Editorial

O que acontecerá conosco quando os oceanos morrerem?

“É desse jeito que o mundo acaba
É desse jeito que o mundo acaba
É desse jeito que o mundo acaba
Não com um tiro, mas com um gemido”

T.S. Elliot – The Hollow Men (Os Homens Rasos).
Durante o episódio da Segunda Temporada de Whale Wars, na qual o gelo Antártico está abalando e estressando a estrutura de meu navio, grande parte de minha equipe e das pessoas que assistiram os dramas dos encontros com o gelo ficaram confusas com minha aparente falta de preocupação.

Eu tinha a situação sob controle, claro, logo não havia nada para se preocupar além do costumeiro cuidado e precaução que se devem ter quando navegando por águas congeladas em locais remotos.

Mas o que me deixou confuso foi que tantas pessoas estavam preocupadas e chocadas com que a estrutura do meu navio fosse ser danificada enquanto mantinham-se cegas ao abalo e estresse na estrutura biológica da nave que se chama Planeta Terra.

A imensa nave esférica que carrega todos nós pelo breu do Espaço está nesse momento sendo assolada por severo estresse, e engenheiros ecológicos sabem que nós temos uma situação muito séria em nossas mãos, tão séria que ameaça a sobrevivência e o futuro de todo a espécie humana.

Está acontecendo nesse momento. Eu não estou especulando sobre um futuro distante. A primeira rachadura em nosso sistema de suporte global está abrindo-se agora e nós estamos prestes a presenciar a primeira grande falha no sistema.

Nós estamos na iminência do primeiro grande colapso de ecossistemas da Homocena.

A Homocena é a 6ª maior extinção em massa na história do planeta. A última grande extinção foi a do período Cretáceo há 65 milhões de anos. Foi o acontecimento que varreu os dinossauros da face da Terra. Nos últimos 540 milhões de anos houve 5 grandes acontecimentos, quando mais de 50% das espécies morreram.

Este, o 6º, é chamado de Homocena, porque uma espécie como a nossa, é responsável por esse catastrófico evento que testemunhará a extinção de mais plantas e animais entre 2000 e 2065, do que se perdeu em 65 milhões de anos.

Este é um enorme desastre, maior do que qualquer guerra, Tsunami, terremoto ou incêndio, ainda assim, seria difícil ver nos jornais e televisão qualquer demonstração de senso de urgência ou maiores preocupações.

Essa semana, Charles Veron, ex-cientista chefe do Instituto Australiano de Ciência Marinha declarou que: “Não há saída. A Grande Barreira de Corais chegará ao fim dentro de aproximadamente 20 anos.”

De acordo com Veron: “Uma vez que o dióxido de carbono atinge os níveis previstos para o período de 2030-2060, todos os recifes de corais do mundo estarão fadados à extinção… Eles seriam o primeiro ecossistema do mundo a colapsarem. Eu tenho o apoio de cada cientista de corais, cada organização de pesquisa. Eu falei com todos eles. Isso é crítico. É realidade.”

Os comentários de Dr. Veron aconteceram quando a Sociedade Zoológica de Londres, a Sociedade Real e o Programa Internacional do Estado dos Oceanos (IPSO) realizaram uma reunião crucial em Londres sobre o futuro dos recifes de corais. Em uma declaração conjunta, eles anunciaram que, na metade do século a extinção dos recifes de corais pelo mundo seria inevitável.

De acordo com uma reportagem da página na internet do jornal “New York Times”, o aquecimento da água causa pólipos nos corais que provocam a eliminação das algas que os fornecem nutrientes. Esses eventos estavam alastrando-se durante o fenômeno “El Niño” em 1997-98, e acontecimentos localizados estão tornando-se mais frequentes. (durante o El Niño, a maior parte do Pacífico tropical tornou-se atipicamente quente). Corais levam décadas para recuperar-se, mas de 2030 a 2050, dependendo das emissões e suas consequências, o alastramento destes pólipos nos corais estará ocorrendo anualmente ou bienalmente.

Apesar da temperatura da superfície dos mares estarem aumentando mais rapidamente em regiões tropicais, a outra grande ameaça aos recifes de corais vem de latitudes maiores. A água gelada absorve mais dióxido carbônico atmosférico do que águas mornas e acidifica mais facilmente.

