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Operação da Sea Shepherd ‘Resgate do Golfo’ continua depois de seis meses do derramamento

Quarta feira (20 de Outubro) marcou seis meses desde o início do derramamento de petróleo da PB no Golfo do México em Abril. O petróleo não está mais fluindo do poço, mas o impacto do uso dos dispersantes químicos que foram vaporizados sobre a água e áreas costeiras continua. A devastação da vida marinha e de ecossistemas costeiros inteiros nesse desastre ambiental está apensa começando a ser compreendida.

“Dispersantes” interagem quimicamente com o petróleo crú natural para transformar os grandes aglomerados de petróleo em pequenas bolhas que se espalham por grandes distâncias e gradualmente afundam até o fundo do oceano, mas os próprios dispersantes químicos são muito mais tóxicos para a vida marinha do que o petróleo crú. Enquanto grandes manchas podem ser contornadas a nado, recaptadas da superfície e impedidas de chegar nas linhas costeiras, pequenas bolhas que flutuam livremente não podem. Animais como as tartarugas marinhas confundem essas bolhas com águas-vivas e morrem com esse veneno.

A Sea Shepherd perguntou e continuará perguntando àqueles que tem poder e autoridade para agir: O que vocês estão pensando? O que vocês estão fazendo? Nós estamos lá fora buscando fatos, ajudando aqueles que precisam, e tentando parar aqueles que estão deliberadamente, conscientemente e ilegalmente ferindo os oceanos e toda a vida presente neles.

Aqui apresentamos as atividades da Operação Resgate do Golfo, da Sea Shepherd, durante o verão (inverno no hemisfério sul) e um pouco do que está por vir.

“Vá embora! Você não está autorizado a ajudar!”

Voluntários da Sea Shepherd chegaram no Golfo um mês após o início do derramamento. Em 22 de Maio, Bonny Schumaker (Segundo

Bonny voando "Bessie".

Bonny voando "Bessie".

Oficial do Bob Barker na campanha 2009-2010 contra a caça de baleias no Oceano Antártico, e membro da Diretoria da Sea Shepherd) e Kurt Lieber (também um membro da Diretoria da Sea Shepherd) voaram juntos da Califórnia até Nova Orleans, Luisiana, no pequeno avião monomotor da Bonny, apelidado “Bessie”. Bonny usa Bessie para rastrear e transportar animais selvagens e domésticos em necessidade, normalmente para a organização sem fins lucrativos “On The Wings Of Care, Inc”. Neste verão, Bessie se tornou por tempo integral o “Olho No Céu” da Sea Shpeherd sobre o Golfo, encarregada de encontrar vida marinha e aves de todos os tipos em perigo, localizar petróleo na superfície para cientistas e trabalhadores em barcos, e transportar a mídia para ver e relatar para o mundo o que estava de fato acontecendo.

Quando o grupo chegou, nós combatemos regras e restrições que impediram-nos de chegar às áreas poluídas e aos animais que desesperadamente precisavam de ajuda. Primeiro, nenhum avião tinha permissão para voar a menos de 3000 pés sobre solo ou água (a não ser os aviões da BP ou de agências do governo). Isso tornou impossível encontrar golfinhos, tartarugas marinhas, ou mesmo animais imensos como tubarões baleia e cachalotes. Segundo, nenhum barco era permitido em áreas conhecidas por “áreas sensíveis”, como as baías ou áreas costeiras oceânicas, onde sabia-se que estavam tartarugas mortas e aves severamente atingidas pelo petróleo. Finalmente, pessoas eram proibidas de andar pelas praias nessas áreas! Essas regras paralisaram muitos grupos e indivíduos, e até a mídia em sua maioria. Mas os voluntários da Sea Shepherd se mantiveram determinados, e isso levou a pessoas e ações que finalmente removeram as restrições.

