Atualização de 2012 sobre a Campanha Global 3 Camadas (Global 3-Tier Campaign), para banir o tráfico de vida marinha para aquários: parte dois de duas partes
Comentário e fotos de Robert Wintner (exceto quando indicado)
Camada 3: o lado da demanda, os aquaristas domésticos.
Os aquaristas domésticos eram, antes, em média, homens de 30 a 50 anos. Agora, a liderança é modificada para as mulheres, como um peixe papagaio de lábios vermelhos.
Um peixe papagaio fêmea transmuta-se em macho dominante, fazendo a comparação ao contrário, mas a mudança de gênero é notável. Uma das teorias é a de que muitos aquaristas homens mudaram para a prática de tênis ou fotografia, esvaziaram seus aquários e partiram para buscas menos danosas. Só podemos especular. No passado, eu comparei aquaristas a psicopatas predadores. Essa comparação foi exagerada e me arrependo dela; não tornarei a fazer essa comparação, pois a paz virá para os de boa vontade.
MASNA é a abreviação de Marine Aquarium Societies of North America (Sociedades de Aquário Marinho da América do Norte), mas esse não é o apelido pelo qual geralmente os chamo. Como todos os grupos de aquaristas, ela busca pintar-se de verde, alegando salvação dos arrecifes de todo o mundo através da sua extração para aquários, para servir aos aquaristas domésticos. Ou seja, as pessoas acabam com os arrecifes, a não ser que os arrecifes signifiquem lucro por causa do comércio aquarista. A MASNA também faz coro com os aquaristas do Havaí, dizendo que a extração para aquários não é a única causa do declínio dos arrecifes.
O fórum de 2012 da MASNA foi aberto e, embora os painelistas fossem representantes do lado dos fornecedores, eles falaram sobre compreensões errôneas e preocupações dos aquaristas domésticos, especialmente para aqueles aquaristas que possam querer… desistir. A principal preocupação era a de que, hoje, as emoções dominam o discurso no Havaí. Concordo. A história do Havaí está cheia de emoções. Infelizmente, o fator emoção alinha o comércio aquarista novamente com eventos que ocorreram em vácuo emocional – como no caso de Genghis Khan, Átila o Huno, Calígula e, em tempos modernos, o ápice da falta de emoções de Himmler, Goering, Goebbels, Eichmann e todo o restante da turma sem emoção do Hitler. O comércio aquarista defende-se dizendo que os nazistas matavam pessoas, não peixes! As pessoas sempre comeram peixe! Sim, é assim que o comércio aquarista tenta justificar a extração em massa de espécies à beira da extinção. “Você come peixe, não come?” O comércio aquarista joga com a ligação com a pesca, como se comer peixe justificasse crueldade e confinamento de animais e devastação de arrecifes. E se eles fossem ao seu bairro pegar com redes todos os pássaros cantadores? Então? “Você come frango, não come?”
Um bodião limpador havaiano (hinalea) cuida de um kole tang (Ctenochaetus strigosus) limpando-o de parasitas de arrecife, controlando algas e mostrando o amor de Netuno. O comércio aquarista não consegue compreender por que as pessoas do Havaí não querem que esta cena desapareça.
Eric Cohen, da Sea Dwelling Creatures em Los Angeles, é um grande traficante de vida marinha de arrecifes havaianos para o comércio de animais domésticos. Ele lamentou a matança de peixes de Honokohau, por causa das imagens danosas e pediu: “precisamos mostrar caixas e caixas e caixas de peixes chegando vivos e saudáveis e sendo jogados em aquários onde ficam felizes!” Assim?
Quando a comissão do senado americano para águas e terras recebeu esta foto de um tang embalado em 2008, William Aila disse: “eu devia trazer minha foto preferida de um tang amarelo. Numa grelha!” Os colecionadores de aquários partilharam uma forte gargalhada. Aila, atual diretora da DLNR, afirmou que “esta não é uma questão de recursos naturais, é um conflito de consumidores”. Foto do tang embalado do DVD Hawaii Audubon, Impactos do comércio de peixes marinhos de aquário.
Eric Cohen, da Sea Dwelling Creatures, de Los Angeles, diz ser um interessado nos arrecifes do Havaí. Qual é a diferença entre um bife e a kuleana? Neste caso, o bife é monetário. Kuleana é havaiano, significa responsabilidade, geralmente com relação a uma convicção ou crença. Eric Cohen disse, “gosto muito do Havaí, tenho muitos amigos lá.” Isso soa cheio de emoção. Eric Cohen, então, avisou: “as populações de peixes chegaram às suas densidades máximas em áreas fechadas a colecionadores de aquários”. Mais uma vez, ele falou com o seu ânus. As populações de peixes foram reduzidas, apesar das restrições, e as espécies estão desaparecendo; todas espécies de peixe borboleta, Apolemichthys arcuatus de diversas cores e muitos outros peixes endêmicos. Eric Cohen é fluente em falar pelo ânus, ele é o cara que desenvolveu o programa “Smart Fish”. Segure-se. O programa Smart Fish salvará os arrecifes de colecionadores de aquários. Ninguém conhece os arrecifes e peixes mais do que os aquaristas, e eles verão o que está abundante e somente tirarão esses peixes. Eles também verão o que está escasso, ou ausente, e deixarão esses peixes em paz. Eric Cohen queria que os emocionais do Havaí tomassem esse refresco.
