Editorial

Nós Somos as Damas da Noite Pelos Oceanos

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"Nós conhecemos o nosso inimigo há muito tempo e nós somos ele, assim estamos travando uma guerra para nos salvar de nós mesmos." Comentário por Capitão Paul Watson

Nós somos as Damas da Noite do Movimento Conservacionista Marinho. Muitas pessoas nos condenam, e muitos outros nos apóiam à noite, em segredo, mas não desejam ser vistos a luz do dia conosco.

Nós não somos respeitáveis. Nós não somos agradáveis. Nós não somos corteses. Somos sujos e nos molhamos nos mais hostis dos mares, enfrentando pessoas cara a cara e enchendo o saco delas, fazendo inimigos – sim, muitos e muitos inimigos.

Inimigos! O quanto mais, melhor, porque eu acredito que o número de inimigos que agente cultiva está diretamente relacionado ao quanto somos efetivos na nossa intervenção contra os interesses de outras pessoas e os interesses de um grande segmento da espécie humana é dirigido para a destruição de nosso planeta e especialmente para a destruição de nossos oceanos.

Eu leio todos os blogs críticos, todas as acusações da mídia, todas as fofocas, e todas as acusações fabricadas com diversão. Veja bem, nós não temos que responder a qualquer governo, para qualquer sociedade, tradição, cultura, ou qualquer ser humano.

Nós só respondemos aos nossos clientes.

Eu nunca tive qualquer ilusão de que o que fazemos seria fácil, ou que nos levaria a qualquer vitória instantânea em nome de nossos clientes. Nem eu alguma vez tive a ilusão de que nossas idéias são bem-vindas à maioria das pessoas. Ao contrário de São Paulo, não tentamos ser todas as coisas a todas as pessoas. Ao invés permanecemos verdadeiros ao nosso objetivo – firmemente e fielmente.

Nós os salvamos um de cada vez, ou escolas, ou rebanhos, ou colônias, de cada vez. Toda baleia salva de um arpão é uma vitória, todo tubarão ou tartaruga retirado de um espinhel é uma vitória, todo albatroz resgatado de uma rede ou anzol é uma vitória para nós. A Sea Shepherd Conservation Society existe para salvar vidas e comprar tempo e o mais importante, para intervir e apoiar as leis de conservação internacionais que nações não têm o interesse político nem econômico de fazer cumprir.

Também nunca esperamos receber elogios ou até mesmo o apoio da mídia, de políticos, burocratas, ou a maioria do público. Não estamos aqui para ganhar o Prêmio Ambiental da Chevron ou até mesmo o Prêmio Nobel Paz, ou ser recompensado com dinheiro, aclamação, ou reconhecimento.

A Sea Shepherd Conservation Society não existe para servir os interesses de qualquer grupo de pessoas. Não somos uma organização de pessoas. Esta sociedade foi estabelecida com o propósito exclusivo de defender espécies de vida selvagem marinha e o habitat marinho de ações criminosas.

Nós representamos baleias, tubarões, tartarugas marinhas, aves marinhas, golfinhos, focas, peixes, invertebrados, e plâncton, e nós fazemos isto dentro do contexto de um mundo dominado por uma humanidade intenta na destruição de espécies marinhas e o habitat marinho.

A própria natureza dos fundamentos da Sea Shepherd Conservation Society convida hostilidade, raiva, violência e condenação da sociedade antropocêntrica.

Já fui chamado de racista, comunista, fascista, misantropo, pirata, Nazista, chorão, direitista, esquerdista, anarquista, egoísta, megalomaníaco, ah sim, não nos esqueçamos daquele título favorito dos nossos críticos – um eco-terrorista.

De uma coisa não se tem dúvida: não podemos ser todas estas coisas para todas as pessoas, e não importa o que algumas pessoas nos chamam. Afinal de contas são as pessoas que causam os mesmos problemas que estamos tentando resolver.

O que é importante é que nós sabemos quem somos e o que estamos fazendo, o que estamos fazendo é levar adiante uma estratégia de velejar perto do vento o mais perto quanto legalmente e moralmente possível para intervir contra atividades ilegais e imorais com a finalidade de salvar vidas da avareza, arrogância, e ignorância teimosa da humanidade.

Nós conhecemos o nosso inimigo há muito tempo e nós somos ele, assim estamos travando uma guerra para nos salvar de nós mesmos.

