Editorial

A arte de caçar baleeiros

Comentário por Capitão Paul Watson

Doug O'Neil lança um balão meteorológico para o céu Oceano Antártico (Foto: Barbara Veiga)

Doug O'Neil lança um balão meteorológico para o céu Oceano Antártico (Foto: Barbara Veiga)

É difícil descrever a imensidão do oceano Austral e o Santuário de Baleias do Oceano Austral, e ainda mais difícil explicar o desafio impressionante de caçar a frota baleeira nessas águas remotas, muito frias e hostis.

Imagine pegar três carros e partir de Los Angeles, nos Estados Unidos, ou Perth, na Austrália. Em algum lugar, em uma área muito maior do que a Austrália e os Estados Unidos, há quatro carros que você precisa encontrar. Eles podem estar em Fargo, Dakota do Norte ou em Tallahassee, na Flórida, ou poderiam estar em Alice Springs ou Adelaide, ou poderiam estar em uma das milhares de paradas para descanso em qualquer estrada ou rodovia, em qualquer país.

Em outras palavras, estamos falando de algo G-R-A-N-D-E. Centenas de milhares de quilômetros quadrados! E os nossos carros se movem a apenas cerca de 18 quilômetros por hora. Por onde você começaria?

Em 2002, quando pela primeira vez nos aventuramos no oceano do sul, nós não encontramos a frota japonesa, mas, desde então, estamos mais fortes a cada ano, e melhor equipados. Agora, com três navios e um helicóptero, somos mais fortes do que jamais fomos, e conseguimos encontrar os baleeiros e mantê-los correndo.

Quando os navios do Greenpeace se aventuraram por aqui, nestas águas, há alguns anos, os baleeiros continuaram com sua atividade horrível, sem se intimidar pelas câmeras e pelos banners pendurados. O Greenpeace tem algumas cenas horríveis de baleias morrendo, mas as câmeras não pararam a matança. Os baleeiros japoneses trataram o Greenpeace como um aborrecimento, mas a matança continuou implacável.

Para ser justo, os tripulantes do Greenpeace eram apaixonados pela causa, mas eram limitados pelas restrições burocráticas de sua organização, e por esta política revisionista do chamado “testemunho”. Finalmente, percebendo que os banners pendurados foram inúteis, o Greenpeace se retirou definitivamente do Oceano Antártico.

Nos primeiros dias, quando eu era diretor e ativista do Greenpeace, nós não apenas testemunhamos as atrocidades, interferimos. E é precisamente isso que a Sea Shepherd continua fazendo. Nós não estamos aqui para testemunhar a matança de baleias, estamos aqui para impedir a matança de baleias. Até agora este foi um ano muito bom. Os baleeiros só tiveram alguns dias para caçar, com apenas um navio arpoador, enquanto fugiam. Foram pegos antes que começassem a caça às baleias, e agora estamos perseguindo a frota há quase um mês.

Mas o grande desafio é encontrá-los. Então, como fazemos isso?

Primeiro, identificamos a área geral de suas operações ilegais a cada ano. Há duas áreas. A primeira é a costa da Antártica, do sul da Tasmânia ao litoral oeste a sul da África. A segunda região, onde estamos este ano, é a costa da Antártida, ao sul da Tasmânia, a leste da área do outro lado do mar de Ross.

Cada uma dessas duas regiões é imensa, é claro. Eu prefiro a zona do mar de Ross, porque a frota baleeira tende a ficar dentro dessa gigantesca baía do Oceano Austral e o gelo tende a canalizar os baleeiros em certas áreas. Nós então tendemos a olhar para o oceano da forma que uma baleia faz.

Quando uma vez perguntaram ao ladrão de bancos, Willie Sutton, por que ele roubava bancos, ele respondeu: “Porque é lá que está o dinheiro”.

Dizemos a nós mesmos: por que uma baleia vai a uma determinada área? A resposta é: porque é lá que o krill está. E então olhamos para onde os plânctons crescem, que tem muito a ver com as correntes oceânicas e as temperaturas. Estudamos também os gráficos de gelo.

Tripulação prepara os balões metereológicos para o lançamento (Foto: Barbara Veiga)

Tripulação prepara os balões metereológicos para o lançamento (Foto: Barbara Veiga)

Com os nossos dois navios equipados com um heliporto, os colocamos em uma formação de busca e patrulha com o helicóptero, que aumenta o nosso alcance. Este ano também implantamos uma nova tecnologia, o uso de balões meteorológicos, que está funcionando muito bem. Os balões meteorológicos são implantados com um recurso de câmera, juntamente com equipamentos para detectar sinais de rádio e radar. Sobem muito alto, cerca de 30.000 pés, e enviam alguns dados muito valiosos, que tem provado serem muito úteis em encontrar os baleeiros nesta temporada.

A melhor tática para defender as baleias aqui no Oceano Antártico é manter os navios baleeiros correndo, enquanto queimam combustível e capturam poucas baleias.

A chave para colocar um fim na caça às baleias é a economia. Obter o apoio do povo japonês é muito bom, mas nada garante que os baleeiros se importem com a opinião pública. Como canadense, eu sei que a maioria dos canadenses se opõe à horrível matança de focas anual, mas o governo canadense continua a subsidiar a indústria. Por quê? Porque nunca é o que o povo quer, é o que os burocratas e as corporações querem.

No entanto, o corte de lucros é algo que eles entendem, e notam. E a Sea Shepherd reduziu consideravelmente os lucros, e irá reduzir mais do que nunca nesta temporada. Este é o motivo pelo qual o governo japonês vem concentrando o maior empenho diplomático com a Austrália, os Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia e Holanda, em um esforço desesperado para fechar a Sea Shepherd.

O melhor reconhecimento de nossa eficácia vem da Agência de Pesca japonesa e do Instituto de Pesquisa de Cetáceos (ou de Eliminação, como gosto de chamá-lo). Ambos os grupos tem denunciado a Sea Shepherd por reduzir as suas quotas e os seus lucros. Os críticos tendem a ter apenas opiniões sem muita substância, e os nossos críticos tem o direito de dizer o que quiserem sobre a nossa eficácia. Nós só precisamos olhar para os nossos verdadeiros inimigos – os baleeiros, para validarmos nossa estratégia e tática. De acordo com os baleeiros, a Sea Shepherd está ferindo-os.

Devo admitir que eu tenho um grande prazer em ver o matadouro sujo flutuante do Nisshin Maru correndo desesperadamente cada vez que nos vê. Este desespero nunca foi mais evidente do que ontem, dia 24, quando destruiu os campos de gelo espessos e perigosos, na tentativa de fugir de nós.

No próximo ano pretendemos estar ainda bem mais preparados. Nós poderíamos usar um terceiro navio maior, um para cada um dos navios arpoadores. Se dois navios podem manter dois navios arpoadores ocupados, três navios podem manter todos os três navios arpoadores ocupados.

Também estamos trabalhando na aquisição de dois veículos aéreos de longo alcance, equipados com câmeras e equipamentos de detecção. Este ano os baleeiros podem correr, mas eles não podem mais se esconder – dos nossos balões!

Traduzido por Raquel Soldera, voluntária do ISSB.