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O capitão da Sea Shepherd, Paul Watson, em sua tentativa de acabar com a caça às baleias japonesa

Por Joe Spring, da Adventure Lab

Paul Watson. Foto: Tim Watters/Sea Shepherd

Ao longo das últimas três décadas, a maioria das perseguições envolvendo o capitão da Sea Shepherd, Paul Watson, ocorreram em alto-mar. Ele é geralmente aquele na busca, combatendo baleeiros e pescadores de tubarão, tentando impedi-los de usar seus arpões e retirar as barbatanas dos tubarões. Em maio passado, no entanto, Watson foi perseguido e capturado em uma rede política e criminal. Durante uma mudança de voo em Frankfurt, na Alemanha, as autoridades prenderam-no pelo que ele diz ter sido uma questão de dez anos antes, envolvendo um barco de pesca da Costa Rica que operava na costa da Guatemala. Vamos deixá-lo contar a história mais para a frente.

Ele pode, porque ele está livre, operando a bordo de seu navio, o Steve Irwin. Cerca de um ano depois do relato de que a Sea Shepherd causou ao Instituto de Pesquisa de Cetáceos – o grupo japonês que caça baleias – um prejuízo de mais de 20 milhões de dólares, Watson está comandando o maior arsenal da Sea Shepherd em direção ao Oceano Antártico. Estão à sua disposição quatro navios, drones aéreos, diversos barcos velozes, um helicóptero e mais de cem tripulantes. Seu objetivo em 2012 é tentar impedir que o Japão capture uma única baleia. Nós o contatamos enquanto ele comanda sua embarcação em direção ao sul, para relatar o drama que lhe é familiar.

Você pode dizer como você foi preso?

Eu estava indo para o Festival de Cinema de Cannes, em maio, e tinha pego um voo da Lufthansa em Denver, que seria transferido, em Frankfurt, para Nice. Quando eu cheguei a Frankfurt, me disseram que eu estava sendo preso. Foi uma surpresa enorme para mim porque eu tinha estado na Europa um mês antes, na Espanha e na França. Então eu perguntei quais eram as acusações e fiquei pasmo ao saber que a Costa Rica tinha uma ordem de prisão contra mim.

Eu descobri que esse país tinha acionado a Interpol com um mandado de prisão, mas a Interpol rejeitou o pedido porque ele era politicamente motivado. A Alemanha decidiu agir unilateralmente, ignorando a Interpol, e me prenderam por oito dias. Então eu fui solto com uma fiança de 250 mil euros, enquanto se decidiam sobre um pedido de extradição. Eu descobri mais tarde que eles já tinham a decisão tomada desde o começo, pois a presidente da Costa Rica estava se reunindo com a chanceler da Alemanha naquela mesma semana. Isso aconteceu porque a presidente costa-riquenha, Laura Chinchilla, se encontrou com o primeiro-ministro do Japão. O mandado foi emitido logo depois.

Eles se voltaram para 2002, quando eu interceptei um navio palangreiro (que usa espinéis) da Costa Rica que pescava tubarões ilegalmente nas águas da Guatemala. Nós os filmamos, como parte do documentário Shark Water. Perguntei ao governo guatemalteco o que deveria ser feito e disseram que podíamos detê-los. Fizemos. Nós não machucamos ninguém. Nós não danificamos qualquer propriedade. Nós apenas acabamos com suas operações

Bem, eles voltaram para a Costa Rica e me acusaram de tentar matá-los. Quando cheguei àquele país, fui preso. Nós fomos para o tribunal e as acusações foram recusadas quando viram a nossa prova e conversaram com a nossa testemunha. Dois dias depois, me acuasaram novamente porque haviam sido designados um novo procurador e um novo juiz. Eles também rejeitaram a acusação, porque me foi dada autorização para sair da Costa Rica. Eu nunca mais ouvi nada sobre isso até maio desse ano, quando cheguei à Alemanha. Eles me acusaram de tentar naufragar a embarcação e colocar vidas em perigo. Não há nem mesmo esse tipo de acusação na Costa Rica.

Enquanto eles me mantinham preso, o Japão, que já havia feito uma solicitação por meio da Interpol para atividades baleeiras no Oceano Antártico – a Interpol tinha recusado –, posicionou um pedido para que eu fosse mandado para lá. Numa sexta-feira de julho, eu recebi um telefonema de um colaborador dentro do Ministério da Justiça, que disse: “Na segunda-feira, quando você for para a delegacia de polícia”, eu tinha que me apresentar todos os dias, “você vai ser preso e enviado para o Japão”. Eu decidi. “Bem, se eu for para o Japão, então eu nunca mais vou sair de lá”. Foi quando eu parti.

Como você escapou?

Bem, eu tinha que me apresentar à polícia alemã uma vez por dia (e era feriado), então eu tinha dois dias para sair do país. Comecei a ir para o litoral, e de lá peguei um barco. Desde então, tem sido quase 15 mil quilômetros e quatro meses para voltar a bordo do Steve Irwin. Foi um pouco mais difícil por eu não ter meu passaporte. Eles levaram meus dois passaportes, tanto o canadense quanto o norte-americano.