A Sea Shepherd Conservation Society existe desde agosto de 1977 e durante todo este tempo, cerca de 32 anos, nunca ferimos uma única pessoa, nunca recebemos um único ferimento grave, e nunca fomos condenados em qualquer lugar no mundo de um crime violento.

Apesar disto, as histórias são espalhadas pela mídia que nós somos os piratas, extremistas, criminosos, e até mesmo os terroristas.

Por que isto?

Porque nossa pequena organização não-governamental é a única organização de conservação no mundo que tem o estomago para enfrentar super-potências e o crime organizado como o Yakuza, a máfia das barbatanas de tubarão, e os políticos corruptos.

Com poucos recursos, nós enfrentamos em batalha os que enriquecem com a destruição de nossos oceanos e nosso planeta. Eles têm o dinheiro para nos bombardear com os mensageiros da RP que são pagos para disseminar mentiras e voltar a mídia e políticos contra nós.

Quando enfrentamos a matança ilegal de baleias pela Tribo Makah em 1998 fizemos isto diante de críticas de outros grupos que sentiam que os Makah deveriam ser simplesmente permitidos de matar baleias por serem Nativos americanos. Sabíamos que iríamos ser criticados, mas não tínhamos outra escolha. Ter discriminado a favor dos Makah teria sido um ato racista, contudo, por termos nos recusado a discriminar fomos chamados de racistas. Era uma escolha entre ser racista em prática ou ser chamado de racista, assim optamos por ser chamado no lugar de hipocritamente não se opor a uma operação baleeira que não era legalizada dentro das leis de conservação internacional.

Ao nos opormos a poderosa frota baleeira que sacrifica baleias ilegalmente no Santuário Antártico das Baleias, sabíamos que seríamos submetidos aos vastos recursos econômicos e políticos do governo japonês, e que teríamos poucos amigos em governo. Assim sendo tivemos os registros de nossos navios cancelados e fomos invadidos pela Polícia Federal australiana.

Pensem nisto. Uma frota baleeira matando baleias em extinção no Santuário Antártico das Baleias em violação de inúmeros tratados de conservação internacionais cujos navios são barrados através da lei australiana de entrar em portos australianos. Mesmo assim eles ainda têm o poder de influenciar uma invasão ao nosso navio em um porto australiano para aprender filmagens das atividades ilegais deles! Quando que criminosos conseguem coordenar uma operação policial? A resposta é quando os governos são os criminosos.

O que estes governos não entendem das palavras “santuário de baleias”? Você não sacrifica baleias em extinção em um santuário de baleia e é por esta razão que a Sea Shepherd Conservation Society está no santuário – para parar assassinos de baleias.

Nunca fomos condenados por termos cometidos algum crime violento porque intervimos contra crimes violentos, e o tribunal é o último lugar que estes assassinos desejam ir, porque é no tribunal que nós podemos apresentar provas que os incriminarão e não a nós.

Nossa oposição terá sucesso em nos silenciar? Talvez sim. Na verdade não importa. Nós não podemos ser intimidados por ameaças ou força. Nós fazemos o que fazemos porque é a coisa certa a ser feita, a coisa justa a ser feita, a única coisa que podemos fazer.

Eu deveria ter morrido em junho de 1975. Uma baleia cachalote arpoada morrendo poupou minha vida. Eu olhei no seu grande olho inteligente solitário e o que eu vi mudou totalmente minha percepção da realidade.

Apesar de sua dor, ela afundou lentamente para baixo da superfície ensangüentada que manchava o mar; eu vi compreensão e ela me deu um presente – não temer nada e ver além dos limites dos interesses humanos limitados para o mundo dos outros – essas culturas e nações de não-humanos que nós ignoramos e sacrificamos.

Aquela baleia morreu por um arpão soviético e eu me perguntei: por que os soviéticos estavam matando baleias cachalote?

A resposta era: pelo óleo spermaceti para lubrificar maquinaria delicada em temperaturas extremas e uma das máquinas que eles usavam o óleo era a de mísseis balísticos intercontinentais.

Enquanto eu sentava em um pequeno bote inflável com baleias morrendo e gritando ao meu redor e vendo a silhueta de um navio baleeiro contra o sol poente, percebi que estava testemunhando a morte de um das criaturas mais inteligentes, gentis e socialmente complexas da Terra com a finalidade de fabricar uma arma projetada para a destruição em massa de seres humanos.