Primeiro pelo ar…

Tubarão baleia

Tubarão baleia

No princípio, a única opção era pelo ar. Haviam cientistas de diversas agências governamentais e instituições de pesquisa (NASA, USGS, NOAA, NGA, USCG, etc. — você terá que procurá-las no Google!), que queriam encontrar e estudar o petróleo a partir de barcos ou instrumentos de aquisição de imagens de grandes altitudes. Mas seus dados de satélite estavam frequentemente com atrasos de até 12 horas, não eram de alta resolução e os fortes ventos de alto mar e correntes moviam as coisas antes que os barcos e instrumentos pudessem acompanhá-las. Eles precisavam de um avião de reconhecimento guiando eles para seus alvos. Nós oferecemos nossos serviços. Eles registraram Bonny no “Posto de Comando Unificado” e Bessie se tornou um avião de reconhecimento oficial! Apenas em Julho, nós fizemos quase 50 horas de voo para esses cientistas. Enquanto voávamos para eles, usamos cada minuto para encontrar, rastrear e documentar o estado inconstante das baías e ilhas próximas à costa e a posição e situação da vida marinha — golfinhos, arraias, tartarugas, tubarões pelicanos e outras aves marinhas. Não demorou muito para outros cientistas, grupos ambientalistas, pescadores locais e a mídia ficarem sabendo de nós — e logo mós estávamos ajudando todos eles. No começo de Setembro nós já tínhamos voado por mais de 250 horas no Golfo, “baixo e lento” de 100 milhas ao sul de Pensacola, Flórida, na direção oeste até o sul de Lafayette, Luisiana. Nós encontramos e documentamos mais de 24 tubarões baleia (alguns dos quais ajudamos a identificar com transmissores GPS), baleias cachalote, um grupo de sete orcas, centenas de golfinhos nariz-de-garrafa e rotador, uma variedade de tubarões (martelo, tigre e mako), arraias manta e por fim, mas não menos importante, alguns dos animais do Golfo preferidos do nosso grupo — as tartarugas marinhas (tartaruga-de-couro, tartaruga-amarela, tartaruga-de-pente, tartaruga-verde e tartaruga-de-kemp). E vimos milhares de aves marinhas — infelizmente nem todas em boas condições. Quase toda essa vida selvagem foi encontrada a pelo menos de 50 milhas de distância do poço da BP que causou todos esses problemas. Ao redor “Da Fonte”, como eles chamam o poço, nós encontramos muito pouca vida selvagem saudável.

Tartaruga marinha

Tartaruga marinha

Então com barcos…

Em meados de Julho começamos a levar barcos para o Golfo regularmente. Naquela época as regulamentações não estavam sendo impostas tão rigidamente e, graças ao nosso suporte aéreo, nós sabíamos exatamente onde ir e como chegar lá “desapercebidos”. Nós informávamos todas as vezes que observávamos animais precisando de ajuda, mas as restrições não deixavam (e até hoje não deixam) que nós ajudemos diretamente a vida selvagem. Então oferecemos nossa ajuda para obter amostras de água e petróleo em locais críticos dos ecossistemas, especialmente em áreas costeiras e no  Estreito do Mississippi. Nós trabalhamos com diversos cientistas e laboratórios, que nos enviaram seus equipamentos especiais e instruções (recipientes de vidro esterilizados, materiais absorventes especiais para petróleo, grandes refrigeradores para transportar as amostras, equipamentos de GPS portáteis para registrar coordenadas e condições locais, além de relatórios detalhados). O trabalho não é fácil, e requer muita atenção para detalhes. Em muitos dias o mar estava agitado e alguns de nós prefeririam não se envolver — mas trabalhamos.

Coletando amostras

Coletando amostras

Levamos fotógrafos e cinegrafistas para as ilhas próximas à costa para documentar suas condições, e fomos cruciais para levar rapidamente as autoridades para limpar praias onde encontramos pelicanos jovens e outras aves em perigo ou até já atingidas pelo petróleo. Nós também ajudamos a coletar aves marinhas mortas para cientistas que podiam analisá-las e avaliar a causa da morte. Algumas dessas aves tinham evidências de ingestão de petróleo, algumas pareciam subnutridas, e outras pareciam em bom estado, mas não tinham comida em seus estômagos. Alguns testes especiais de laboratório foram realizados para determinar se os produtos químicos dos dispersantes contribuíram para suas mortes. O próprio número de aves mortas nas ilhas era impressionante; esse foi um dos trabalhos mais tristes que realizamos no Golfo.

