Editorial

Meu irmão Stephen

Por Capitão Paul Watson

Stephen Watson. Foto: Paul Everest/Londo, Community News

Meu irmão Stephen Michael Watson morreu no dia 29 de agosto no mesmo hospital onde nasceu, em St. Stephen (Canadá), em 1958, e no mesmo hospital onde nossa mãe Annamarie morreu, em 1964. Ele foi o quinto de sete filhos, e o primeiro a nos deixar.

Ele também foi o mais amado. O mais gentil de todos os filhos e também o mais talentoso. Sua arte era única, vibrante, intuitivamente ligada à realidade do nosso planeta e às contradições da humanidade em relação à promessa e beleza desse mundo oceânico do qual abençoadamente fazemos parte.

Neto de um grande artista canadense de ascendência dinamarquesa, Otto Larsen Sumner, ele herdou sozinho a habilidade extraordinária de salpicar suas visões sobre a tela e, como artista, nunca se interessou em comercializar suas criações. Ele tornou-as disponíveis para as pessoas comuns e doou-as para instituições de caridade, sendo muitas delas para os eventos de angariação de fundos da Sea Shepherd.

Stephen trabalhou por anos na indústria de alimentos como comprador, e as coisas que ele viu e das quais tomou conhecimento fizeram-no converter-se ao veganismo orgânico.

Meu irmão dedicou-se à Sea Shepherd e por muito tempo hospedou captadores de recursos em Toronto e London, no Canadá. Seu filho mais velho, Shawn, entrou aos 14 anos para a tripulação da Sea Shepherd II em nossas campanhas contra as redes de deriva. Sua filha caçula, Hillary, em breve irá se juntar à tripulação do Steve Irwin. Ele mesmo participou de uma missão secreta nossa, importante e legal, e foi fundamental para o sucesso dela.

A coragem de Stephen em relação a sua própria mortalidade tem sido inspiradora. Ele estava confiante e esperançoso, até mesmo falando alegremente sobre a mostra de arte que estava planejando em London, no próximo verão, e sobre as ideias de pinturas que tinha para esse evento.

Em junho, Stephen organizou um evento da Sea Shepherd em Londres, no qual vinha trabalhando há muitos meses. Eu estava ansioso para vê-lo, juntamente com a minha família, mas a Alemanha recusou-se a permitir minha participação. Nosso apelo ao Ministro da Justiça alemão para que eu pudesse visitá-lo em julho, depois de ser diagnosticado com um tumor cerebral que não podia ser operado, foi recusado. Aparentemente, as acusações falsas e cruéis dos caçadores de tubarões costa-riquenhos tiveram mais simpatia por parte dela. Mas Stephen entendeu, e quando deixei a Alemanha, ele pediu-me apenas uma coisa: que se ele morresse antes da próxima campanha no Oceano Antártico, eu levaria suas cinzas para lá.

Eu pretendo fazer isso.

Meu coração deixa um pouco de lado a minha odisseia atual e se direciona para a esposa de Stephen, Renee, suas filhas Lea e Hillary e seus filhos Shawn e Garrett. Estavam todos com ele na sua partida, juntamente com minhas irmãs Sharyn e Rosemarie. Eles fizeram uma vigília, olhando para o rio St. Croix enquanto a grande maré da Baía de Fundy recuava em direção ao mar imortal, o oceano cheio de vida que Stephen amou e tão amorosamente honrou com sua arte.

Meu irmão era um guerreiro cujo caminho era artístico. Eu sempre tive orgulho dele e meu amor é tão eterno quanto o amor que nós dois tínhamos pela natureza e por todos os seus tesouros vivos.

Em muitos aspectos, o homem que nasceu e morreu em St. Stephen era ele mesmo um santo, como um amante dos animais, do ambiente, da beleza e da criatividade, bondoso e gentil, como um marido amoroso e pai dedicado, e um irmão fiel a todos os irmãos.

Nós sentimos sua falta, e será assim para sempre.

“Jubartes”, de Stephen Watson

Traduzido por Maiza Garcia, voluntária do Instituto Sea Shepherd Brasil