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Depois, vem a questão moral do tráfico de vida marinha. Um dos painelistas disse: “a questão moral é uma questão difícil de combater. É difícil dizer que temos bom terreno moral”. Outro painelista da MASNA afirmou que o comércio aquarista está com a questão moral encurralada: “somos a arca dos esforços de conservação”. Ele quis dizer a arca com dois de cada espécie e o Noé por cima para sobreviver ao dilúvio, não uma indústria multibilionária tirando de 25 a 30 milhões de criaturas anualmente para manter as vendas de aquários, estantes, luzes, filtros, bombas, produtos químicos, sais e pequenas arcas do tesouro com esqueletos de plástico assustadores dentro delas. Como um dos painelistas colocou, “não podemos utilizar o argumento da arca de Noé com o volume que movemos”. Outro painelista achou que a arca não seria um argumento se não soltassem os peixes na natureza. Ainda outro contribuiu com “acho que devemos, tipo assim, ser responsáveis em nossas compras de peixes”. E a melhor resposta para a questão moral: “eu tinha um bom argumento moral, mas me escapou completamente do cérebro”. Esse foi o Richard Ross, um biólogo do aquário Steinhart. O polvo é o invertebrado mais inteligente e deve ultrapassar com alguns pontos de vantagem em comparação e em bom-senso. Duas espécies comprometidas.
Com um grau muito avançado de “ciência de aquários”, Andrew Rhyne depende do comércio para manter seu emprego. Ele descreveu a “corrida ao topo”, através da qual um peixe colorido é vendido por alguns dólares, provocando mais pesca, levando à redução da espécie, decimando os peixes, elevando seu preço, provocando ainda mais pesca até o desaparecimento da espécie. O painel pediu a ele que parasse de falar nesses termos.
O traficante de vida marinha e analinguista Eric Cohen relatou que Bill Walsh, o homem de ponta para o comércio aquarista em Kona, Estado do Havaí, “percebeu declínios graves em áreas abertas (zonas de pilhagem) em Kona. Bill Walsh diz que somente 40% dos autorizados (para aquário) no Havaí estão fazendo relatos”. Uma checagem com as listas de carga de empresas aéreas pode torná-los honestos. Walsh duvidou de que a empresa aérea estivesse em conformidade, portanto Cohen perguntou, mas Walsh não estava ansioso.
De volta a Andrew Rhyne e ao remédio para “a situação no Havaí”. Rhyne fala contra a legislação do Havaí em nome do New England Aquarium (no Havaí?), porque aquários públicos precisam de coletores locais em arrecifes remotos para alimentar seu voraz apetite por vida marinha. Numa redenção a essa “corrida ao topo” doida, Rhyne disse: “os argumentos emocionais (contra o comércio aquarista) são um tanto ridículos. A indústria aquarista está sendo bode expiatório… precisamos mais propaganda através da DLNR”. Quanto mais propaganda a DLNR pode fornecer? “Precisamos educar o Havaí para a sustentabilidade do comércio aquarista”. Os revendedores de vida marinha dos arrecifes possuem centros de transporte próximos ao aeroporto de Los Angeles. Andrew Rhyne quer que os traficantes de vida marinha em Los Angeles eduquem o Havaí. Ele pode muito bem educar Los Angeles sobre caça sustentável em rodovias, mas quem vai pagar a ele?
A MASNA é a mesma turma que chama os esforços legislativos contra o comércio aquarista uma “série de fracassos”. Entretanto, dois terços dos moradores do Havaí querem, agora, que o comércio aquarista seja banido. O comércio aquarista diz que o Havaí foi enganado e faz referência ao “hobby, nosso hobby”, numa desconexão sombria – como os 50 colecionadores havaianos que são unha e carne com a pesca de um milhão de dólares – o que dá 20 mil para cada um, por um trabalho em tempo integral no oceano. A motivação termina, por fim, sendo os bilhões em equipamentos de aquário que são apoiados pelo tráfico de espécies marinhas em risco. A junta do aquário está tão interessada nele como hobby quanto eu, Snorkel Bob, gosto de jogar futebol de botão. O mercado aquarista e a campanha para bani-lo representam conflito cultural e moral. Como na maioria das guerras, esta também pesa sobre os recursos. William Aila, na DLNR, falou o que realmente importa ao mercado: “Esta não é uma questão de recursos, mas é um conflito de usuários.” A frase não faz sentido, mas se tornou o mantra dos aquaristas, como se absolvesse o departamento de proteção de recursos ambientais, como se a vida marinha não fosse um recurso, ou como se extrair fosse o mesmo que usar. Muita coisa está em jogo, com bilhões em renda e ações de mercado de um lado e a recuperação dos arrecifes do Havaí do outro.
