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Inicia-se em Taiji, no Japão, o julgamento de Erwin Vermeulen, um Guardião da Enseada holandês

A acusação apresenta seu caso

Erwin com Otis, que foi resgatado de uma situação de crueldade

Erwin com Otis, que foi resgatado de uma situação de crueldade

Quinta-feira, 26 de janeiro, foi um dia marcado pelo início do julgamento do holandês Erwin Vermeulen, um Guardião da Enseada que estava detido havia mais de 40 dias sob falsas acusações de agressão. Erwin estava em Taiji documentando o massacre de golfinhos que lá ocorre todos os anos, de setembro a março, em um esforço de conscientizar o mundo a respeito desta horrorosa matança, quando foi acusado falsamente de empurrar um dos funcionários do hotel Dolphin Resort.

A Sea Shepherd Conservation Society teve presença marcante no tribunal. Seu Diretor do Conselho, Dr. Bonny Shumaker, e o Diretor da Sea Shepherd na Holanda, Geert Vons, viajaram para o Japão para oferecer apoio a Erwin. Estavam também presentes o líder da campanha Guardiões da Enseada, Scott West, assim como cinco outros voluntários. Não foi permitido a nenhum deles ter contato com Erwin.

Até a semana passada, Erwin estava detido na prisão de Shingu, próxima a Taiji, mas foi transferido para Wakayama, onde seria realizado o julgamento. Ele é mantido em prisão solitária e, até a transferência da semana passada, não havia sido informado a respeito de que acusações pesavam contra ele. Foi proibido seu contato com qualquer pessoa de fora da prisão, incluindo seus entes queridos e companheiros de trabalho voluntário na Sea Shepherd. Foi-lhe recusado acesso a qualquer material de leitura e ele tem sido objeto de frequentes interrogatórios.

Ainda mais chocante é o fato de que, em Shingu, Erwin recebeu uma alimentação composta majoritária, senão totalmente, de arroz branco, e seus pedidos por suplementos alimentares foram negados.

O treinador do Dolphin Resort que acusou Erwin de empurrá-lo prestou seu depoimento perante o juiz. Ele alega ter sido empurrado por Erwin na região do tórax. Seu relato do incidente pareceu incoerente com seu depoimento escrito, entregue à polícia poucos dias depois do suposto incidente. A promotoria chegou a ponto de procurar obter indícios de DNA para provar que Erwin havia tocado o tal homem. A polícia coletou amostras de “corpos estranhos” no tórax do treinador, mas o exame de DNA deu negativo. Este resultado foi apresentado em juízo e comprovou, até mesmo cientificamente, que não houve contato algum entre os dois homens.

Depois do depoimento da parte acusadora, Erwin subiu ao banco, visivelmente mais magro e exausto. Durante o período de detenção, ele nem sequer pôde cortar o cabelo ou fazer a barba.

A promotoria iniciou sua interpelação com uma tentativa de incitar Erwin a fazer comentários prejudiciais à Sea Shepherd, mas a estratégia falhou. Ele manteve sua versão de que não teve contato algum com o treinador e que, como estava carregando tripé, câmera e rádio de comunicações, suas mãos estavam totalmente ocupadas e teria sido impossível que ele tivesse empurrado alguém. Em seu relato dos eventos, Erwin disse que passou por um assim chamado bloqueio da via, e que o treinador estava conversando ao celular e só percebeu sua presença depois que já estava a 20 metros da barricada. Pouco tempo depois, a polícia de Taiji chegou ao local. De acordo com Erwin, naquele momento ninguém falou nada sobre a suposta agressão. Foi-lhe dito apenas que ele havia cruzado uma placa de “Entrada Proibida”. Foi só depois de algum tempo, quando a polícia de Wakayama e o treinador já tinham conversado mais longamente e Erwin preparava-se para ir embora juntamente com os demais Guardiões da Enseada, que a polícia informou a Erwin que o treinador alegava ter sido empurrado por ele.

A promotoria então levantou uma irrelevante acusação de invasão de propriedade e comentou que tirar fotos de pessoas que não desejam ser fotografadas é ofensivo. Erwin respondeu dizendo, “Sim, bem, eu também me sinto ofendido pela matança dos golfinhos. Ofender não é crime. Contudo, não estou aqui por causa de fotos ou invasão, estou aqui por agressão”. Ele também explicou ao tribunal que os Guardiões da Enseada mantêm um acordo tácito com a polícia, segundo o qual “quando vemos uma placa, entramos uma primeira vez e policiais que falam inglês nos dizem se é lícito ou não. A população nativa sempre ignora as placas, a diferença é que ninguém nunca é repreendido”.

Durante o procedimento no tribunal, Erwin comentou a respeito das condições em que ficou detido em sua cela. Pediram-lhe que vestisse a jaqueta que usava na ocasião do suposto crime, para uma reconstituição em juízo. Erwin disse, “Quisera eu ter um agasalho destes na minha cela, porque ela é gelada”.

Quando o tribunal considerava fazer um recesso para refeição, Erwin se opôs, “Não preciso comer. Está agradável e quente aqui. Nas últimas duas semanas, esta é a primeira vez que me sinto quente”.

É importante lembrar que Erwin Vermeulen está detido sob acusação de agressão simples, em função nada mais do que ter supostamente empurrado alguém, e está sendo sujeitado a condições altamente desumanas. Nos tribunais japoneses, 99% dos réus são considerados culpados e a maioria dos detentos confessa muito rapidamente. Não é difícil de entender porquê, quando vemos as condições precárias de encarceramento de Erwin no sistema prisional japonês. Ao longo de todo seu período de detenção, e apesar dos duros tratamentos, ele sempre manteve sua inocência e a Sea Shepherd não poupará esforços para que ele seja libertado e justiça seja feita.

O julgamento continua no dia 1º de fevereiro, quando então a defesa arguirá seu caso e as testemunhas da Sea Shepherd terão oportunidade de prestar seu depoimento. Os argumentos finais foram agendados para 16 de fevereiro, e o veredito é esperado no dia 22 de fevereiro, o que significa que Erwin passará ainda mais um mês na cadeia, em função de uma acusação ridícula. Se condenado, ele pode ser sentenciado a até dois anos de prisão e a uma pesada multa.

Depois desta sessão no tribunal, o Diretor da Sea Shepherd na Holanda, Geert Vons, fez a seguinte declaração:

“Erwin Vermeulen tornou-se um trunfo no conflito entre Japão e Holanda na questão da caça às baleias. Os navios da Sea Shepherd são registrados na Holanda e, todo ano, ao início da estação de caça, o Japão se queixa à Holanda a respeito dos ambientalistas que atrapalham seus baleeiros.

Foi somente no sábado que as acusações contra Erwin foram divulgadas. Ele está sendo tratado como um criminoso perigoso. Não lhe é permitido nenhum contato com o mundo externo, nem sequer por cartas. Está é uma história extremamente triste. Eu esperava que o governo holandês tivesse prestado mais assistência a um cidadão holandês”.

De acordo com o Partido dos Direitos Animais holandês, o Ministro das Relações Exteriores, Uri Rosenthal, “não está fazendo o suficiente” e eles querem um debate sobre a questão no Parlamento daquele país. Esther Ouwehand, uma dentre os dois representantes eleitos do partido, diz que o Japão tem uma reputação de prender ativistas que considera estejam “atrapalhando” a caça às baleias por motivos políticos. Ouwehand quer que Rosenthal convoque o embaixador japonês.

Traduzido por Luciana F. Piva, voluntária do Instituto Sea Shepherd Brasil