Editorial

Nossas sinceras desculpas, primeira-ministra

Comentário do Capitão Paul Watson

Nossas desculpas, primeira-ministra. Desculpe por não estarmos correndo, dando a volta ao mundo para estabelecer um novo recorde de dez milhões de dólares navegando nossa embarcação que foi destruída por uma tempestade.

Desculpe por não sermos uma embarcação russa de pesca ilegal roubando merluzas-negras das águas da costa da Antártica, onde furamos nosso casco, e precisamos da sua ajuda.

Desculpe por não sermos uma embarcação de eco-turistas encalhada na praia da Antártica precisando de sua ajuda.

Infelizmente não estamos quebrando recordes, roubando peixes ou olhando abobados para os pinguins.

Nós estamos tentando parar a caça ilegal de baleia. Com certeza você deve se lembrar de 2007, quando Peter Garrett nos prometeu que o seu governo iria ser firme com a caça à baleia, e que o seu governo iria realmente fazer alguma coisa à respeito.

Então, agora, que três cidadãos australianos abordaram uma notória embarcação de caça à baleia dentro da Zona Contígua, a 16 milhas da costa da Austrália Ocidental, para chamar atenção para aquilo que o seu governo se recusou a fazer, você quer que a Sea Shepherd ajude a pagar a conta.

Você nunca pede isso para pescadores ilegais, iatistas e operadores de eco-turismo, porque eu acho que você acredita que as atividades deles são mais válidas e, portanto, mais dignas do gasto de dólares de impostos para tirá-los de problemas.

A sugestão da primeira-ministra Julia Gillard, e da procuradora-geral Nicola Roxon, de que a Sea Shepherd deveria ajudar a pagar a conta do resgate dos três australianos do Shonan Maru 2 é absurda.

É claro que eles tiraram uma página da Manipulação Política da Mídia 101, onde políticos buscam apoio indiretamente, demonizando uma organização não-governamental ou individual por custear com o dinheiro dos contribuintes. O raciocínio deles é o de que o público perderá a simpatia se perceberem que sua ação custará dinheiro do contribuinte.

Eu esbocei dez razões válidas pelas quais a Sea Shepherd não deve, e não irá, contribuir para o custo do resgate desses três cidadãos australianos do Shonan Maru 2:

1.    Essa é uma responsabilidade do governo.
2.    O custo não teria ocorrido se o governo tivesse cumprido com as promessas de campanha, de realmente fazer alguma coisa sobre a caça ilegal às baleias no Oceano Austral.
3.    Essa não foi uma iniciativa da Sea Shepherd, nós apenas ajudamos. Essa foi uma operação da base australiana feita pela Forest Rescue, uma organização australiana, e que ocorreu em águas territoriais australianas.
4.    A Austrália deveria cobrar o Japão pelos custos. O Shonan Maru 2 não podia estar em águas territoriais australianas e não podia deter três cidadãos da Austrália à bordo de um navio japonês em águas territoriais australianas.
5.    Se o governo tivesse agido rapidamente, ao invés de acreditar em falsas coordenadas dadas a eles pela indústria baleeira japonesa, então os três homens talvez tivessem sido retirados do navio perto da costa.
6.    O acordo do governo australiano com os japoneses era de transferir os homens de modo a não ter que reduzir a velocidade do Shonan Maru 2, de modo que eles pudessem continuar a perseguir o Steve Irwin. Por que seria esperado da Sea Shepherd que contribuísse com uma operação que prejudica a nossa efetividade e permite com que o resto da frota baleeira nos evite?
7.    Quando um iatista rico se perde ou tem problemas no Oceano Austral, não se medem as despesas para salvá-lo, e não se pede que eles ajudem a pagar os custos. Por que nós deveríamos ser requisitados a pagar, quando os australianos são de outra organização, e estão, simplesmente, fazendo o trabalho que o governo havia dito que iria fazer, mas não está fazendo?
8.    Se o governo da Austrália tivesse um navio estacionado monitorando a situação, não haveriam despesas a mais.
9.    Talvez a primeira-ministra e a procuradora-geral devessem pegar uma parte dos fundos do recente aumento de salário que elas votaram para elas mesmos para ajudar a reduzir os custos.
10.    O governo bloqueou e negou nosso pedido de isenção de impostos na Austrália por oito anos consecutivos, o que nos gerou uma perda de recursos significativa, que poderia nos permitir sermos mais eficazes. De fato, se eles nos tivessem dado o status de entidade não-lucrativa, possivelmente estaríamos na posição de poder fazer uma doação à primeira-ministra para ajudar a compensar a loucura do governo em permitir os baleeiros japoneses a continuar a aterrorizar as baleias indefesas no Santuário de Baleias do Oceano Austral.

Traduzido por Carlinhos Puig, voluntário do Instituto Sea Shepherd Brasil