Editorial

O caso do assassinato em massa nas Ilhas Faroé

Comentário pelo Capitão Paul Watson

Os habitantes das Ilhas Faroé chamam a sua carnificina de baleias piloto de grindadráp. Como ex-aluno de linguística, acho isso muito esclarecedor. Grindehval significa baleia piloto nas ilhas Faroé. Em sueco, é grindval; em norueguês, grindhval; dinamarquês, grindehval; islandês, grindhvalur. Em faroense, a palavra fica reduzida a grind, que ainda significa baleias piloto. É a palavra dráp que me chamou a atenção.

A palavra nórdica drap significa, literalmente, assassinato. Em sueco, dråp significa assassinato; em norueguês, drap significa assassinato; em dinamarquês, drab significa assassinato; em islandês, dráp significa assassinato humano; em faroense, dráp também significa assassinato. Drap é o termo legal para assassinato em todos os países nórdicos. Em um esforço para contornar isso, alguns faroenses estão argumentando que a palavra para assassinato é mord. Esse não é um termo nórdico, mas, na verdade, uma palavra emprestada da língua alemã, na qual assassinato é mord. Os faroenses usam-na como morð.

É verdade que a palavra mord está em uso, mas, no entanto, o termo legal para assassinato permanece como drap. A exceção é na Suécia, onde mord foi adotada como designação oficial para assassinato, embora dråp seja o termo apropriado em todos os livros antigos de Direito no país. A palavra dråp é, ainda, a expressão legal para homicídio culposo na Suécia.

Na Islândia e nas Ilhas Faroé, manndráp é a palavra legal para o assassinato de uma pessoa ou homicídio. Para o assassinato de uma criança, diz-se barnadråp. Assim, na linguística, grindadráp significa, literalmente, o assassinato de baleias piloto. Hópdráp é genocídio, oyðdráp é extinção e assim por diante.

Sob o meu ponto de vista, esta é uma descrição exata, pois acredito que a matança deliberada de baleias e golfinhos é um ato de assassinato. Golfinhos e baleias são altamente inteligentes, socialmente complexos, seres cientes de si mesmos e sencientes, então não posso aceitar qualquer justificativa para sua matança e, sendo assim, eu a vejo como homicídio.

Devemos lembrar que, há pouco mais de um século, a matança deliberada de um aborígine, na Austrália, não era vista como assassinato, nem de um índio americano ou um escravo afro-americano. A definição de assassinato não é estática. Se uma forma de vida inteligente caísse sobre a Terra e um humano deliberadamente matasse esse visitante, eu acho que seria considerado um assassinato pela maioria das pessoas inteligentes.

Nós estamos descobrindo que baleias, golfinhos, chimpanzés, bonobos e até mesmo elefantes têm cérebros muito bem desenvolvidos. Eles são seres altamente sociais, autoconscientes e acredito que precisam ser protegidos. Empatia e lógica nos ordenam dar a esses seres vivos o reconhecimento perante a lei. Linguisticamente, os faroenses já reconhecem a matança de baleias piloto como assassinato, mas a empatia e a lógica não se enquadraram no idioma.

O fato é que a matança de baleias não é para subsistência, nem mesmo uma necessidade nutricional das Ilhas Faroé. Na verdade, a carne da baleia piloto é tóxica, com metilmercúrio e outros metais pesados, como chumbo, bifenilos policlorados e outros. Se tradição e cultura devem ser aceitos como justificativa para o assassinato de baleias, então os habitantes das Ilhas Salomão poderiam argumentar que sua tradição de decapitar membros de outras tribos é também justificada.

Será uma longa e difícil luta convencer os faroenses a verem as baleias piloto como dignas de compaixão e justiça sob a lei, mas todas as lutas importantes por direitos e reconhecimento perante a lei tendem a ser longas e duras. A chave para o sucesso é a persistência, e uma incansável, determinada e firme busca do objetivo de acabar com a matança das baleias piloto nas águas ensanguentadas das Ilhas Faroé.

Traduzido por Maiza Garcia, voluntária do Instituto Sea Shepherd Brasil