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‘Blitz’ resgata 30 pingüins nas praias da cidade baixa

Um pingüim de porcelana, com pés e bicos dourados, custa em média R$200 nas lojas mais famosas de artigos de decoração da cidade. Nas praias de Salvador, o mesmo animal, só que de verdade, pode ser comprado por R$500. A denúncia de que as aves estariam sendo vendidas foi feita anteontem ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e motivou o deslocamento de uma equipe, na manhã de ontem, para encontrar o tal comerciante das aves aquáticas. A tentativa de um flagrante foi frustada, mas os biólogos aproveitaram para resgatar os pingüins encontrados por pescadores e moradores da cidade baixa.

Até o momento, os órgãos ambientais, como o Ibama e o Instituto de Mamíferos Aquáticos (IMA), já recolheram um total de 214 pingüins vivos nas praias soteropolitanas. O cálculo realizado pelos biólogos é de que cerca de 20 animais, da espécie Magalhães, cheguem diariamente ao litoral de Salvador. Destes, quatro não sobrevivem. Os demais, quando encontrados, são levados para a sede do IMA em Pituaçu, onde recebem os primeiros atendimentos. Eles são aquecidos, hidratados com soro e alimentados com peixes.

A orientação da bióloga Aline Borges do Carmo, do Ibama, é para que as pessoas não retirem o pingüim da água. “Muitos deles sobrevivem bem e acabam encontrando o caminho de volta”, explica. Mas, quem encontrar os animais debilitados na areia, deve aquecê-los e solicitar imediatamente o resgate ao Ibama ou ao IMA. Morador de Periperi, Nobson Assis Santos quase foi confundido com um vendedor da ave, por pedir para amigos chamarem o órgão.

Cuidados – Por volta das 6h de ontem, um pescador entregou o animal a ele. Sem saber o que fazer, Assis prontamente colocou a ave em uma pia cheia de água. “Depois que ligamos para o Ibama, eles informaram que era para aquecer com jornal e mantê-lo em local fresco. Fiz da minha cabeça só para salvá-lo”, contou. Mas, será que ele queria mesmo criar o pingüim como bichinho de estimação? “Minha senhora, para quê eu ia querer o pingüim? Nem tem valor de mercado”, respondeu. Mas Assis fez uma observação: a demora dos órgãos para recolher o animal.

O que ele não sabia é que a peregrinação das equipes do Ibama e IMA começou cedo nas praias da Ribeira. Capturado por um pescador, o pingüim chegou às mãos do mergulhador Cristiano Alcântara já em terra. Prontamente, ele pôs o animal numa caixa de isopor com jornal. “Ele estava muito cansado, dei sardinha para ele se recuperar”, narrou. Apesar da boa vontade, a bióloga Aline Borges dá outro alerta. “As pessoas não devem forçar a alimentação dos pingüins; apenas aquecê-los e chamar os órgãos”, aconselha. O resgate pode ser solicitado através dos números 3461-1490 e 9198-2620 (IMA) ou 3172-1672 (Ibama).

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Migração de cinco mil quilômetros´

A viagem de cinco mil quilômetros pelo Oceano Atlântico, do sul da Argentina ao litoral brasileiro, é cansativa. Mas os pingüins até que gostam de passar as férias em águas diferentes. O problema é que, este ano, eles foram além do caminho de costume – São Paulo e Rio de Janeiro –, e desbravaram a costa baiana. E viraram atração nas praias soteropolitanas. A preocupação dos biólogos é com a hipotermia – temperatura abaixo do normal do corpo, que nos pingüins varia entre 39ºC e 40ºC. Por isso, é importante aquecê-los quando retirá-los da água.

A perseguição humana e a comercialização ilegal também são uma ameaça à espécie. Os pingüins encontrados são jovens, nasceram este ano, e não possuem tanto fôlego para uma viagem tão longa. Quando são acossados, o desgaste físico aumenta. E o ato inconsciente dos banhistas resulta em riscos. Em uma das praias da Ribeira, um grupo de amigos se jogaram no mar após avistarem um pingüim, para desespero dos biólogos que tentaram avisar da terra, que a ação era imprudente.

Resgatado por um caiaque, o pingüim acabou sendo levado pelo IMA. O “herói”, Francisco da Silva Moreira, gabou-se como se acabasse de ganhar um prêmio. “Ficamos alegre por salvar a vida do pingüim. Ele estava muito cansado”, comemorou. Mesmo assim, a ave tentou se defender e provocou alguns ferimentos no “salvador”. Moreira garantiu não saber que era inadequado retirar o animal da água. Já a venda, segundo o IMA, resultará na futura morte da ave, pela falta dos cuidados específicos.

Multa – Quem quiser comprar o pingüim por R$500, com certeza vai jogar dinheiro fora. Sem contar que a venda ou guarda de espécies da fauna silvestre, nativa ou em rota migratória, é crime pela legislação ambiental. A punição para quem pratica o delito é prisão de seis meses a um ano e multa de R$500 por animal.

Fonte: Maíra Portela, Correio da Bahia

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