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Diário de Bordo 1 – Bia Figueiredo

Por: Bia Figueiredo, bióloga brasileira, embarcada na 10a Campanha Antártica da SSCS.
Fotos: Sea Shepherd Austrália
Williamstown, Melbourne
Novembro, 2013.

 

— Posso “não tirar” o dia de folga?

— Hum… não!! Na verdade, creio que você DEVE tirar os seus dias de folga pra recarregar baterias antes da Campanha.

Foi a primeira vez que absorvi o fato de que a 10a Campanha à Antártica está logo ali mesmo, dobrando a esquina. Estivemos tão ocupados nesses últimos meses, especialmente outubro e novembro, que não houve tempo pra parar, sentar e refletir a respeito da partida. Se não fosse trabalhando no deck, seria eliminando itens da lista de compra de equipamento e roupas de frio. Mesmo que a gente receba doações, é sempre interessante ter suas próprias coisas. No caso de quem trabalha no deck, luvas térmicas, gorro, botas e muitas, mas muitas camadas de roupas.

Além disso, os treino têm feito parte da rotina semanal sem descanso. O M/Y Sam Simon hoje conta com um bote, que uma vez pertenceu ao M/Y
Steve Irwin. Um Humber, que comporta quatro passageiros. Passamos pelo treinamento de lançá-lo e devolvê-lo ao navio algumas vezes. Então, por fim, o colocamos na água e, dividindo o time do deck em 2, o fizemos funcionar. E, diga-se de passagem, de acordo. Esticando velocidade e diferentes manobras. Todos tiveram a chance de sentir um mínimo do que pode ser uma ação pra valer na Antártica.

A Brigada de Incêndio ofereceu equipamento e treino pra toda a tripulação, e creio que tenha sido o ponto alto das últimas semanas.Passamos por diferentes situações nos navios, como treino com mangueiras, fumaça artificial com busca e recuperação de vítimas e uso do tanque e máscara de ar comprimido. Nos foi oferecido também um treinamento no próprio complexo onde os bombeiros são treinados. Situações de resgate em tubulação, simulação de navio tomado por fumaça com vítimas e, por fim, cômodos de uma casa em chamas. Posso dizer que parte de mim tem alguns desses bombeiros que nos treinaram como parte da tripulação, após tanto tempo de dedicação e atenção conosco.

Na semana passada, o capitão e alguns dos nossos oficiais chegaram ao navio. Com isso, tivemos a chance de aprender como lançar os botes
salva-vidas, vestir as roupas de imersão e simular “abandonar o navio”, em caso de emergências. O treino foi super válido, uma vez que possa parecer desconfortável pular do navio e confiar que sua roupa é estanque o suficiente para que você não entre em hipotermia se tiver que fazer o mesmo no Oceano Antártico. O capitão do M/Y Bob Barker, Peter Hammarsted, pediu ao resto da tripulação que ainda não havia chegado para que estivesse aqui no sábado, embarcados, pois, pela primeira vez, os três navios tiveram o privilégio de estarem atracados aqui, juntos, praticamente na reta final pra Campanha. E seria uma oportunidade para que conhecêssemos uns aos outros.

Ontem tive o prazer de conhecer outra brasileira, que está a bordo do Bob Barker. Carolina Castro. Ja veterana. Uma querida! No final, resolvi aceitar a sugestão e tirar o dia de folga. Hoje. E, logo pela manhã, peguei minha agenda e descobri que de folga só mesmo no próprio nome, pois a lista de coisas a serem feitas antes de zarparmos só cresceu, além da rotina dos afazeres nos dias de folga: limpar a cabine, lavar roupas, mandar notícias para a família e por aí vai!!

Saudade da terrinha é o que não falta.
No próximo ano, quando desembarcar no Brasil, vou correndo procurar a primeira barraquinha de água de côco!