Eu vi os dois avisos vermelhos na Interpol. Há um da Costa Rica e um do Japão. Em que tipo de situação eles te colocam, em termos de sair de um barco e ir para a terra firme?

Bem, nós estamos trabalhando para que a Interpol recuse os avisos. O japonês é baseado nas acusações de um dos meus ex-tripulantes, que barganhou a suspensão de sua pena pela acusação. Então, estamos tentando conseguir que esse aviso seja rejeitado por meio da Interpol. O aviso da Costa Rica expirou há muito tempo sob o estatuto de limitações.

O negócio é o seguinte: ninguém é extraditado por um crime em que ninguém se machucou e nenhuma propriedade foi danificada. A acusação no Japão é, basicamente, a de que eu pedi a alguém para invadir um navio. Ninguém é extraditado numa acusação de invasão. Isso é muito, muito político.

Quais são seus planos, agora que você está no Steve Irwin?

Eu me juntei ao Steve Irwin há cerca de uma semana, e agora temos quatro navios que estão sendo mobilizados para interceptar a frota baleeira japonesa. É a “Operação Tolerância Zero”. Estamos chamando-a assim porque nosso objetivo é ter certeza de que eles não vão matar uma única baleia este ano. Temos o Steve Irwin e o Brigitte Bardot no mar atualmente, e o Bob Barker está sendo reabastecido. Nosso novo navio, o Sam Simon, também está no mar. Nós ficamos mais fortes a cada ano, e a frota japonesa, mais fraca. No ano passado, atingiram apenas 26 por cento da sua cota. Um ano antes, eles conseguiram 17 por cento. Eu espero que seja zero por cento neste ano.

Como você está planejando usar os barcos?

Normalmente, a parte mais difícil é encontrar a frota. Mas nós temos quatro navios, um helicóptero e dois aviões teleguiados que podem fazer vigilância de longo alcance. Uma vez que são encontrados, a maneira mais eficaz é bloquear a popa do Nisshin Maru para que ele não possa carregar a bordo as baleias mortas e não possa matar outras. A segunda maneira é mantê-los navegando para que permaneçam ocupados. Assim, os navios de arpão nos perseguem para nos manter longe do Nisshin Maru, o que os impede de matar baleias. Neste ano, eles não têm ferramentas suficientes para nos manter longe do Nisshin Maru. Então, nós estamos bastante confiantes de que seremos capazes de bloqueá-los desde o começo.

Peter Brown, segundo imediato, lança um drone do Steve Irwin. Foto: Sea Shepherd

Você pode contar um pouco sobre os drones?

Bem, este ano recebemos uma doação de um milhão de dólares especificamente para operações de aviões não tripulados (drones). Essas são máquinas de 250 mil dólares cada, e têm que ser feitas à prova de intempéries para operarem em condições antárticas. Elas podem ir a centenas de quilômetros de distância do navio, podem ser operadas a bordo, e seu trabalho é detectar os navios e informar suas posições.

Elas estão equipadas com câmeras de vídeo?

Sim, na verdade nós podemos ver o que elas veem.

Quão longe elas podem voar?

Até cerca de 500 quilômetros.

Então você encontra um navio baleeiro japonês perseguindo uma baleia, que tipo de medida toma?

Nós não focamos nos navios de arpão porque eles são rápidos, embora o Brigitte Bardot seja mais rápido. A maneira mais eficaz de detê-los é bloquear o Nisshin Maru, o navio-fábrica. Se eles não podem carregar essas baleias, é o fim de suas operações. Em 2008, eles tentaram carregar enquanto estávamos fazendo o bloqueio. Eles tentaram fazer isso enquanto o Greenpeace estava bloqueando, e o Greenpeace se afastou. Eles imaginaram que faríamos a mesma coisa. Isso resultou em três colisões.

Quanto você tem que se preocupar com a vida humana quando dois navios, em uma região muito remota, estão em uma situação em que podem colidir? Onde algo de ruim pode acontecer? Um deles pode afundar?

Bem, eles são navios grandes e colisões lado-a-lado não são preocupantes, mas nós tomamos todas as precauções para nos certificarmos de que não estamos ferindo ninguém. Nós não ferimos ninguém em nossos 35 anos de operação. Estou muito orgulhoso desse recorde e gostaria de mantê-lo.

Atuamos com o que o Dalai Lama chama de espírito de grande desgosto, que é a não violência agressiva. Nós não estamos aqui para machucar ninguém. Estamos aqui para salvar vidas, e às vezes temos que aterrorizar as pessoas para fazê-lo.

A Sea Shepherd disse que você já impediu a morte de 3.600 baleias. Você pode me dizer como esse número é calculado?

