Editorial

Feliz Ano Novo do Oceano Antártico

Por Capitão Paul Watson

Que forma de começar um Ano Novo!

Minha tripulação e eu partimos do porto de Hobart na Austrália, estado da Tasmânia às 18:00hs em 31 de dezembro debaixo de um grande temporal.

Após uma noite de ventos selvagens, e ondas pesadas, a manhã encontrou a tripulação do Steve Irwin trabalhando para nos levar através da fronteira da zona de interesse econômico australiano. Em algum lugar fora desta zona estava o Shonan Maru No.2, a embarcação de segurança da frota baleeira japonesa, a mesma embarcação que nos perseguiu desde o dia 18 de dezembro quando saímos do porto de Fremantle.

Fomos até Hobart para enganá-los e nos reabastecer de combustível e não tivemos nenhum tempo para as festividades de Ano Novo ou descanço. Tivemos que nos virar se quiséssemos encontrar a frota japonesa.

Mais ao sul nosso barco interceptador velóz o Ady Gil estava bem no encalço do principal corpo da frota baleeira japonesa. Nossa tarefa era atravessar a guarda do Shonan Maru No.2 e nos aproximar do corpo principal da frota baleeira para apoiar o Ady Gil.

Aproveitamos a camuflagem oferecida por mais outras tempestades e assim e conseguimos escapar da defesa do Shonan Maru No.2 e estamos agora rumando ao sul com um vendaval ainda em nossa perseguição. Mas melhor um vendaval do que uma embarcação de segurança da frota japonesa na nossa cola.

As baleias estão sendo massacradas no Santuário de Baleias do Oceano Antártico e a cada dia que somos impedidos de interromper os trabalhos da frota, mais baleias morrem. Sem a embarcação de segurança em nossa popa nós agora temos uma boa chance de encontrar e encerrar as operações da frota baleeira.

Esta não será uma temporada fácil. O governo japonês investiu uma grande soma de dinheiro e tempo em seus esforços para nos parar este ano. Dois navios foram enviados com a única intenção de nos interceptar e nos impedir de confrontar o corpo principal da frota baleeira japonesa.

Uma enorme soma de dinheiro tem sido gasta para se opor aos esforços da Sea Shepherd como um todo. Alem de destacarem navios de segurança, os baleeiros foram armados com medidas defensivas incluindo (LRADs) Dispositivos Acústicos de Longa Distância, lanças anti-abordagem, redes, granadas de efeito moral e armas de fogo. Em terra os japoneses estão empregando firmas de relações públicas caríssimas além de terem contratado lobistas para molestar os governos australiano, americano, canadense e holandês. Os japoneses também contrataram pessoal para inundar os fóruns da internet com desinformação acusando-nos de sermos terroristas, racistas e extremistas. Tudo isso por uma industria que só sobrevive por causa dos subsídios massivos do governo japonês.

Mas apesar disto, todos os anos nos fortalecemos e nos tornamos mais eficientes. Nosso recorde se mantém intacto. Esta é a nossa 6ª temporada de intervenções e não causamos um único ferimento, nem fomos acusados de nenhum crime ou violação e não fomos processados.

A razão para isto é simples. Não estamos quebrando nenhuma lei, estamos simplesmente fazendo com que as leis internacionais de conservação sejam cumpridas contra uma enorme indústria de caça clandestina.

Mais ao sul perto do gelo Antártico, nosso trimaram Ady Gil continua a procurar pela frota e temos algumas novas surpresas nas mangas para os baleeiros este ano.

Estou confiante que novamente iremos interromper as operações ilegais da frota baleeira japonesa e mais uma vez custaremos seus lucros. Nosso objetivo é afundá-los economicamente, levando-os à falência, expondo o vergonhoso massacre das baleias aqui na Antártida para o mundo todo.

Não é fácil lutar contra uma nação inteira. Especialmente uma nação economicamente tão poderosa quanto o japão. Não é fácil viajar anualmente para o fim do mundo através de mares que rangem os ossos e dos ventos uivantes do Oceano Antártico. Não é fácil lutar contra burocratas que tentam retirar o registro de nossos navios, nosso status de sem fins lucrativos, e burocracias triviais. Não é fácil estar aqui, nestas águas hostis, lutando contra um inimigo cruel enquanto pela internet vomitam a desinformação em um esforço constante de propaganda para nos desacreditar e nos condenar.

Não é fácil mas se fosse fácil, até o Greenpeace estaria por aqui.

O fato é que estamos aqui sozinhos, lutando contra probabilidades superiores armados apenas com uma coragem apaixonante que permite que resistamos a todo tipo de obstáculos, natural ou feito e imposto pelo homem. Estamos aqui, não para fazer amigos, não para impressionar ninguém. Estamos aqui representando nossos clientes – as grandes baleias.

Se cada humano no planeta se levantasse contra nós, ainda estaríamos aqui para defender as baleias.

O maior de todos os desafios sempre foi explicarmos como é importante colocarmos um fim a este massacre.

A humanidade já exterminou mais de 90% das grandes baleias. A história da caça às baleias é o registro mais negro e obsceno da crueldade abjeta que a nossa espécie já infringiu sobre qualquer outra espécie oceânica.

