Editorial

Homens da Forest Rescue se arriscam pela Sea Shepherd

Comentário do Capitão Paul Watson

Da esq. para dir.: Geoffrey Tuxworth, Simon Peterffy, e Glen Pendlebury

Da esq. para dir.: Geoffrey Tuxworth, Simon Peterffy, e Glen Pendlebury

Das florestas para o oceano, três corajosos australianos intervieram para defender as baleias.

Geoffrey Tuxworth, Simon Peterffy e Glen Pendlebury vieram até nós com um pedido de apoio para abordar o Shonan Maru #2. “Podemos ajudar a tirar aqueles pescadores ilegais da sua cola”, eles disseram.

O infame navio estava parado a 14 milhas ao largo de Fremantle, esperando que o Steve Irwin partisse, de modo que pudessem retomar a perseguição à tripulação da Sea Shepherd de volta ao oceano do sul.

O Shonan Maru #2, o mesmo navio que há duas temporadas havia partido o Ady Gil ao meio, destruindo-o. O mesmo navio que havia levado Pete Bethune, da Nova Zelândia, prisioneiro, quando ele abordou o navio, após a destruição de seu barco. O mesmo navio cujo capitão e tripulação recusaram-se a cooperar com a investigação da Austrália e da Nova Zelândia sobre a destruição do Ady Gil. O navio que agora estava à espreita ao largo de Fremantle, desafiando uma decisão da Corte federal australiana, de 2008, que baniu navios baleeiros de águas australianas.

O mesmo navio que uma porta-voz do ministro de relações exteriores Kevin Rudd disse que “não é bem-vindo”.

“O governo expressou repetidamente sua preocupação diretamente ao governo japonês”, disse ela. “Além disso, se a nau japonesa aportar na Austrália, as autoridades apropriadas teriam o direito de acusar o mestre do navio por violar as leis australianas”.

O Shonan Maru #2 seguiu o Steve Irwin e o Brigitte Bardot por 1200 milhas do oceano Austral até Fremantle. Sua missão é seguir o Steve Irwin e não permitir à Sea Shepherd se aproximar do enorme matadouro flutuante de baleias japonês – o Nisshin Maru.

“Nosso governo não fez nada enquanto ficaram parados lá fora como se fossem donos do lugar, com uma embarcação armada, tripulada por agentes da guarda costeira do Japão”, disse Simon Peterffy. “Isto aqui é a Austrália e esses assassinos de baleias não têm o direito de estar aqui e o governo não tem coragem de fazer nada à respeito. Queremos abordá-lo. Vocês nos apoiam?”

Eu disse a eles que havia o perigo de que o governo do país deles poderia não responder, e eles poderiam ser levados ao Japão como prisioneiros. “Bem, se for esse o custo, então que seja esse o custo, mas alguém precisa fazer o trabalho que o governo não está fazendo”, disseram.

E assim, combinamos que os três seriam levados de barco para o encontro de dois RHIBs da Sea Shepherd, a cerca de 16 milhas ao largo da costa, próximo a Bunburry, na Austrália Ocidental. Isso é bem dentro da zona contígua à Austrália.

A zona contígua à Austrália é adjacente ao seu território marinho, estendendo-se 24 milhas náuticas da linha inicial do mar territorial. Nessa zona, a Austrália pode exercitar o controle necessário para a prevenção ou punição de leis e regulamentos da alfândega, do fisco, de imigração ou sanitárias. Ela estabelece que é a Austrália quem decide quem entra ou sai da Austrália. O Japão não tem autoridade para retirar cidadãos australianos dessa zona sem a permissão do governo australiano.

Foi dentro dessa zona que o Steve Irwin despachou os barcos e os enviou de volta 12 milhas por trás do Shonan Maru #2. Era lua cheia, mas as nuvens cobriam a faixa de mar com uma escuridão fechada.

No escuro da noite, eles desapareceram, enquanto a tripulação do Steve Irwin os guiava através do radar, com telefones via satélite, até o alvo.