Para além da praticidade está a moralidade, neste caso óbvia para alguns, mas um ponto-cego para outros. O mercado aquarista arranca Yellow Tangs, comprometendo a manutenção dos arrecifes. Um Yellow Tang vive mais de 40 anos num arrecife. O Yellow Tang começa a morrer no momento da captura. As mortes aumentam à medida que são transportados por todo o mundo. Menos da metade chega aos aquários de hobbistas. A maioria desses que chega morre no primeiro mês, em razão de erro do aquarista e por estresse acumulado. Só os 700.000 aquaristas de água salgada dos EUA são supridos, anualmente, com 24 milhões de peixes, eremitas e camarões de arrecifes.
Richard Xie é um traficante importante de vida marinha no Havaí. Trabalhamos brevemente numa ideia de reprodução em cativeiro que traria recursos financeiros para ele, aliviando a pressão e, teoricamente, reduzindo a captura de espécies na natureza. O Richard desenvolveu um tour para aquaristas para pescar com rede no Havaí e levar os peixes para casa em sacos plásticos. O Richard pode nunca ter ouvido falar da maldição de Pelé, na qual os turistas que levam uma pedrinha do Havaí estão fadados à tragédia. A oferta pela internet mostra um mergulhador ensacando um antenariídeo (peixe-sapo). Richard também tentou criar um tour para namoros chineses, mas ambos tours não foram adiante. De todos modos, o Richard partilhou o seu sucesso em pegar um Flame Angelfish na ilha Christmas. Outros ouviram e foram buscar riquezas para eles mesmos, a 40 dólares cada. Entretanto, sem suas habilidades, os outros foram para casa com tanques de peixes mortos, que eles usam para preencher pedidos, de acordo com acordos sem garantia de que os peixes cheguem vivos.
Flame Angels são tristemente símbolos desta campanha. Eles são uma lenda da Oceania, na qual o homem aquático precisa reconciliar-se com a presença não vista e assustadora de um espírito guia. Os Flame Angels resolvem o certo e o errado em mares sob pressão – adivinhe quem nosso herói precisa desafiar para conseguir sua salvação? Flame Angels é um ebook (Iguana, Toronto, 2012), ou você pode conseguir uma cópia do livro na seashepherd.org por 26 dólares e ajudar alguns amigos seus que vivem no mar.
Um traficante de vida marinha chamou o resumo do mercado de peixes de aquário, aqui em 2010, de “promoção desavergonhada” do meu livro, “Some Fishes I Have Known” (Skyhorse, NY, 2010). Eu me declaro culpado. As vendas possibilitaram mais um livro novo – “Every Fish Tells a Story” (Skyhorse, NY, 2011) – agora na seashepherd.org, onde 100% das vendas irão para a Sea Shepherd em todo o mundo. Além disso, um terceiro volume de fotografia marinha com narrativa anti-aquário é o “Neptune Speaks” (Skyhorse, NY, 2012), também na seashepherd.org.
Tantos livros, tão pouca vergonha. O comércio aquarista formará um círculo e abrirá fogo sobre este comentário. Eles me chamam de anti-cristo, Snorkel Bob Round Pants, de maníaco com uma missão e de bastardo ganancioso que quer banir o comércio aquarista para que os arrecifes se encham de peixes de modo que eu posso pedir mais dinheiro para alugar equipamento de snorkel. Eles ignoram as atrocidades. Eles vão ficar reclamando que a “propaganda de fim de mundo” e vão insistir que “os dados provam que é sustentável”. Eles se comoverão sinceramente e eu vou assumir os rótulos de missão e mania de vida. Adivinhe com quem eu preferiria tomar uma cerveja, um aquarista, ou traficante, ou “biólogo”? ou um amigo próximo que, por acaso, respira através de guelras?
A campanha para dar fim ao tráfico de vida marinha para o mercado aquarista é uma campanha contínua. Para obter atualizações, confira o site da Reef Rescue Alliance.
Faça algo imediatamente enviando email para a PETCO e suas subsidiárias:
[email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected]
Faça a PETCO saber que você não comprará nada deles enquanto traficarem vida marinha.
A repartição do legislativo e do executivo do Estado do Havaí também precisa ouvir sobre suas preocupações com relação à má administração da confiança pública e o conflito de interesses na extração comercial dos arrecifes para o comércio aquarista conforme apoiada e promovida pelos funcionários do estado do Havaí com fortes ligações com o comércio aquarista.
Envie um cartão postal para os oficiais eleitos do Havaí. É rápido, fácil e eficaz: nós mandamos para você. Selecione um dos quatro desenhos e formate a sua própria mensagem sobre por que você quer que o tráfico de vida marinha dos arrecifes de coral termine: http://reefrescuealliance.org
Robert Wintner serve no quadro de conselheiros da Sea Shepherd (Sea Shepherd Board of Advisors). Tripulando o Ocean Warrior em 2001, ele ajudou a expor os governos do Japão e de Sta. Lucia por baleeismo comercial no Caribe Ocidental com exposição à mídia internacional, o que foi crucial em assegurar a moratória da caça às baleias por mais um ano. Ele também é conhecido como Snorkel Bob, com lojas de snorkel por todo o arquipélago havaiano.
Traduzido por Carlinhos Puig, voluntário do Instituto Sea Shepherd Brasil