Editorial

Operação Focas do Deserto: inapropriada para corações fracos

Comentário pelo Capitão Paul Watson

Foi um longo voo por Shetlands, mas cheguei à Johanesburgo sem estar cansado demais, e pronto para fazer minha conexão para Durban. Decidi utilizar o meu passaporte canadense para entrar, embora ambos passaportes (meu outro passaporte é dos EUA) estejam marcados na lista azul. 

A mulher na imigração checou meu passaporte e disse: “você é procurado pela polícia sul-africana”.

“Na verdade, não”, respondi. “Eu sei que parece isso, mas não se trata de um problema. É só você requisitar a vinda da polícia que, em poucos minutos, podemos esclarecer isso e estarei indo para meu destino”.

Ela me olhou com curiosidade, enquanto eu dizia, “é a mesma lista na qual o Dalai Lama está. Estamos, nós dois, descritos como terroristas por razões políticas, ele pela China, eu pelo Japão, mas não há mandatos de prisão”.

Um agente de polícia se aproximou e ele foi bastante amigável. Falamos sobre o mandato, sobre Nelson Mandela, da viagem dele para o Canadá… uma só vez, etc., até que chegamos à delegacia de polícia do aeroporto. “Espere aqui que vou checar o seu passaporte para obter mais informações”, disse ele.

Havia outro homem na área de espera, um cara da Cidade do Cabo. Nos cumprimentamos, enquanto os agentes digitavam em seus teclados de computador. A mulher atrás da escrivaninha tinha uma ficha minha toda colorida, com foto e digitais.

O telefone tocou e o meu agente amigável disse, “Ok, há um mandado de prisão… entendo… tudo bem, vamos mantê-lo aqui até que ele possa ser transferido”.

Então, pensei comigo mesmo: “Bem, isso é novidade. O que farei agora? Ah, bem, sempre tem alguma coisa”.

Enquanto me preparava para ser algemado e fichado, o agente colocou o telefone no gancho e se virou para o outro cara que estava esperando e disse: “Tem um mandado da Cidade do Cabo para você por posse de drogas”.

O homem protestou por sua inocência e senti pena dele, mas eu estava era aliviado por ele não estar falando de mim. O agente, então, virou-se para mim e me devolveu meu passaporte dizendo, “você está livre para ir – e por falar nisso, adoro o seu programa de TV!”.
E saí dali para pegar minha conexão para Durban, para apresentar o filme de Trish Doman, Ecopirata: A história de Paul Watson, no Festival Internacional de Filmes de Durban. Ao chegar, fui pego por uma enxurrada de entrevistas da mídia.

Entretanto, eu estava um pouco preocupado com a legislação, não da África do Sul, mas da Namíbia. Ao longo de todo o último mês, uma tripulação na Namíbia trabalhou no registro do horrível massacre de focas pelos sul-africanos (do Cabo), numa campanha que foi muito bem batizada por nós de Operação Focas do Deserto, e que foi liderada por Steve Roest e Laurens De Groot (mantenha-se ligado para ter mais notícias em breve).

Na Namíbia, assim como no Canadá, é ilegal filmar as focas sendo mortas. Entretanto, existe uma grande diferença entre os dois países. No Canadá eles vão te prender por filmar o massacre de focas, mas na Namíbia, eles vão recorrer a uma violência que pode lhe custar a vida.

Mesmo assim, quinta-feira, 21 de julho, a tripulação estava fugindo por ter sido descoberta no deserto, próximo à praia – eram perseguidos por militares namíbios equipados com visão noturna. Por sorte, nossa tripulação também tinha visão noturna e foi uma perseguição através do deserto, com os veículos há uns cinco quilômetros de distância uns dos outros. A Marinha da Namíbia, com duas embarcações militares, tinha tomado posição ao largo da praia e todo o maldito show de horror de um massacre de focas estava, agora, sob total proteção das Forças Armadas namíbias.

A isso, seguiu-se a apresentação de uma declaração do presidente da Namíbia dizendo considerar nossa tentativa de documentar o massacre como uma questão de segurança nacional. Ele dizia querer os responsáveis por isso sob custódia de seu governo. Foi uma longa viagem de carro pelo deserto, evitando postos de checagem e a polícia, mas a tripulação conseguiu atravessar a fronteira para a África do Sul.

Ao todo, 92.000 filhotes de foca estão condenados a morrer nas praias da Reserva de Focas do Cabo Cross, neste verão na Namíbia. É uma caça ilegal, que sobrevive somente por causa das propinas e do fato de que a corrupção alcança os níveis mais altos do governo da Namíbia, sua polícia e forças militares.

Nossa tripulação teve que encarar o quanto essa corrupção cresce nas últimas semanas, e mal conseguiu escapar ilesa e em liberdade. Eles acabaram perdendo diversas câmeras e laptops que foram tirados de suas acomodações arrombadas, pois a Namíbia utilizou as câmeras como prova de que tinham se infiltrado na zona de segurança.

Enquanto isso, a tripulação do Brigitte Bardot está patrulhando as águas ao largo das ilhas Faroé, na Dinamarca, para defender as baleias-piloto da carnificina, enquanto um navio de guerra dinamarquês os segue de perto. Pela primeira vez na história da Sea Shepherd, estamos com duas Marinhas diferentes despachadas ao mesmo tempo, em dois hemisférios diferentes, tentando nos impedir de tentar parar com o massacre ilegal de nossos clientes no mar.

É realmente um mundo estranho, onde Forças Armadas são colocadas para trabalhar na defesa de destruidores da vida nos oceanos.

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Atenção: imagens fortes. Isso acontece todo ano na Namibia, para 85.000 focas bebê ainda mamando nas tetas de suas mães.

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=x7EGV5Jw_V4&feature=player_embedded[/youtube] Precisamos do seu apoio para ajudar a acabar com esta loucura. Boicote todo o turismo para a Namíbia e envie um e-mail para a Embaixada no Brasil: [email protected]
 
“Olá,

A situação de matança de focas bebê ainda mamando nas praias da Namíbia é insustentável e precisa ser cessada imediatamente. Para que isto aconteça, haverá um boicote internacional a todo turismo e comércio para com a Namíbia, até que a situação seja resolvida. 
http://www.youtube.com/watch?v=x7EGV5Jw_V4&feature=player_embedded

Este vídeo é da matança.

Esperamos que esta situação se resolva prontamente.

Atenciosamente,
Assinatura” 

Traduzido por Carlinhos Puig, voluntário do ISSB.