O Steve Irwin tinha postado no site da Sea Shepherd que o navio estava tendo problemas nas máquinas e que tinha parado para reparos, bastante conscientes de que os baleeiros japoneses monitoram a página de internet. Quando o Steve Irwin parou na noite escura com as luzes de Bunbury no horizonte distante, o Shonan Maru #2 também parou, cerca de doze milhas distante e ficou à deriva.

Ninguém tinha a ilusão de que seria fácil. O Shonan Maru #2 estava todo encrespado com longos espetos protuberantes para fora em toda a volta do navio. Entre os espetos, havia arame farpado. Também havia agentes da guarda costeira japonesa armados a bordo, vestidos de preto da cabeça aos pés, com máscaras pretas cobrindo suas caras, parecendo ninjas de um filme de artes marciais barato, espreitando por detrás de escudos anti-tumulto.

O trio da Forest Rescue estudou fotos das defesas do Shonan Maru #2 e disseram “sem problema”.

Enquanto os oficiais da ponte do Steve Irwin observavam o Shonan Maru #2 na tela do radar, esperávamos ansiosos por notícias dos barcos.

O telefone tocou. Más notícias! Um dos barcos da Sea Shepherd teve falha do motor e estava parado na água. Tomei a decisão de enviar o outro barco Delta adiante e deixar aquele à deriva. Eu disse, “completem a missão”.

O Delta correu adiante, com cinco milhas ainda por percorrer e a aurora estava começando a pintar de cinza o céu a leste.
O alvo na tela do radar não se movia.

De repente, o Shonan Maru #2 começou a se mover e a se mover rápido. De estar à deriva para cinco nós, para doze nós e para totais dezessete nós. Sabíamos que tínhamos sido descobertos, mas teria sido antes ou depois de que eles pudessem abordar o navio?
Alguns minutos depois, o telefone tocou. Era o Delta. “Os três homens estão a bordo do Shonan Maru #2”.

O navio não estava em movimento quando eles chegaram. Havia um guarda no convés de popa. Mas antes que ele pudesse chegar à ponte, a tripulação encontrou um pequeno buraco no arame farpado. Chad Halstead, pilotando o Delta, colocou a ponta do barco entre duas lanças e os três homens escalaram através do buraco no arame farpado e para o convés no instante em que o navio arrancou para frente com força total.

O trio da Forest Rescue furou a segurança da embarcação de segurança da frota baleeira japonesa, algo que tinham prometido que nunca iria acontecer novamente, depois que Pete Bethune tinha feito o mesmo em 2010.

Quatro horas depois, o Steve Irwin estava a caminho do sul a toda velocidade com o Shonan Maru #2 em plena perseguição. A pergunta é: será que o Shonan Maru #2, navio armado sob o comando da força da guarda costeira japonesa, irá retirar três cidadãos australianos do território da Austrália para levá-los de volta ao Japão? Como o governo australiano irá responder ao fato de australianos serem expatriados sem a liberação da alfândega e da imigração e sem passaportes? Será que o Shonan Maru #2 irá levá-los prisioneiros até a Antártica antes de retornar ao Japão, mantendo-os encarcerados em uma embarcação estrangeira por três meses? As repostas a essas perguntas devem se desenrolar nos próximos poucos dias.

O objetivo da Sea Shepherd é retornar ao Santuário de Baleias do Oceano Austral para apoiar o navio Bob Barker em sua perseguição à frota baleeira japonesa. O Shonan Maru #2 tem o objetivo de seguir o Steve Irwin de modo a impeder que encontremos o Nisshin Maru. O objetivo dos três homens da Forest Rescue aprisionados pela embarcação japonesa é fazer parar a perseguição illegal do Steve Irwin em águas australianas e permitir ao Steve Irwin continuar seu retorno para o Santuário das Baleias do Oceano Austral para dar assistência aos esforços do Bob Barker na perseguição da frota baleeira japonesa.

Traduzido por Carlinhos Puig, voluntário do Instituto Sea Shepherd Brasil