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“Não há tempo para soluções educativas”, diz Paul Watson sobre baleias

Joana Duarte , Jornal do Brasil

Paul retira bala do colete durante campanha contra baleeiros japoneses.

Paul retira bala do colete durante campanha contra baleeiros japoneses.

RIO – O capitão Paul Watson já levou tiros de rifle, já algemou-se a uma pilha de peles de focas amarradas no guincho de um baleeiro, já suportou ser mergulhado no mar gelado do Oceano Austral até perder a consciência e já quase se sufocou ao ter seu rosto pressionado na rançosa gordura de focas mortas, seu corpo arrastado no sangue e cadáver dos mesmos animais que há décadas tenta salvar. Apesar dos riscos que corre, nada parece aplacar o ímpeto do rebelde marinheiro, que dedica sua vida à preservação das espécies nos oceanos – até o a pequenino atum-rabilho vive hoje sob a tutela do indomável capitão. Em entrevista ao JB, Watson revela seu propósito e suas peripécias.

A luta da Sea Shepherd em defesa das baleias contra a sanha de baleeiros japoneses ganhou ares de uma verdadeira guerra. O episódio do afundamento do Ady Gil tem esta dimensão?

Tem sim. Nós já fomos atacados com tiros de rifle, granadas, armas acústicas de longo alcance e, recentemente, eles afundaram um dos nossos navios, quase matando seis pessoas da nossa equipe. Isso definitivamente é uma guerra.

O Japão caça baleias e alega que faz isso com interesse científico, por meio do Institute of Cetacean Research (ICR). Como o senhor vê esta questão?

A Comissão Internacional da Baleia (IWC, em inglês) proibiu a caça às baleias em 1986, e o Institute of Cetacean Research foi criado logo em seguida, em 1987, para dar inicio às tais “pesquisas científicas”. É simplesmente uma camuflagem para continuar a matar baleias por razões puramente comerciais. O Instituto nunca publicou sequer um estudo científico avaliado pela comunidade internacional desde a sua fundação.

A Comissão Internacional Baleeira (CIB), em tese, defende a preservação das baleias, mas é acusada de ser manipulada pela indústria pesqueira. O senhor concorda com isso?

A IWC é o único órgão regulador responsável por supervisionar as atividades baleeiras mundialmente. Infelizmente, é uma organização sem dentes. Os japoneses têm conseguido ampliar seu controle da IWC atraindo para o colegiado países em desenvolvimento e comprando seus votos.

É verdade que a frota baleeira japonesa usa até aviões para espionar o movimento das embarcações da Sea Shepherd?

Sim, mas desde que fizemos denúncias, o governo australiano tomou medidas para proibir que voos de vigilância japoneses decolem de aeroportos australianos. O baleeiro japonês Shonan Maru # 2 foi capaz de localizar o nosso navio Steve Irwin em 8 de dezembro depois de fretar voos que decolaram de Albany, na Austrália Ocidental.

Vimos fotos de navios da Sea Shepherd avançando sobre baleeiros japoneses. É necessário fazer este tipo de enfrentamento?

A Sea Shepherd não é uma organização de protesto. Somos uma organização que luta contra a caça marítima ilegal. Desde que fundei a Sea Shepherd em 1977, nunca fomos responsáveis por uma pessoa ferida ou morta. Nunca fomos condenados por delitos graves e nunca fomos processados. O que temos feito é acabar com as atividades ilegais e salvado milhares de vidas.

A Sea Shepherd busca aplicar leis que já estão em vigor. Quais as leis violadas pelos japoneses? Por que governos não vêm tomando medidas legais?

Os baleeiros japoneses matam espécies em extinção – baleias jubarte e fin – e espécies ameaçadas – baleias-minke –, dentro de um santuário de baleias internacional, violando uma moratória mundial da caça comercial. Os governos não fazem nada por motivos políticos e econômicos, como por exemplo, para não prejudicar o comércio com o Japão. Austrália e França já ameaçaram levar os japoneses ao tribunal internacional, mas não fizeram mais do que ameaças até agora.

Quantas baleias são mortas pelos baleeiros japoneses por ano?

Os japoneses estabelecem duas cotas, uma nos oceanos do Hemisfério Sul e outra no Pacífico Norte. Temos nos concentrado na eliminação da caça no Oceano Austral, onde a cota é de 935 baleias-anãs, 50 baleias jubarte, e 50 baleias fin. No ano passado, conseguimos reduzir a matança a 305 baleias-minke e nenhuma fin ou jubarte. Infelizmente, o governo japonês apoia plenamente operações de caça ilegal com enormes subsídios.

A caça às baleias é proibida por muitos países. Qual é, em síntese, a regulamentação mundial sobre esta atividade? Só o Japão não obedece?

Noruega e Islândia também violam a moratória. O resto do mundo, exceto as nações compradas pelo Japão, se opõem à caça.

Após um longo período sob um governo conservador, o Japão recentemente empossou um novo presidente, mais de esquerda. Você está otimista de que ele poderá limitar as atividades baleeiras do país?

Infelizmente não. Apesar de ter prometido cortar subsídios, o novo governo tem incentivado a caça.

A pesca de baleias está enraizada na cultura japonesa. Conhece alguma organização no Japão que busca reeducar a sociedade?

Não, e não estamos muito interessados nisso. A nossa abordagem é puramente econômica, porque esta é a única linguagem que os baleeiros entendem. As baleias não têm tempo para uma solução educacional.

Por que o senhor deixou o Greenpeace?

O Greenpeace é uma organização de protesto ambiental, enquanto a Sea Shepherd concentra-se na aplicação das leis de conservação. Embora a Sea Shepherd sempre se ofereça para trabalhar em parceria com o Greenpeace, eles têm nos repudiado e continuam sendo muito hostis conosco sem motivo nenhum. Eles alegam que não podemos trabalhar juntos porque somos uma organização violenta. O fato é que a Sea Shepherd nunca machucou ninguém. O Greenpeace já ocasionou mortes, muitas vítimas, inúmeras condenações criminais e ações judiciais. Acho que o Greenpeace nos considera uma ameaça ao seu status de organização de vanguarda, algo que já foi, mas que certamente não é mais.

Fonte: JBOnline