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Passeio em Copenhague, ou a Olim-piada dos insensatos

Por José Truda Palazzo Jr.

Veículo cariocófilo, porém democrático, a´O ECO compete a árdua tarefa de me deixar fazer pouco da “conquista” de Lulla Roussef em trazer as Olimpíadas de 2016 para o rotundo e subsidiado seio da empresariada brasileira. Não me quererão menos meus colegas de redação por isso, estou certo, porque acredito que a minha indignação com o espetáculo circense do Einstein de Garanhuns chororô entre atletas aposentados e cartolas refestelados não seja só minha, mas de muitos brasileiros, inclusive cariocas, que possuam mais de um neurônio funcionante.

Copenhague não é perto. Portanto, imaginar que a Presidência de Pindorama deslocará para lá o caríssimo avião presidencial estrangeiro (francês) duas vezes no mesmo ano, é desconhecer a agenda de prioridades econômicas planaltenses. Lullão Metralha não irá à conferência do clima que decidirá não só o futuro do Brasil, mas de todo o planeta. Não. A prioridade é o futuro de seus aliados na eleição de 2010, que é o máximo que o Grande Líder e sua Plastificada Musa Candidata dos Empreiteiros consegue enxergar em termos de futuro. E para isso, a complementar a bolsa-esmola, o financiamento da construção civil predatória, insustentável e anti-qualidade de vida (vejam os projetos pipocando com grana da Caixa Econômica Federal), a enxurrada de carros particulares subsidiados para aumentar o caos urbano, as Olim-Piadas de 2016 vêm muitíssimo a calhar.

Bonito seria sediar os Jogos no Rio de Janeiro se fosse verdade a falácia de que isso vai melhorar em muito as mazelas sociais da cidade e seu entorno. Mas quem sobreviver ao crime de lesa-pátria das eleições compradas por antecipação de 2010 verá que é tudo farsa. Neste mesmo boquirroto veículo, Marcos Sá Corrêa acaba de demonstrar que a promessa de se plantar24 milhões de árvores para a Olimpíada é pura balela, uma impossibilidade física e apenas uma das muitas mentiras que cercam o “projeto” (melhor dito, loteamento a empreiteiros amiguinhos) do evento e suas muitas obras prometidas.

A festa lullesca em Copenhague foi muito mais amplamente noticiada do que estão sendo, e serão, as armações criminosas que agora o PoTestado stalinista porá em marcha para impedir que os muitos impactos ambientais, disfarces sociais e desperdícios econômicos sejam detectados, fiscalizados e corrigidos pela sociedade através dos mecanismos constitucionais de controle do Estado. Não é outra a indicação da notícia que deixa claro que o (des)governo e a claque empresarial que parasita o dinheiro público planejam mais um atraque político contra o TCU, o IBAMA e o Ministério Público, para impedir que se tomem medidas legais contra as obras da Olim-Piada.

Esquecendo-se (?) de que há em vigor no país um arcabouço legal para o meio ambiente, ameaça-se com uma “regulamentação do Artigo 23 da Constituição” que proponha um “marco regulatório” para a “questão ambiental”. Tradução: vamos aproveitar o oba-oba reinante para estuprar ainda mais a legislação ambiental e acabar com a supervisão do IBAMA e os poderes do Ministério Público e do TCU de suspender as ilegalidades. Não que isso seja novidade: já está em marcha coisa semelhante para destroçar a legislação que protege a biodiversidade, como denunciam as principais ONGs ambientalistas do país em recente manifesto.

Não por coincidência, nessa nova iniciativa genial do Einstein de Garanhuns para acabar com a gestão ambiental no Brasil, a farsa do pré-sal também pega carona, e vai se tentar também eximir a exploração e explotação de petróleo, com todos os seus impactos potenciais, dos processos normais e regulares de licenciamento ambiental e supervisão pelo TCU.

Também não por coincidência, a famigerada Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), que domina as discussões no Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico Social sobre o tema, está colada à brilhante iniciativa, dando seguimento ao seu histórico de representar o que há de mais troglodita no empresariado nacional naquilo que tange ao meio ambiente, como já vimos aqui mesmo nesta coluna. A mentalidade de combate explícito à proteção ambiental em grandes obras, que norteia a visão dessa gente, tem um excelente exemplo num documento lá de 2007 produzido para a Associação Brasileira de Concessionárias de Energia Elétrica, que vale conhecer para entender qual a estratégia. As referências, neste documento, a chefetes políticos do Executivo como (Jerson) Kelman, verdadeiro faraó dos órgãos federais de águas e energia protegido de Dilma Roussef, e o folclórico deputado paranaense Michelletto, inimigo declarado da conservação da Natureza, deixam claro o âmbito de alianças que buscam destruir a legislação ambiental vigente para apressar a derrama de verbas públicas em empreendimentos faraônicos desnecessários, altamente impactantes e caríssimos, da genocida usina de Belo Monte às “infra-estruturas” capengas prometidas para o Rio de Janeiro até 2016.

Por isso, meus caros e minhas caras, o mesmo presidente (com p minúsculo) ignorante e prepotente em termos ambientais que acaba de rejeitar o desmatamento zero na Amazônia, para defender a mesma corja predatória que sustenta seu partido e aliados, e que se pendurou em Eike Batista para fazer o lobby do Rio 2016, não irá usar sua influência de ser “o cara” para gringos deslumbrados e influir positivamente nas discussões sobre o futuro do planeta que vem por aí. Mais petróleo, mais usinas, mais desmatamento pra usinas mal planejadas, vacas e soja, e dane-se que em 2050 nossos filhos e netos viverão num mundo infernal – afinal, se não aceitamos o terceiro mandato do Grande Líder, se ao menos aqui a cidadania ainda não se vendeu totalmente para a perpetuação da banda podre do PT no poder, pra que se preocupar com 2050? Viva então 2010 travestido de 2016!