Todos os anos, o Japão tem uma cota. Por exemplo, é de 935 baleias-minke, 50 baleias-jubarte e 50 baleias-comuns. No ano passado, eles só conseguiram 277 baleias-minke e uma baleia-comum – no ano anterior, foram 178 baleias. Então, quando você deduz esses números da cota geral, essa é a quantidade de animais que salvamos.

Então você está simplesmente subtraindo o número que eles realmente conseguem a partir da cota?

No ano passado nós causamos um prejuízo de cerca de 25 milhões de dólares. No geral, mais de 100 milhões de dólares nos últimos oito anos. Esse é o nosso foco real. Nosso objetivo é afundar a frota baleeira japonesa economicamente, e nós temos realmente feito isso. Eles só estão sobrevivendo agora porque no ano passado eles roubaram dinheiro – eu digo “roubaram”, a quantia foi repartida – do fundo de ajuda para as vítimas do tsunami. Pessoas do mundo todo enviaram dinheiro para esse fundo de ajuda. O último lugar no qual elas pensaram para o uso desses valores foi a caça às baleias. Isso resultou num belo escândalo no Japão quando essa informação foi liberada. As pessoas estão questionando por que o Japão está usando o dinheiro destinado às vítimas do tsunami para apoiar uma indústria que não é muito popular, nem rentável.

Quão longe você acha que eles estão de parar a caça?

Se fosse só o fato de eles não estarem mais ganhando dinheiro, eles teriam parado há anos atrás. Há um limite até onde isso pode ir. Se nós conseguirmos mandá-los de volta sem matar uma única baleia este ano, será o último prego no caixão da indústria baleeira. É isso o que eu estou esperando.

As pessoas no Japão estão ficando mais e mais preocupadas sobre a quantidade de dinheiro que está sendo gasta para apoiar uma indústria que não está dando lucro. Eles gostam de dizer que é pesquisa científica, mas todo mundo sabe que é sobre a venda de carne de baleia. A outra coisa que as pessoas esquecem é que este é o Santuário de Baleias do Oceano Antártico. Você não mata baleias num santuário. Nós estamos aqui protegendo a integridade de um santuário estabelecido internacionalmente.

Há certas coisas que você tem visto para ser capaz de dizer que as pessoas no Japão não querem a caça às baleias no futuro?

Houve inúmeros artigos nos últimos meses falando sobre quão escandalosa foi a retirada de recursos dos fundos de ajuda do tsunami. Uma pesquisa feita recentemente no Japão disse que 27 por cento das pessoas apoiam a caça, 18 por cento delas são contra, e o resto não se importa. O Japão tentou abrandar dizendo que há mais pessoas apoiando a caça do que sendo contra, esquecendo-se que a grande maioria simplesmente não se importa. Eu estou bem com o apoio vindo do povo japonês. Temos tripulantes japoneses. Portanto, há uma controvérsia lá. Há cinco ou seis anos atrás, ninguém sequer sabia sobre essa situação. Ela não estava sendo relatada no Japão. Agora, há uma discussão e uma polêmica, e isso é bom.

Você sabe, há mais ou menos 35 anos nós estávamos perseguindo os baleeiros na Austrália e eles eram muito teimosos também. Mas em 1978 eles cessaram e agora esse país é um dos lugares mais firmes para a proteção de baleias no mundo. Então, eu espero que nós possamos fazer a mesma coisa com o Japão.

Você acha que vai chegar a ver isso?

Bem, nós definitivamente vimos vários sucessos na redução do número de baleias mortas durante a minha vida. Eu comecei a proteger as baleias em 1975. Essa é a minha profissão, acabar com a caça às baleias ao redor do mundo. Essa é uma indústria que não tem lugar no século 21. Deveríamos começar a aprender mais sobre as baleias. Você sabe, nós gastamos bilhões de dólares em buscas através do universo, à procura de inteligência extraterrestre, quando poderíamos estar nos comunicando com as formas de vida em nosso planeta. Eu acho absurdo sermos tão desdenhosos em relação a todas essas espécies de cidadãos que compartilham este planeta com a gente.

Steve Irwin. Foto: Sea Shepherd

Tem alguma coisa não foi perguntada?

Sobre a coisa da Interpol, o que me incomoda é que ninguém é extraditado para o Japão a partir dos Estados Unidos. Você sabe, mesmo que você seja um assassino em série. Então, por que as pessoas estariam dispostas a enviar-me para o Japão sob uma acusação de invasão? Isso certamente cheira a política, se é que já ouvi falar.

E você acha que seria extraditado se voltasse para os EUA?

Fontes de dentro do governo dos EUA disseram-me que eles fariam isso. Sim.

Então o que você vai fazer depois que a sua temporada no Oceano Antártico acabar?

Bem, agora eu estou no maior país do mundo, que é o oceano. Eu sou intocável. Posso ficar aqui até resolverem essas questões políticas de alguma forma legal.

Traduzido por Maiza Garcia, voluntária do Instituto Sea Shepherd Brasil