Editorial

Os bandidos islandeses esmagadores da biodiversidade

Comentário de Andrea Gordon, tripulante veterana e gerente do navio Bob Barker

Andrea Gordon. Foto: Sea Shepherd / Marianna Baldo

A Islândia anunciou sua intenção de continuar a caça comercial e criminosa de espécies ameaçadas de extinção, com o massacre de pelo menos 154 baleias fin. Devido a essa caça comercial no século 20, as baleias fin, que são altamente inteligentes e evoluídas, agora estão na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). O plano público é para que a empresa islandesa Hvalur hf possa vender as carcaças de baleias para compradores no Japão, contrariando a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas (CITES), ao transportar os corpos desses gigantes oceânicos até o outro lado do mundo.

Os governos deveriam sancionar a Islândia com rapidez e severidade por essa conspiração criminosa. A retomada premeditada da matança e transporte de espécies ameaçadas, por parte daquele país, expõe a escancarada falta de determinação governamental e de vontade política para fazer cumprir a lei internacional de conservação. Não faz sentido ter leis se elas não são cumpridas. Ladrões não anunciam que vão assaltar um banco porque eles nunca se safariam. A Islândia está avidamente roubando o banco mundial de biodiversidade para atender à proposta dos ricos compradores japoneses.

Mas a comparação dos assassinos de baleias com os assaltantes de bancos é injusta. Assaltantes roubam objetos inanimados, insensíveis e substituíveis. O baleeiros islandeses de sangue frio metodicamente matam famílias inteiras de mamíferos sociáveis de sangue quente, obrigando as fêmeas impotentes a assistir seus bebês sofrerem e morrerem dolorosamente na frente delas. Infelizmente, o governo Obama apenas repreendeu a Islândia quando eles retomaram esse crime há dois anos. Desaprovar palavras e olhares não detém ladrões de banco: consequências financeiras e ação direta, sim.

O dinheiro pode ser substituído. Uma vez que as grandes baleias seguirem os passos dos grandes mergulhões, elas terão partido para sempre. O grande mergulhão era um pássaro preto e branco grande, muito semelhante aos pinguins, que não voava e era abundante no Atlântico Norte. Pescadores europeus e exploradores rapidamente mataram muitos desses pássaros. Mesmo quando cientistas do século 19 perceberam que os mergulhões estavam em perigo de desaparecer, essa escassez aumentou o valor por cabeça. Em 1844, pescadores islandeses encontraram o último casal de aves e seu ovo em uma ilha remota conhecida como “Great Auk Rock”. Com a oferta de um comprador rico, esses pescadores, Jón Brandsson e Sigurður Ísleifsson, estrangularam as aves. Ketill Ketilsson esmagou o único ovo com sua bota. E com essa atitude insensível, a riqueza biológica do mundo foi para sempre reduzida.

Agora, a história se repete, mas no cenário mundial. O Japão é o comprador rico incitando a Islândia a ser o bandido que rouba e esmaga com suas botas as baleias fin ameaçadas de extinção. Nós não precisamos de mais fotos angustiantes de sangue jorrando dessas criaturas majestosas à beira da morte para aumentar a conscientização sobre sua situação, assim como não precisamos de campanhas de sensibilização pública contra o roubo de bancos. Nós sabemos que é ilegal e sabemos que é errado. Precisamos de ação e determinação dos governos para defender o cumprimento das leis que já estão valendo.

O que os governos têm a perder por aplicar a legislação internacional com as disposições que já são postas em prática para esse fim? Não existe nada a perder individualmente, mas a segurança do meio ambiente de todo o planeta está correndo risco.

Nós não vivemos sozinhos neste planeta. Cada ser vivo marinho está intimamente ligado a todo o resto – e nossa existência está fatalmente ligada aos oceanos. Enquanto a taxa de extinções aumenta, a melhor salvaguarda para assegurar que a vida continue nesse mundo em aquecimento é a diversidade de espécies. Capitão Paul Watson uma vez comentou que “se não podemos salvar as baleias, vamos deixar de salvar os oceanos, e se os oceanos morrerem, então todos nós vamos morrer, e todos os grandes sonhos da humanidade serão dispersos como poeira no vento do tempo”.

Durante a Operação Tolerância Zero, a Sea Shepherd Austrália foi para os confins da Terra, arriscando nossas vidas e navios para salvar as grandes baleias, com uma taxa de 100% de salvamento de baleias fin ameaçadas.

Baleias nadam livremente. Foto: Sea Shepherd / Adam Lau

Traduzido por Maiza Garcia, voluntária do Instituto Sea Shepherd Brasil