Foi então que veio a mim, como um flash assustador, que nós realmente éramos uma espécie louca e o mundo tinha se tornado um grande hospício administrado e controlado pelos próprios pacientes.

Daquele dia em diante eu nunca mais perdoaria a humanidade por razões que somente eu posso entender, mas substituindo meu amor pela humanidade era um amor maior pela vida, toda a vida do microscópico às grandes baleias. E sim, incluiu os humanos, mas não as culturas e filosofias arrogantes da humanidade, mas pela espécie, Homo sapiens, cujo caminho tinha se perdido a apenas alguns milênios atrás para se tornar os anjos assassinos que somos hoje, destruidores do mundo cujo desprezo pela santidade da vida está aparentemente além da medida.

Eu usei o nome Sea Shepherd porque eu sabia que os que temos que fazer é defender e proteger, e fazer isto dentro do contexto de ambas as leis naturais de ecologia e a lei de conservação internacional, assim como dentro da disciplina de respeito pela vida.

Apóie a lei; defenda o inocente sem danificar vida. Essa é a fundação de tudo que a Sea Shepherd Conservation Society representa.

Nós somos a única organização criada de uma visão inspirada pelo olho de uma baleia e somos únicos em nossa posição de estarmos além da crítica da sociedade humana. O que realmente irrita nossos inimigos é que não lhe damos causa para nos destruir abertamente porque não ferimos ou matamos e nos opomos apenas contra criminosos assim definido em leis de conservação internacional. Nós não podemos ser subornados e não podemos ser intimidados e assim nós somos intocáveis.

Alguns podem pensar que podemos ser destruídos, como a história mostrou inúmeras vezes com os assassinatos de tantos que tiveram o potencial de mudar o mundo para o melhor. Eu digo isto porque recebi notícia que existe um prêmio para o meu assassinato.

E como a história também nos demonstra, não existe como parar as forças intencionadas em matar novas idéias, da mesma maneira que não existe como parar novas idéias. O que será, será – é simples assim.

Matando uma pessoa não mata a idéia. Se qualquer coisa, fortalece a idéia e lhe dá vida. Todas as pessoas são mortais, mas idéias podem ser imortais.

Esta ameaça pode não ser nada, embora venha de uma fonte confiável. Eu já fui baleado algumas vezes antes, fui espancado, e perdi conta das ameaças recebidas.

Por via das dúvidas, eu quero que todos saibam que a Sea Shepherd é muito maior do que eu. Nós somos um movimento e nós agora somos ativos em todos os continentes neste planeta. Nós somos ativos no Brasil, Equador, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Senegal, Cingapura, Dubai, e Japão, ao longo da Europa, no Canadá, e o EUA, e a maioria dos mais importantes oceanos do mundo.

A Sea Shepherd não morrerá quando eu morrer – será uma idéia que viverá e sobreviverá contanto que haja uma necessidade para isto. Todos os movimentos são como ecossistemas – há um nicho a ser preenchido e sobrevivência depende de utilidade.

Há muitos Sea Shepherds para continuar esta idéia e agora eles podem ser encontrados ao redor deste nosso maravilhoso planeta, e eles estão defendendo nossos oceanos ativamente.

Quando não houver mais nenhum uso para a Sea Shepherd ela então morrerá naturalmente, como deve.

Para mim, eu vivi uma vida surpreendente graças à graça dada a mim por uma baleia arpoada. Foi uma aventura, uma satisfação, uma vida maravilhosa, mas mais importante que isso, eu sinto que foi uma vida útil e tantos milhares de baleias, focas, golfinhos, aves marinhas, tartarugas, tubarões, e outras coisas vivas inclusive elefantes e lobos que viveram porque eu pude intervir; quando se pensa nisso – aquela baleia morrendo salvou a todos quando ela me poupou.

Sim, eu sei, algumas pessoas estão dizendo, este cara é doido. Tudo que eu posso dizer é que pelo menos eu sei quem eu sou; o que todos nós somos, enquanto tantos, de fato a grande maioria da humanidade, acredita que são sãs ao mesmo tempo em que sofrem de uma psicose coletiva em massa chamada de antropocentrismo.

No mundo selvagem está a preservação da Terra, em diversidade está a preservação do mundo selvagem e na preservação da Terra e dos Oceanos está a salvação da humanidade.

Comentário por Capitão Paul Watson