Editorial

O vergonhoso segredo da Namíbia

Por Rosie Kunneke, Nikki Botha e Dinielle Stöckigt (membros da Sea Shepherd da África do Sul e da Operação Focas do Deserto)

Representantes da Sea Shepherd com o ouvidor da Namíbia, John Walters (esquerda)

Todo ano acontece a mesma história de partir o coração. Em meados de junho e julho, as autoridades da Namíbia dão sua bênção para o início do abate cruel de focas no mundo. Até 90 mil filhotes são conduzidos à morte. O estresse e a confusão que homens segurando seus porretes causam à colônia de focas está além da imaginação de qualquer pessoa equilibrada. No entanto, o pior ainda está por vir. Filhotes jovens, ainda tentando crescer a partir do doce leite de suas mães, são impiedosamente atingidos na cabeça e em todo o corpo. Então, estando vivos ou mortos, são esfaqueados, o leite da mãe escorrendo das bocas e narizes e o sangue fluindo livremente de seus pequenos corpos contorcidos. Mães clamam por seus filhotes mortos e feridos, sem sucesso. As focas do sexo masculino, são, então, mortas com um tiro na cabeça. Essa é a causa da morte de 6 a 7 mil machos. A sua agonia dura pouco se comparada à dos filhotes da colônia. As detentoras das autorizações para o abate dizem que fazem isso pelo lucro, porém o governo alega que é para o controle da população porque as focas consomem muitos peixes e que a indústria de peles proporciona emprego.

As autorizações para o abate das focas são emitidas pelo Ministério das Pescas e Recursos Marinhos, liderados por Bernard Esau. O ministério alega que a matança é feita para fins de conservação (ou seja, abate), enquanto aqueles que lutam contra isso sabem que é resultado do ganho financeiro da matança. Infelizmente, o governo da Namíbia não consegue perceber que o aumento das quotas de pesca podem ter algo a ver com o declínio das populações de peixes, ao contrário das focas, que estão sendo usadas como bodes expiatórios convenientes ao alegarem que elas estão comendo todo o peixe.

A morte desses animais é uma prática selvagem a fim de satisfazer a ganância e a vaidade humanas. Os ossos são transformados em jóias, e das peles são feitas botas e outros artigos de luxo. No entanto, embora o governo da Namíbia afirme que nenhuma parte da foca vai para o lixo, o rendimento da Namíbia a partir da indústria de focas é de aproximadamente 120 mil dólares, enquanto um único peleiro chamado Hatem Yavuz ri com a quantia de 3,25 milhões de dólares derivada da venda de peles. Em 2008, esse peleiro assinou um contrato exclusivo com o governo da Namíbia para todas as peles de focas. Esse contrato é, aparentemente, válido até 2019. Yavuz mora na Austrália e sua unidade de processamento fica na Turquia. De acordo com o Canal 7 da Austrália, Yavuz controla 60% do mercado mundial de pele de foca. Uma vez que a Turquia não faz parte da União Europeia (cujos membros impuseram uma proibição sobre a importação e exportação de produtos derivados da foca), as peles são enviadas da Namíbia para a Turquia, onde são processadas e vendidas para países como a China e a Rússia.

Focas reunidas na Reserva do Cabo Cross

Além de Hatem Yavuz, existem predominantemente três detentores de direitos que se beneficiam financeiramente com a matança de focas, enquanto menos de 100 namibianos indígenas e desfavorecidos recebem uma ninharia para fazer o trabalho traumatizante e sujo de espancar filhotes de foca até a morte. Neste ano o ministério aumentou o número de detentores de três para seis, para desgosto dos três originais que dizem que não haverá produto suficiente para satisfazer as necessidades de negócio de todos os detentores de direitos.

Mais do que o aumento dos titulares de direitos, o abate também pode ter uma maior quota. Esau tem proclamado publicamente que a morte terá início novamente, apesar da promessa do ouvidor da Namíbia, após se reunir com as partes interessadas (incluindo a Sea Shepherd), de investigar a legalidade do abate e divulgar suas descobertas antes do início desta temporada.

As praias da Namíbia estão podres com o sangue, azedas com o leite derramado e assombradas pelos fantasmas de animais massacrados. Mas eles fazem o máximo para esconder isso dos milhões de turistas que visitam esse país africano anualmente. A matança é feita nas primeiras horas da manhã, antes da área ser aberta aos turistas. Relatórios independentes têm mostrado que o ecoturismo compassivo é de 300 a 500 vezes mais lucrativo que o negócio cruel de matar focas.

A Sea Shepherd ousou se aventurar nos campos de extermínio da Namíbia em 2011 e os resultados da Operação Focas do Deserto expuseram, para uma audiência global muito maior, a atividade feia que a Namíbia tanto queria esconder. Leis da Namíbia ditam que filmar a matança de focas é ilegal. Essas leis ridículas são vistas como uma tentativa desesperada de esconder esse crime hediondo contra a natureza.

A Sea Shepherd vai continuar a lutar e não desistir até que as focas da Namíbia possam viver sem impedimentos em um país que não seja de tirar o fôlego dessa maneira.

Foca com filhote na Reserva Cabo Cross

Traduzido por Maiza Garcia, voluntária do Instituto Sea Shepherd Brasil