Editorial

Tragédia anunciada

Por Wendell Estol, Diretor Geral do Instituto Sea Shepherd Brasil

Desde o derrame provocado pela Petrobrás na Baía de Guanabara no ano 2000 que nós, ambientalistas, aguardávamos por outro grande desastre, pois desde então o governo brasileiro não adotou políticas ambientais eficientes e que previssem ou mesmo remediassem tais tragédias. Pelo contrário, a crise ambiental só se agravou a partir de 2002.

Com o aumento da demanda por petróleo no Brasil e no mundo, o governo brasileiro entendeu que aí estava uma grande oportunidade econômica para nosso país, e vendeu essa ideia a todos os brasileiros, intensificando suas propagandas em 2009, baseando-se na “descoberta” do pré-sal. Porém, intencionalmente, omitiu da população os riscos ambientais que tal exploração traria.

Em 2010, quando ocorreu o derrame de petróleo do Golfo do México, governo e empresas fizeram grande alarde sobre a adoção de políticas e estratégias para evitar algo parecido à grande tragédia estadounidense, realizando diversas reuniões interministeriais com a participação de órgão ambientais federais e estaduais, bem como com representantes das petroleiras.

Nos últimos dias, o povo brasileiro conheceu o resultado de tais reuniões e suas ações de contingência para derrames de petróleo, com a ocorrência de mais um acidente.

Foto de satélite mostra mancha que pode ser do vazamento de petróleo da Chevron, na Bacia de Campos. Foto: Reprodução/Época

Foto de satélite mostra mancha do vazamento de petróleo da Chevron, na Bacia de Campos. Foto: Reprodução/Época

Continuamos sem nenhum preparo para responder a estes eventos. Não existem planos de contingência, ou se existem, são tão secretos que nem mesmo seus autores sabem em que gavetas se encontram. Não existe tecnologia para o atendimento de emergências a grandes profundidades, não existe interesse do governo brasileiro em endurecer os processos de licenciamento ambiental, não existem investimentos em fiscalização – vide que o IBAMA está sucateado -, não existe sequer respeito a princípios básicos, como prevenção e precaução, que fundamentam nossa legislação ambiental, e, por fim, não existe seriedade alguma, por parte de nosso governo, na conservação da vida marinha. Aliás, o único ato do governo em prol da vida marinha foi o movimento de apoio ao ex-presidente Lula, pois, afinal, Lulas são espécies marinhas.

A Sea Shepherd vem alertando a todos sobre a indolência e falta de seriedade com que estas questões estão sendo tratadas pelo governo brasileiro e as empresas que aqui se encontram para realizar a exploração de petróleo.

Só de 2009 até hoje, já realizamos 17 capacitações para resgatar animais marinhos atingidos por derrames de petróleo, com mais de 400 voluntários capacitados, e em todos estes cursos chamamos a atenção de todos para a inexistência de capacidade brasileira para atender grandes desastres. Por vezes somos criticados por empresas que prestam consultoria nesta área de resgate de fauna, por órgãos públicos, e até mesmo por pessoas da comunidade científica, mas o fato é que temos razão em tudo o que falamos e em todas as ações que desenvolvemos desde o ano 2000.

Barcos montam barragem contra vazamento de óleo. Foto: Reuters/Veja

Barcos montam barragem contra vazamento de óleo. Foto: Reuters/Veja

Está aí a comprovação, um grande derrame de petróleo, em um período crítico para a fauna brasileira, pois é período de reprodução ou migração de diversas espécies, onde as autoridades demoraram cerca de uma semana para tomar conhecimento do vazamento, tendo em vista que já tem dez dias que o derrame se iniciou. Até o momento, as únicas ações tomadas foram sobrevoar a área, usar indiscriminadamente dispersantes químicos e, depois de uma semana de vazamento, quando já não dava mais para salvar o lucro daquele poço, iniciar o processo de concretagem do poço.

Esta é, infelizmente, a nossa realidade: a falta de preparo e seriedade de lidarmos com as questões ambientais. Vide que nos vendem que abastecer nossos carros com combustível fóssil mais barato é mais importante que preservar as vidas de animais marinhos, que estão alheios e inocentes ao nosso modelo predatório de sobrevivência.