Em 13 de julho de 1699, uma viúva inglesa chamada Felicity Comon foi acusada de feitiçaria por um vizinho. As autoridades inglesas a jogaram no rio Tamisa, para ver se ela iria nadar ou se afogar. Se ela nadasse, ela seria considerada culpada, e se ela se afogasse, ela seria considerada inocente. O raciocínio é que Deus iria rejeitá-la por causa de sua culpa, e impedir o seu afogamento. No entanto, os Tribunais ingleses foram mais do que justos, e atenderam o seu, que consistia em lançá-la no Rio Tamisa uma segunda vez no dia 19 de julho. Infelizmente para a viúva Comon, ela não se afogou, mas para que não houvesse qualquer dúvida eles a jogaram de costas para o rio e, novamente, a mulher teimosa foi rejeitada por Deus, e mais uma vez nadou para a margem, para os braços de seus captores. Ela foi levada de volta para a Torre de Londres e lá ficou até 27 de dezembro. Dois dias depois do Natal, ela foi enterrada viva, como uma bruxa condenada.
Em Taiji, esta semana, o cidadão holandês Erwin Vermeulen foi levado preso pela polícia da Prefeitura de Wakayama em Taiji. Eles o acusaram de agressão porque um funcionário do Hotel Dolphin Resort alegou que Erwin o empurrou. Erwin nega essa acusação, e não há testemunhas para afirmarem a história do acusador.
Em contraste a isso, a Guardiã da Enseada, Rosie Kunneke, da África do Sul, foi recentemente agredida na frente de testemunhas por um pescador em Taiji. O homem foi apenas interrogado e liberado. Aparentemente, no Japão existem dois pesos e duas medidas em relação à lei, dependendo da sua raça e cidadania.
De acordo com a lei japonesa, Erwin pode ser detido por até 23 dias. Ele não tem permissão para receber visitas e não lhe foi dada a oportunidade ainda de falar com a Embaixada da Holanda.
No entanto, a polícia disse que eles vão liberá-lo dentro de dois dias, se ele simplesmente se declarar culpado.
No Japão, uma pessoa é culpada até que se prove inocente e a condenação pelos tribunais japoneses é de cerca de 98%, porque a maioria destas condenações são baseadas em confissões durante os 23 dias em que a pessoa é detida para interrogatório. Assim, as opções são ficar preso durante 23 dias antes de ter acesso a um advogado e depois, formalmente, ser acusado e aguardar um julgamento em que há uma chance de 98% de condenação, ou se declarar culpado. Portanto, a lógica é que é melhor pleitear a culpa e exibir remorso pelo “crime” ao invés de defender sua inocência.
Parece também que eles escolheram Erwin, um cidadão holandês, porque dois dos navios da Sea Shepherd são registrados na Holanda, e isso é um sinal para que os holandeses cumpram as exigências japonesas de interromper as atividades da Sea Shepherd contra a caça ilegal de baleias pelas operações japonesas na Antártida.
A situação de Erwin não é tão drástica como ter que se afogar para demonstrar inocência, mas o mesmo tipo de lógica autoritária prevalece. Em outras palavras, independentemente das provas ou falta de provas, e com base na acusação de uma pessoa, Erwin pode esperar por “justiça” só se ele se declarar culpado.
Isto, obviamente, vai dar aos japoneses a prova de estarem desesperadamente tentando provar que os Guardiões da Enseada são um grupo violento e criminoso.
Erwin se recusou a falar com a polícia porque lhe foi negado o devido processo legal. Como tal, ele ficará preso durante o período “legal” que ele pode ser detido sob a lei japonesa, sem acusações formais.
Em troca de sua compaixão para com os golfinhos e sua oposição não-violenta para o horror da matança de golfinhos em Taiji, a polícia japonesa decidiu que é hora de “ser medieval” com os Guardiões da Enseada.
Considerando a barbaridade cruel da matança dos golfinhos indefesos de Taiji, isso não é surpreendente.
Traduzido por Raquel Soldera, voluntária do Instituto Sea Shepherd Brasil