Baleias são as mais inteligentes, mais desenvolvidas e mais socialmente complexos seres sentientes no planeta, se não pudermos defende-las, como podemos esperar defender outras espécies nos oceanos? Se as baleias morrerem, a morte dos oceanos virá e quando os oceanos morrerem, nós todos iremos morrer.

A guerra para salvar baleias é na realidade uma guerra para salvar a humanidade da ameaça mais mortal para nossa própria sobrevivência: nós mesmos.

Minha tripulação veio de todas as partes do mundo, da França e Estônia, Austrália e América do Norte, África e América do Sul, Holanda e Japão. Homens e mulheres apaixonados e dedicados ao ponto de arriscarem suas vidas para fazer o que falta de vontade política e econômica aos nossos governos – cumprirem as leis.

A grande vastidão do Oceano Antártico é ultrapassada somente por sua ferocidade, as ondas chamadas de Cape Rollers são as maiores encontradas em todo mundo, e estas ondas conspiram com o vento, gelo e o ar frigido criando obstáculos que desafiam os instintos, técnicas e experiência dos melhores marinheiros.

Enquanto olho adiante pela janela da ponte de commando, avisto nosso convés sendo lavado com toneladas de água gelada espumante, escorregando como fossem cascatas da proa a popa. Sprays d’água do mar em baldes jorram sobre nossas janelas oprimindo nossos limpadores de vidro e qualquer coisa não amarrada é lançada ao chão caoticamente dentro do navio.

Somado à este desafio está o fato de que logo nós novamente entraremos em confronto com um navio superior tanto em tamanho quanto em velocidade, tripulado por homens com os corações mais enegrecidos que já navegaram os oceanos – os assassinos das grandes baleias. Estes são homens que massacram por lucro, sem perdão ou remorso e homens preparados para usar a violência a fim de conseguirem parar qualquer um que se coloque entre a sua brutalidade e os seus lucros.

Os baleeiros também têm a vantagem de saberem que mesmo que venham a matar ou ferir algum de nós, seu governo no Japão irá justificar e defender sua violência em nome do comércio.

Contra isto temos de tomar todas as precauções para não ferirmos ninguém, nem quebrar quaisquer leis sabendo que a despeito disso, não importa o que façamos, nossos governos irão nos condenar por ousarmos interferir com o comércio japonês, por ousarmos em fazer o que eles não tem a integridade e coragem de fazer.

Mas o apoio dos governos não é tão importante quando temos o incrível apoio de pessoas ao redor do mundo que desejam ver as baleias serem defendidas. Isto é especialmente verdadeiro na Austrália onde seus cidadãos tem fornecido uma base de apoio para que nossas intervenções possam ser possíveis.

Na próxima semana nos encaminharemos em direção sul através dos blocos de gelo a procura da única operação industrial ativamente engajada na zona do Tratado da Antártida. Não estamos seguindo a frota baleeira para protestar, segurar cartazes ou repreender estes assassinos. Nossas intenções são simplesmente de intervir contra suas operações criminosas para opor e parar a sua caça clandestina ilegal de espécies em perigo.

Em um mundo onde cidadãos ao redor dele se mobilizam para resgatar baleias encalhadas nas praias ou enroscadas em redes, os japoneses matam 935 Baleias Minke protegidas, 50 Baleias Jubarte ameaçadas e 50 Baleias Fin igualmente ameaçadas de extinção. 1035 baleias estão enfrentando uma sentença de morte e o nosso trabalho é conseguir absolvição para quantas forem possíveis.

Para todos aqueles que nos apóiam e que fazem com que a Operação Waltzing Matilda seja possível, somos muito agradecidos. Para os que queiram auxiliar nossos esforços por favor o façam, precisamos de sua ajuda. Sigam nosso progresso no nosso website www.seashepherd.org e www.seashepherd.org.br.

Sim, que maneira de começar um Ano Novo!

Não o teríamos começar de nenhuma outra forma. Dê-nos tempestades e perigos, porque a recompensa que nós buscamos, e que nós colheremos, é a satisfação de estarmos salvando as vidas de algumas das mais inteligentes e magníficas criaturas que existem em nosso planeta. Salvar apenas uma baleia é uma realização porém já salvamos milhares e salvaremos outras milhares e isto faz com que nos sintamos bem pra caramba no que fazemos.

E para aqueles de vocês que fazem isto possível, que nos auxiliam em salvar vidas, vocês também compartilham nesta satisfação. As baleias precisam de nós e nós precisamos de vocês. Juntos estamos fazendo a uma verdadeira diferença, defendendo e protegendo nossos oceanos da ganância daqueles que estão ignorantemente e arrogantemente resolvidos a destruir a vida nos oceanos.

Pelas Baleias e pelos Oceanos.

Capitão Paul Watson

Nota do editor: Este editorial foi publicado originalmente antes do evento onde o navio japonês Shonan Maru No. 2 abalroou e causou o naufrágio do Ady Gil na Antártida no dia 6 de janeiro de 2010.