Editorial

Baleeiros japoneses precisam deixar de ser vagabundos e arranjar um emprego decente

Comentário do Capitão Paul Watson, observador do SSS Steve Irwin

Capitão Paul Watson. Foto: Tim Watters

A gangue de bandidos escusos que anualmente invade o Santuário de Baleias do Oceano Antártico para assassinar baleias de modo cruel e ilegal, são agora oficialmente honrados vagabundos bancados pelo Estado. O governo japonês decidiu apoiar o endividado Instituto de Pesquisa de Cetáceos (ICR) com o dinheiro de impostos dos cidadãos japoneses.

Foi um escândalo no ano passado, quando o governo japonês direcionou cerca de 30 milhões de dólares do fundo de socorro para o tsunami para subsidiar os baleeiros, mas agora que a Sea Shepherd continua minando seus lucros ilícitos, eles precisam de ainda mais subsídios para sobreviver, e isso significa que os contribuintes japoneses devem pagar a conta.

De acordo com uma reportagem da ABC Austrália, “parte do dinheiro veio de recursos destinados à reconstrução das comunidades destruídas pelo tsunami de 2011, e agora parece que mais dinheiro veio de um subsídio financiado pelo contribuinte, conhecido como um fundo de pesca rentável”.

Subsidiar algo chamado “fundo de pesca rentável” é confuso, para se dizer o mínimo. Caçar baleias é uma indústria morta que não tem lugar no século 21, onde as baleias são mais valiosas vivas do que mortas, em termos econômicos. É também estranho usar um fundo com esse nome para subsidiar o chamado projeto de pesquisa científica. Parece que o Japão não está mais nem mesmo fingindo matar baleias para pesquisa.

A caça é agora um honrado programa japonês de bem-estar que só serve para manchar a reputação internacional do país e que não tem a menor esperança de fazer a indústria baleeira ser lucrativa de novo.

Essa é uma boa notícia. O orgulho antecede a queda. A matança anual de focas no Canadá foi fortemente subsidiada pelo governo, e mesmo assim a indústria entrou em colapso sob a pressão dos grupos ambientalistas e dos movimentos de direitos dos animais.

E o mesmo vai acontecer com a indústria baleeira japonesa. O mercado de carne de baleia tem diminuído e todos os esforços do ICR e do governo japonês para revivê-lo fracassaram.
Por que o governo japonês é tão inflexível quando se trata de defender a caça?

Há um número de razões.

1. Amakudari. O sentido literal do termo é “descender do céu”. Na prática, amakudari é o sistema pelo qual funcionários públicos idosos se aposentam – quando atingem a idade de aposentadoria obrigatória – para participar de organizações ligadas ou sob a jurisdição de seus ministérios ou agências. Os ex-funcionários podem colaborar com seus antigos colegas para garantirem contratos com o governo, evitar inspeções regulatórias e, geralmente, garantir um tratamento preferencial por parte da burocracia. Os burocratas à frente do Instituto para a Pesquisa de Cetáceos são todos ex-políticos que recebem altos salários para chefiar o instituto. Se a caça acabar, não haverá ICR, e sem ICR não há postos de trabalho para esses aposentados do amakudari.

2. A política da Agência de Pesca japonesa é a de não recuar em nenhuma das suas ações. Eles temem que a desistência da caça às baleias ou da matança de golfinhos faça com que pareçam fracos e coloque mais pressão para que também abandonem a sobrepesca do atum rabilho e de outras espécies.

3. Os sindicatos que abastecem os navios baleeiros com marinheiros são controlados pela Yakuza, a máfia japonesa. Ela exerce grande influência sobre alguns políticos e burocratas japoneses.

4. O orgulho japonês também impede o governo e os baleeiros de se renderem à pressão externa. Em setembro de 2011, o primeiro-ministro do país disse que não se trata mais de caça às baleias, mas de não se render à Sea Shepherd. Isso é um pouco absurdo, pois o Japão trata nossa organização como se fosse uma nação inimiga de guerra, quando a Sea Shepherd é apenas uma ONG de pequeno porte. Em seu esforço para livrar sua cara, o governo japonês só fica parecendo mais ridículo.

5. O Japão está usando as viagens de caça para manter seus baleeiros treinados. Baleias-comuns e jubartes não têm sidos mortas desde o final dos anos sessenta. Parte da “pesquisa” que o Japão está fazendo é projetada para treinar arpoadores a fim de matar baleias maiores. O país está preocupado que os baleeiros percam a habilidade necessária para matar baleias de modo eficiente.

6. O Japão quer manter seu lugar na economia em relação aos recursos da Antártida. O país não tem pretensões territoriais oficiais ali, mas em futuras negociações será capaz de apresentar o argumento de que tem uso econômico anterior dos recursos locais. Portanto, a coisa é maior do que se tratar apenas de baleias, é também sobre petróleo, urânio, carvão, cobalto e exploração potencial de focas e pinguins.

Com relação aos pinguins, em 1982 a Sea Shepherd se ofereceu para levar suprimentos médicos às Ilhas Falkland para o governo britânico. A nossa oferta foi bem recebida pela Grã-Bretanha, mas a guerra foi ganha antes que pudéssemos organizar a viagem. A razão para a nossa oferta foi o fato de a Argentina ter assinado um acordo com uma empresa japonesa para fornecer um milhão de peles de pinguim para a fabricação de luvas femininas. O nosso apoio à Grã-Bretanha foi por causa da nossa preocupação com os cidadãos nativos das Malvinas, os pinguins. O que esse incidente indica é que o Japão tem estado ativamente à procura de formas de explorar os recursos da Antártida.

O que os japoneses deveriam estar fazendo é usar parte desse dinheiro para treinar os baleeiros a fim de que encontrem um trabalho produtivo, um que não precise ser apoiado como um projeto de bem-estar.

Meu conselho para os baleeiros é: “arranjem um emprego de verdade, seus vagabundos, e parem de roubar os contribuintes”.

Traduzido por Maiza Garcia, voluntária do Instituto Sea Shepherd Brasil