardot no Oceano Antártico para a Operação Vento Divino.

8. A Sea Shepherd tinha outro navio interceptador rápido – o Ady Gil. Ele foi destruído pelos baleeiros japoneses e o capitão Peter Bethune foi preso pelos japoneses. Você também teve uma briga com Bethune. Por que isso aconteceu e qual é a situação agora? Será que ele vai fazer parte da Operação Vento Divino?

Capitão Paul Watson: Não, ele não vai fazer parte da Operação Vento Divino e nem irá participar de qualquer campanha da Sea Shepherd no futuro. A razão para isso é simples, ele forneceu informações falsas e colaborou com o Ministério Público japonês para permitir que os japoneses montassem um processo contra mim. Bethune disse aos japoneses que eu pedi a ele para embarcar no Shonan Maru n.2, quando as imagens captadas por câmeras claramente ilustraram que eu lhe aconselhei que não subisse a bordo do navio japonês. Esta foi uma traição imperdoável, e a causa da demissão da Sea Shepherd. Bethune está atualmente tentando processar a Sea Shepherd pela perda de seu navio, o Ady Gil. No entanto, o Ady Gil não era de propriedade da Sea Shepherd, foi comprado pelo Ady Gil e comandado por Pete Bethune. A investigação da Nova Zelândia concluiu que Bethune foi negligente e responsável em 50% pela perda do Ady Gil, e os baleeiros japoneses foram responsáveis pela outra metade. Em vez de processar os japoneses, Bethune decidiu processar a Sea Shepherd por meio milhão de dólares. A Sea Shepherd não foi responsável pela perda do Ady Gil, e não acreditamos que esta ação irá trazer qualquer coisa para Bethune que não seja um desperdício de tempo e dinheiro que poderiam ser utilizados para defender as baleias.

9. A série do Animal Planet, Whale Wars – Defensores de Baleias, levou a Sea Shepherd e sua tripulação para a sala de estar de milhões de pessoas em todo o mundo. Como tem sido ter o seu próprio programa de televisão?

Capitão Paul Watson: Nós realizamos sete viagens ao Santuário de Baleias do Oceano Antártico desde 2002. Durante a campanha 2006-2007, a Operação Leviatã, nós tínhamos uma equipe de filmagem a bordo, que produziu o documentário At the Edge of the World (Na Borda do Mundo). O Animal Planet se juntou a nós na temporada seguinte, para a campanha 2007-2008, Operação Migaloo. Desde então, o Animal Planet esteve a bordo para documentar a campanha 2008-2009, Operação Musashi, a campanha 2009-2010,  Operação Waltzing Matilda, e a campanha 2010-2011, Operação Sem Conciliação. Nós antecipamos que o Animal Planet anunciará seus planos para a quinta temporada de Whale Wars – Defensores de Baleias em breve.

10. Como é que a Austrália e a Nova Zelândia responderam à Sea Shepherd e à Operação Vento Divino?

Capitão Paul Watson: O apoio que recebemos do povo da Austrália e da Nova Zelândia é esmagador. No entanto, os governos não refletem esse apoio. Ambos os governos são muito hostis e sua lealdade tende a ser com o governo japonês, sobrepondo os desejos de seu próprio povo. Nós recebemos uma cobertura da mídia muito positiva na Austrália. Os portos de Sydney, Hobart, Fremantle, Melbourne e Brisbane nos deram um super apoio. Os australianos são o povos mais apaixonado do planeta quando se trata de defender as baleias. A Sea Shepherd não está sozinha em nossa oposição para acabar com a caça ilegal de baleias no Santuário de Baleias do Oceano Antártico. Temos o apoio de milhões de pessoas na Austália e na Nova Zelândia, o apoio da comunidade aborígene, e o apoio da comunidade Maori.

11. Há alguma mensagem que você gostaria de nos deixar antes de partir para o Santuário Antártico das Baleias?

Capitão Paul Watson: Sim, eu tenho uma mensagem. Em primeiro lugar, estou confiante de que continuaremos a intervir com sucesso contra a frota baleeira japonesa ilegal no Santuário Antártico das Baleias. Não temos intenção de recuar desta luta até finalmente banirmos completamente e para sempre a caça de baleias no santuário. Minha mensagem para o mundo é esta: nossos oceanos estão morrendo e nós precisamos defender a biodiversidade nos nossos mares com toda a coragem, imaginação e paixão que podemos reunir pelo simples fato de que, se os oceanos morrerem, todos nós morreremos. Nós não podemos viver neste planeta com um oceano morto.

Traduzido por Raquel Soldera, voluntária do Instituto Sea Shepherd Brasil.