Editorial

Namíbia se utiliza de truques antigos e inúteis para defender a matança de focas

Comentário do Capitão Paul Watson

Oswald Theart finge amar uma foca (foto de arquivo)

É uma velha tática da Era Reagan criar organizações que parecem ser de conservação, mas que, na verdade, representam exatamente o oposto. Naquela época, por exemplo, nós tínhamos os Friends of the Sea Lions e Friends of the Dolphins, ambos grupos criados e financiados pela indústria do atum que, na verdade, apoiou a morte de leões marinhos e golfinhos.

As pessoas perceberam isso muito rapidamente, pois o público não era tão estúpido quanto as empresas de relações públicas dessa indústria achavam que fosse. Mas parece que essa tática está sendo usada agora na Namíbia, onde foi formado um grupo chamado Namibia Seal Conservation.

A primeira coisa que esse grupo fez foi denunciar cada organização envolvida na tentativa de acabar com a matanças de focas na Namíbia.

O jornal Namibia Economist publicou um artigo nessa semana:

Um novo grupo de conservação que se intitula Namibia Seal Conservation tem se pronunciado fortemente contra outros grupos de direitos dos animais, os quais vêm pedindo o boicote de produtos manufaturados localmente devido ao que eles chamam de mortes desumanas de focas no país. Oswald Theart, porta-voz do grupo, pediu ao Governo nessa semana para ignorar ativistas como Seal Alert, Seals of Namibia e a Sea Shepherd da África do Sul, “já que são apenas rebeldes sem causa”. O grupo Namibia Seal Conservation disse que é contra a crueldade com animais, mas acredita que as práticas atuais de abate são as mais humanas conhecidas pelo homem.

Agora, você se pergunta quem é Oswald Theart. Ele é um homem branco que se descreve como um artista especializado em criar bolsas de couro, cujo filho dirige o resort do Safari Ngandu. Ele escreve em seu Facebook:

“MINHA CAUSA É CONTRA OS DEFENSORES DE FOCAS QUE ESPALHAM TANTAS MENTIRAS SOBRE MEU LINDO PAÍS, A NAMÍBIA, SE ELES NÃO FOREM CONTRARIADOS IRÃO CAUSAR DANOS IMENSOS E IRREPARÁVEIS AO MEU PAÍS, OBRIGADO E GENTILMENTE COMPARTILHEM ISSO COM TODOS SEUS AMIGOS.”

Agora, o Namibia Seal Conservation dificilmente é uma ameaça à causa de parar a matança de focas sul-africanas. Eles têm apenas 231 apoiadores na sua página do Facebook. Mas o que a criação desse grupo nos diz é que as organizações que se opõem ao abate estão tendo um impacto.

O governo da Namíbia está preocupado, assim como a comunidade empresarial da qual Oswald Theart e seu filho fazem parte, e eles deveriam estar preocupados, pois há um crescente boicote de turistas ao país. Apesar da afirmação ridícula de Theart de que o abate é “o mais humano conhecido pelo homem”, o mundo está se informando sobre quão cruel e selvagem realmente é o massacre anual de filhotes de foca.

Eu adoro como ele se refere a nós, “como eles são apenas rebeldes sem causa”. Que piada! O grupo deles certamente tem uma causa – ganhar dinheiro –, mas eles têm apenas 231 apoiadores e Theart se refere a grupos que, conjuntamente, possuem centenas de milhares de apoiadores como “não tendo uma causa”. O que ele realmente está dizendo é que compaixão e conservação não são causas, mas ganhar dinheiro, sim.

Estou postando isso apenas para mostrar que essa organização é representativa de uma tática que fracassou nos anos 1980 e fracassará novamente. O público não é tão estúpido quanto Oswald Theart e seu grupinho de seguidores de mesma opinião acham que é.

No fim das contas, o desespero deles é um incentivo ao nosso desenvolvimento e eu incitaria todos nós que estamos trabalhando para acabar com essa matança desumana a simplesmente ignorar esse falso grupo de conservação, assim como farei após essa postagem. Não há necessidade de nenhum de nós perder mais tempo e energia para responder ou reagir a esse cavalo de tróia. Precisamos nos concentrar em falar a língua que todos os políticos entendem – economia. O boicote ao turismo na Namíbia está crescendo e realmente deveríamos dar uma atenção especial em boicotar o resort do Ngandu Safari.

A matança de focas naquele país é uma questão ecológica e isso é uma questão de crueldade. O número desses animais foi drasticamente reduzido ao longo do último século e isso não é saudável para o ecossistema marinho da África do Sul como um todo. Precisamos de mais focas, não de menos.

O abate de filhotes de focas é uma prática selvagem que não tem lugar no mundo civilizado. Nós precisamos destruir globalmente o mercado de peles desses animais e, nesse sentido, temos feito grande progresso.

É para a economia e o mercado de peles que precisamos dirigir nossa atenção e não para grupinhos bobos de defesa da crueldade, como o Namibia Seal Conservation e seus apoiadores cheios de interesses.

Traduzido por Flávia Milão e Maiza Garcia, voluntárias do Instituto Sea Shepherd Brasil