Lamentamos que as restrições nos impediram de fazer mais e poder usar alguns dos nossos voluntários mais qualificados, incluindo veterinários de vida selvagem e capitães de navio certificados, que estavam prontos para se unir a nós em um navio que levaríamos para o Golfo como uma unidade flutuante de suporte para resgatar aves atingidas pelo petróleo e realizar outros trabalhos importantes. Quando as restrições foram diminuídas o suficiente para podermos levar o navio, pouquíssimos animais eram encontrados que ainda podiam ser ajudados. Todo o planejamento de agentes oficiais para relocar milhares de aves marinhas das ilhas antes da temporada de furacões não se concretizou, então não tínhamos atividades oficiais para apoiar. No entanto, ao ficar e oferecer nossa ajuda onde quer que pudéssemos, nós acabamos sendo muito úteis não só para cientistas estudando o petróleo e a vida selvagem, mas também para os pescadores locais e residentes preocupados com a população costeira de peixes; esse trabalho irá continuar enquanto precisarem de nossa ajuda.

Nossos voluntários!

Voluntários

Voluntários

Em média, cerca de 15 voluntários da Sea Shepherd estavam ativamente envolvidos com esse trabalho ao longo do verão, além de quatro barcos e o avião Bessie. A maioria dos nossos voluntários recebeu 24 a 40 horas de treinamento “HazWOPER” e tinham experiência em trabalhar com barcos e mergulho oceânico. vários também tinham experiência prévia com derramamento de petróleo e vida selvagem atingida pelo petróleo. Alguns eram voluntários veteranos, alguns eram novos. Alguns de seus nomes serão listados aqui, outros estão incluídos nos agradecimentos especiais abaixo. Um grande agradecimento para nossos excelentes voluntários de ar e barcos, em ordem alfabética: Tom Bremer, Brock Cahill, Kevin Compton, Alex Feld, David Hance, Charles Harmison, Burt Lattimore, Rex Levi, Fiona McCuaig, Dean Miya, Jerry Moran, Bonny Schumaker, Nick Schearer, Ian Ziatyk.

Nossos planos

Nós estamos reduzindo partes da operação no Golfo para nos prepararmos para a operação no Oceano Aantártico “No Compromise” (Operação Sem Conciliação) contra a caça de baleias. Seis voluntários irão fazer outra rodada intensa de medições no começo de Novembro, tanto no mar quanto nas áreas costeiras, e estarão disponíveis periodicamente por todo inverno quando forem necessários. Salvo imprevistos que podem fazer necessária nossa assistência mais cedo, retornaremos ao Golfo no começo da primavera de 2011 pelo ar, terra e mar, para ajudar mais uma vez da forma que os residentes locais, pescadores, cientistas, e, acima de tudo, a vida selvagem do Golfo mais precisar.

Nossos agradecimentos!

Esse sumário não estaria completo sem agradecer ao menos alguns dos novos amigos que a Sea Shepherd fez no Golfo durante esses tempos desafiantes, pessoas locais que, através de contribuições generosas de tempo, perícia, equipamentos e serviços, possibilitaram que nós fôssemos eficazes no Golfo neste verão. Nós não podemos nem começar a nomear todos, ou descrever propriamente tudo que fizeram por nós, mas aqui está uma pequena lista de todos os nomes de algumas pessoas extraordinárias à quem nós gostaríamos de dar toneladas de agradecimentos (alfabeticamente):

Jason Berry; Bess Carrick; Marion & Penny Edwards; Patricia Gannon; Andrew Gross; Jennifer LeBlanc; Brayton Matthews; Lenny Maiolatesi; Diana Pinckley; John & Julie Scialdone; Stuart Smith.

Fotos de Jerry Moran, cortesia de New Orleanian Fine Photography.

Tradução de Marcelo C. R. Melo, voluntário do ISSB.