Quando a concentração de dióxido de carbono atingir entre 480 e 500 partes por milhão, a água morna não será barreira para a acidificação, e o pH nas regiões equatoriais terá despencado tanto que significa maior acidez, que o crescimento dos corais tornar-se-á impossível em qualquer lugar do oceano.

“Os recifes de corais são os ecossistemas marinhos mais sensíveis.” Disse Alex Rogers, cientista diretor do IPSO.

“O aumento na temperatura e a diminuição no pH terá um efeito dublo. Os corais estavam seguros com os níveis de CO2 em 350 partículas por milhão. Nós estamos em 387 ppm hoje. Ultrapassando 450, o futuro dos corais está condenado.” Ele prosseguiu.

Nos 5 acontecimentos de extinção em massa, a chave estava no ciclo do carbono, onde o dióxido de carbono foi o protagonista. Sua concentração na atmosfera é o mais alto que já esteve em 20 milhões de anos. Na extinção Permian, como em todas as grandes extinções, corais tropicais são os mais gravemente afetados. Sua reposição leva mais de 10 milhões de anos.

A Grande Barreira de Corais, o maior e mais diverso eco-sistema marinho do mundo, rende à Austrália 4,5 bilhões de dólares ao ano. Pelo mundo, os corais valem 300 bilhões. “Mas isso é trivial comparado com os custos no caso dos corais serem extintos. Logo, não será uma questão de falta de lucro, mas sim de meios de sustento, economia e ecossistemas.” Disse Dr. Veron.

O anúncio da morte certa do sistema de recifes de corais mundial, incluindo a Grande Barreira de Corais, foi recebido com bocejos e apatia pela mídia e opinião pública. 20 anos é muito longe para captar os interesses de políticos e, com a Jennifer Aniston tentando voltar com o Brad Pitt, fica difícil mesmo do público não se distrair.

O mundo está em luto pela morte de Michael Jackson, mas dificilmente nota se a morte iminente da Grande Barreira de Corais e dos milhões de espécies que dependem dos corais para sobreviverem.

Como o poeta Leonard Cohen disse uma vez: “nós estamos acorrentados ao nosso sofrimento e o nosso prazer é a nossa sentença.”

Enquanto nos divertimos, os oceanos e o planeta estão morrendo.

O prognóstico não é muito bom. Com 90% dos peixes do mundo já extintos e com um colapso já irreversível acontecendo no presente momento, a situação é quase sem esperanças.

Mas tenho fé que podemos ressuscitar os oceanos, se pudermos interromper a destruição, e rápido.

A causa deste colapso iminente dos ecossistemas é uns 7 bilhões de seres humanos sugando a vida dos oceanos como vampiros deslumbrados.

Não é questão de dizer que nós poderíamos estar fazendo todo o possível para salvar nossos oceanos, mas sim que poderíamos fazer o possível e mais. Não temos mais escolha. Derrota em agir, derrota em reverter a situação tem apenas uma conseqüência – colapso do ecossistema global, ou, em outras palavras, a completa derrota do sistema de suporte de vida para a nave espacial chamada Terra.

O mundo está cheio de trouxas ecológicos, que negam a realidade ecológica. O mundo está cheio de hordas de descerebrados obcecados com trivialidades mesquinhas ou distraídos por fantasias provenientes de religiões bobas e entretenimento.

O que falta ao mundo são engenheiros ecológicos e guerreiros prontos e dispostos a endereçar as ameaças ao nosso planeta e, especialmente, a nossos oceanos.

O que a grande maioria das pessoas não entende é que: a não ser que nós interrompamos a degradação dos oceanos, os sistemas marinhos ecológicos estarão colapsando e, quando a quantidade suficiente deles acabar, os oceanos morrerão.

E se oceanos morrerem, a civilização entra em colapso e todos nós morremos.

É simples assim, e a escolha está entre suicídio coletivo de pessoas sem consciência ou levantar-se e lutar pela sobrevivência.

Uma coisa, porém, é certa: nosso tempo está acabando.