Editorial

Culpar a vida selvagem pela redução dos recursos é uma tentativa embaraçosa de mascarar a realidade do consumo excessivo

Comentário por Katie Adams, Guardiã da Enseada voluntária

Embora nenhum leão-marinho tenha sido morto durante a minha primeira visita à represa de Bonneville, as memórias vão ficar comigo para sempre. Um dos eventos mais decepcionantes que eu encontrei ao longo do dia foram as dezenas de visitantes a olhar para esta paisagem de tirar o fôlego e ponderar a enormidade da barragem. Nenhum deles estava ciente de que neste desfiladeiro, nesta bela paisagem, leões-marinhos estavam sendo presos e mortos. Para mim, é importante que, quando eu visitar um lugar (tão bonito quanto pode ser), eu saiba sobre o impacto ambiental e a história deste lugar. Muitos dos espaços mais bonitos na terra são o cenário de alguns dos piores crimes cometidos à terra, aos animais, e até mesmo aos seres humanos.

Ser um Guardião da Represa e defender esses inocentes leões-marinhos majestosos é importante para mim, porque devemos mudar a mentalidade humana, de que o mundo é para a nossa exploração, os animais para nosso consumo, e que podemos resolver nossa crise de consumo excessivo culpando inocentes animais, como leões-marinhos e os golfinhos no Japão. Se quisermos realmente resolver as causas dos problemas que estamos enfrentando hoje, culpando os golfinhos, baleias e leões-marinhos por “esgotarem os peixes”, não estamos apenas evitando o problema real, mas tornando o problema pior. Devemos compreender e aceitar que é o consumo excessivo humano que levou a essa catástrofe. Os leões-marinhos não devem ser responsabilizados pelos nossos erros. Por que matar essas belas criaturas que estão apenas vivendo suas vidas, como tem sido por milhares de anos, no rio Columbia? Nós criamos represas e tecnologias de pesca que literalmente destruíram as populações de salmão, agora estamos transferindo a culpa dos seres humanos para esses animais inocentes. Precisamos parar de colocar band-aids sobre os sintomas e procurar formas de resolver a verdadeira causa desse problema: a nossa cultura de consumo excessivo e sobrepesca.

Traduzido por Raquel Soldera, voluntária do Instituto Sea Shepherd Brasil