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Estaria a decisão da Namíbia de matar focas se desgastando?

Por Steve Roest, CEO da Sea Shepherd

Após a campanha de verão da Sea Shepherd para proteger as focas da Namíbia, houve uma reação internacional em relação ao problema. A pressão sobre o governo da Namíbia, e particularmente sobre o Ministério de Pesca e Recursos Marinhos, para acabar com a brutal e inconcebível chacina de mais de 90.000 focas, levou a Sea Shepherd a ser convidada a comparecer no que pode ser uma reunião crucial na Namíbia neste mês de setembro, no dia 20, para discutir a questão com o ombudsman e outras partes interessadas.news_110726_2_4_seal_clubbers_taking_a_break

Muito aconteceu desde que a equipe da Sea Shepherd na Namíbia voltou da operação Focas do Deserto no fim de julho, com celebridades dando declarações públicas contra a crueldade e muitas outras ONGs se envolvendo no assunto. A pressão da imprensa e mídia sobre a Namíbia é verdadeiramente internacional e está crescendo.

Um estudo compreensivo sobre “A economia da caça de focas e da observação de focas na Namíbia” foi produzido e publicado recentemente pela Economists at Large, uma consultora de economia independente baseada na Austrália.

O relatório conclui que a indústria do turismo derivado da observação das focas na Namíbia está crescendo em popularidade e trazendo uma receita grande e crescente, mas ela está sendo seriamente ameaçada pela matança de focas na Namíbia, que ocorrem na Reserva de Focas Cape Cross e na baía Atlas and Wolf, nas áreas de minaração de diamantes em De Beers.

Economia falsa

Apesar de declarações contrárias dadas pelos políticos com agendas pessoais da Namíbia, o relatório conclui que a matança totaliza muito menos em lucro real para a Namíbia do que o que é ganho com o turismo de observação de focas. Por exemplo, em 2008, a caça de focas gerou apenas 300.000 libras, enquanto a observação de focas gerou 1.2 milhões de libras em gastos com turismo direto no mesmo período. Essa informação contradiz completamente a posição do Ministério de Pesca e Recursos Marinhos da Namíbia, que a caça de focas gera ganhos enormes para o país.

news_110908_1_4_sealion_pup_and_mother_sleeping“Quando estávamos protestando em Cape Cross há poucas semanas,” disse o veterinário Andre Menache, “nós falamos com vários turistas, todos ficaram chocados ao descobrir que focas eram brutalmente mortas toda manhã entre o amanhecer e as 7:45, seguida da limpeza da praia a tempo da chegada dos turistas as 8:00. A comunidade internacional não irá aceitar isso por muito tempo.”

O turismo da observação de focas é uma parte importante do crescimento econômico da Namíbia, com até 10% dos turistas (mais de 100.000 em 2008) pagando pelo prazer de ver as focas em seu habitat natural. Baseado no seu padrão de crescimento, o relatório projeta que até 2016, cerca de 175.000 turistas irão participar da observação de focas, gerando um retorno direto de quase 2 milhões de libras.

A observação de focas também permite que uma parte muito maior da economia da Namíbia se beneficie do comércio, já que o aumento da observação de focas ajuda a impulsionar os serviços de suporte ao turismo como lojas, eco-tours, hotéis e restaurantes.

Há um debate sobre quantas pessoas estão empregadas no massacre de focas, números variam entre 30 e 90 pessoas trabalhando por 3 a 4 meses por ano, ganhando entre 2 e 4 dólares por dia. Uma média desses números é 18.900 dólares. A Sea Shepherd ofereceu à comunidade local 30.000 dólares por ano se a caça às focas não ocorrer. Esse dinheiro deve ser usado para prover treinamento e empregos locais no setor do ecoturismo ao redor das colônias de focas.

Ciência falsa

Sem o argumento do emprego, o último ponto de disputa parece ser a posição do governo da Namíbia de que as focas matam uma grande quantidade de peixes, o que afirmam ser a causa do declínio dos estoques de peixe da Namíbia. Esse será um ponto significativo de discussão na reunião de Windhoek, com ambientalistas, ONGs e biólogos marinhos. A decisão do Ministério de Pesca e Recursos Marinhos de aumentar de 300.000 para 600.000 toneladas a cota de pesca já liberada para a gigantesca frota pesqueira internacional é o que causará o verdadeiro fim da pesca. Um caso muito parecido com o ocorrido na costa leste do Canadá no início dos anos 1990, onde a Sea Shepherd se envolveu ativamente e conseguiu levar o comércio de produtos derivados de focas ao fim para a União Européia há apenas alguns anos.

Um fim para o massacre?news_110726_2_6_sealions_at_cape_cross_seal_reserve

A morte de focas, agora notícia internacional, irá destruir a observação de focas e o turismo associado da Namíbia, portanto o Ministério de Pesca e Recursos Marinhos tem duas opções:

1. Acabar com a morte de focas e, em seguida, observar um crescimento nos lucros derivados do turismo e um crescimento associado de empregos, e por fim se beneficiar do correspondente aumento nos estoques de peixes a medida que os ecossistemas marinhos voltam ao seu equilíbrio natural. Ou

2. Continuar com o massacre, observar uma grande queda no turismo, empregos relacionados e lucro, e presenciar a destruição do ecossistema marinho.

No dia 20 de Setembro, na capital da Namíbia, Windhoek, a Sea Shepherd irá tentar persuadir o governo da Namíbia a escolher a opção 1.

Agradecemos a WSPA, HSI e RFA por financiar esse relatório e pelas informações nele contidas, algumas das quais incluímos nesse artigo.

Traduzido por Marcelo C. R. Melo, voluntário do ISSB.