Editorial do The Japan Times
A temporada de caça às baleias anual do Japão está atualmente em curso com os inevitáveis relatórios e acusações sensacionalistas. O conflito entre botes baleeiros do Japão e manifestantes anti-caça não só ganhou as manchetes dos jornais, mas inspirou seu próprio programa de TV, “Whale Wars – Defensores de Baleias”, no canal de televisão americano Animal Planet, agora em sua quinta temporada. As ações de ambas as partes, caçadores de baleias e defensores, atingiram proporções absurdas. Ambos os lados deveriam voltar ao diálogo sensato.
Embora oficialmente concordando com uma moratória sobre a caça, as empresas baleeiras japonesas continuam matando baleias no Pacífico Sul, aproveitando uma brecha para fins de pesquisa. Se a caça atual está realmente sendo feita, como foi dito, para fins científicos, os resultados devem ser abertos para a pesquisa minuciosa dos profissionais e do público em geral, como é feito com toda pesquisa científica séria. Matar baleias para pesquisas é tema volátil, com importância internacional, por isso merece uma explicação clara de que o público em geral tenha acesso fácil. Até agora, nada disso aconteceu.
Este ano, o governo japonês alocou 2,28 bilhões de ienes do fundo atribuído para a recuperação do terremoto e do tsunami para serem gastos com a expedição baleeira, na esperança de ajudar a economia de Tohoku, onde alguns dos navios são baseados. Isto pode não significar muito para os 12 trilhões de ienes alocados para a recuperação, mas este subsídio para a caça fornece pouco benefício para as comunidades costeiras e os esforços para reconstruir indústrias genuinamente sustentáveis. Esse dinheiro poderia ter sido usado para muitas outras finalidades.
Os confrontos deste ano têm aumentado de intensidade. Kyodo Senpaku Kaisha, a companhia que lidera a missão baleeira, entrou com uma ação no ano passado em um tribunal federal dos Estados Unidos contra o grupo anti-caça, a Sea Shepherd Conservation Society. A ação da companhia baleeira acusa os ativistas de se engajarem em atividades que poderiam causar ferimentos aos tripulantes e danos às embarcações.
Resolver esta questão nos tribunais seria razoável, mas, infelizmente, as ações têm ocorrido em águas internacionais, fora da maioria das jurisdições, onde a lei é tão indecisa quanto o tempo. O governo japonês colocando Paul Watson, o fundador da Sea Shepherd, na lista internacional da Interpol parece uma manobra fantasiosa, já que a maioria dos países ao redor do mundo já proibiram a caça às baleias, e é improvável que entreguem o Sr. Watson a alguém.
Os barcos da Sea Shepherd que tentam parar os baleeiros aumentaram o nível de seu envolvimento neste ano. Alegadamente, eles estão usando raios laser e ácido butírico, um material que soa perigoso mas que basicamente fornece mau cheiro de manteiga rançosa, para perseguir e deter as expedições baleeiras. Eles também, no passado, colidiram com botes baleeiros e embarcaram nos baleeiros em mar aberto. Os navios baleeiros japoneses têm respondido na mesma moeda. Essas ações ultrapassam a linha de protesto pacífico e monitoramento razoável para um confronto violento. Qualquer ação que possa prejudicar um membro da tripulação de ambos os lados não pode ser justificada.
A guerra da baleia tem trazido alta tecnologia, bem como mostrado mais uma vez que ambos os lados são muito bem financiados. Este ano, a Sea Shepherd, de acordo com um dos seus comunicados à imprensa, está implantando drones para ajudar a controlar os navios baleeiros.
Com coordenadas GPS e a capacidade de fazer vídeo e imagens, os drones parecem úteis para testemunhar e relatar o que está acontecendo. Documentar, em vez de fazer propaganda, no entanto, é essencial. O mundo merece ver o que está acontecendo, mas também para entender o porquê, e para fazer as duas coisas mais desapaixonadamente.
Este ano, três ativistas do grupo ambientalista Forest Rescue Austrália já foram capturados e mantidos prisioneiros depois de embarcarem em um dos botes baleeiros, o Shonan Maru n° 2. Seu destino ainda está sendo debatido, apesar do Japão ter aparentemente decidido, sabiamente, devolvê-los às autoridades australianas sem apresentar acusações criminais. Os ativistas podem ficar detidos no barco até o final da temporada de caça às baleias, embora talvez seja a punição, ou a educação, o suficiente.
Mais importante ainda, a importância da caça deve ser questionada. No ano passado, o Japão só alcançou cerca de 18 por cento da sua quota auto-imposta de cerca de 1.000 baleias no Oceano Antártico. O costume tradicional de comer carne de baleia já diminuiu consideravelmente. Muitos relatórios mostram que a carne de baleias mortas no ano passado está se acumulando em armazéns refrigerados. Todos os fatos relativos ao estoque de carne de baleia deve ser tornado público.
Se a carne de baleia era realmente uma fonte barata de refeições diárias, deliciosas, como é reivindicado, seria encontrada em todos os supermercados no Japão. A carne dessas 170 ou mais baleias é, na verdade, raramente vendida.
A carne de baleia foi certamente uma parte importante do património do Japão, e uma grande fonte de proteína na época das vacas magras, após a Segunda Guerra Mundial. No entanto, seu consumo continuado, seja por razões culinárias, dietéticas ou cultural, não parece convincente neste ponto.
Continuar a caça da baleia significa que o Japão continuará a pagar caro em custas diplomáticas internacionais para ter o direito de manter uma tradição que se estende muito além das fronteiras da cultura do país, mas que não é mais o centro da vida cotidiana aqui em casa.
Traduzido por Raquel Soldera, voluntária do Instituto Sea Shepherd Brasil