Editorial

A maldita disputa faminta no Rio Columbia

Comentário do Capitão Paul Watson

Um leão marinho dolorosamente marcado por funcionários do governo para acompanhamento. Foto: Erwin Vermeulen

Desde que tomou partido na defesa dos leões marinhos na represa de Bonneville, no rio Columbia, a Sea Shepherd tem recebido alguns e-mails cheios de demonstrações de ódio e críticas de alguns membros do público.

Meus favoritos são aqueles que dizem: “Eu te apoiei em defender as baleias e os golfinhos, mas eu não apoio você na defesa dos leões marinhos”.

Os comentários referem-se à nossa campanha com adjetivos como “equivocada, estúpida, irresponsável, etc, etc.”

De acordo com alguns desses críticos, a Sea Shepherd não se preocupa com a extinção do salmão, e que os leões marinhos são abundantes e que o lugar deles é no mar e não no rio, e inúmeras outras queixas dos defensores de soluções letais para o que eles entendem como um problema.

Alguns dos nossos colaboradores dizem que não vão nos apoiar mais em nossos esforços para proteger as baleias, golfinhos e outras espécies marinhas porque discordam com a nossa campanha para defender os leões marinhos.

“Você não receberá mais nenhum centavo meu por causa dessa campanha equivocada para salvar leões marinhos”, disse um ex-doador aparentemente irritado.

Minha resposta é simplesmente essa: “Fiquem com seu maldito dinheiro, nós não nos comprometemos em representar nossos clientes por causa de dinheiro e nossa clientela inclui os leões marinhos da California e os leões marinhos do norte, e populares ou não, não vamos abandoná-los, simplesmente porque alguns humanos não gostam eles. ”

A Sea Shepherd entende perfeitamente que o salmão está em perigo de extinção e também compreendemos que eles não estão em perigo de extinção por causa de leões marinhos. Mais salmões são mortos nas turbinas da represa do que por leões marinhos. Pescadores nativos, pescadores comerciais, pescadores esportivos apanham muito mais salmões do rio Columbia do que os leões marinhos. Poluição mata mais salmão do que os leões marinhos.

O leão marinho está sendo usado como bode expiatório, porque é (1) conveniente, (2) eles não votam, (3) matá-los dá a impressão de que o salmão está sendo protegido e (4) os burocratas do governo são simplesmente demasiadamente preguiçosos para lidar com o problema de uma maneira positiva e ecologicamente eficiente.

O salmão pode ser salvo (1) derrubando a destrutiva represa, (2) proibindo a pesca comercial, (3) proibindo a pesca esportiva e (4) proibindo a pesca local. E uma vez que nenhuma destas soluções serão aceitáveis, politicamente ou economicamente, os burocratas optaram por uma solução ilusória, matando alguns
leões marinhos.

Os leões marinhos comem entre 1% e 4% do salmão. Os pescadores levam 17% e a represa mata mais 17%. Reduzindo o que os pescadores levam para 4%, compensaria o que os leões marinhos consomem.

Os leões marinhos possuem um maior direito ao salmão do que pescadores, nativos ou não nativos, porque os leões marinhos se estabeleceram nesta área para se alimentar dos salmões milhares de anos antes de qualquer colonização humana nas Américas.

O maior assassino de todos os salmões, a represa de Bonneville, no rio Columbia. Foto: Erwin Vermeulen

Para aqueles que pensam que os leões marinhos estão invadindo a bacia do rio Columbia, pode ser interessante notar que Lewis e Clark relataram leões marinhos se alimentando de salmões às margens das Cataratas do Celilo, junto com os ursos preto e pardos, cuja presença não é mais vista.

Eu diria que o direito de um leão marinho de caçar um salmão deve ter prioridade sobre a caça por parte dos humanos, porque os leões marinhos possuem um direito prioritário e estão protegidos sob os termos da Lei de Proteção dos Mamíferos Marinhos. Eles também são completamente dependente do peixe para a sua sobrevivência.

Os requisitos estabelecidos para a caça aborígene às baleias, peixes e às focas exigem dois fatos estabelecidos. Em primeiro lugar, uma forte tradição e, segundo, uma necessidade de subsistência. Os leões marinhos têm o costume de caçar salmão no rio Columbia e eles têm uma necessidade de subsistência.

Por que massacrar cerca de 500 leões marinhos para que os humanos possam pescar salmão sem uma real necessidade?

O argumento de que o salmão está em extinção é contrariado pelo fato de que os seres humanos ainda estão autorizados a pescar. Sob a proteção do Ato das Espécies Ameaçadas, a pesca seria proibida se de fato o salmão estivesse em extinção.

A Sea Shepherd Conservation Society está muito preocupada com o salmão e defendemos a proibição da pesca esportiva e comercial, a fim de permitir que ambos, o salmão e os leões marinhos, possam sobreviver.

Matar os leões marinhos não é uma solução. O vácuo criado pela morte de 500 leões marinhos irá trazer mais outros para o rio porque os leões marinhos estabelecidos na área disputaram e ganharam o território para reivindicar a posse do peixe. Leões marinhos ainda mais jovens vão aparecer para contestar o território, o que levará a novas exigências de abate.

Não há um único ser humano que irá morrer de fome se abrir mão dos direitos à pesca. Os leões marinhos, no entanto, não têm alternativa. A fome os levará até o rio e os levará a enfrentar o esquadrão da morte do governo, mobilizados para destruí-los.

Por toda a Costa do Pacífico, os humanos tiraram os leões marinhos de seus  habitats naturais. Nós os pertubamos quando eles vêm em terra, nós atiramos neles simplesmente porque estão com fome, nós roubamos a comida de suas bocas, no mar e nos rios, e jogamos nosso esgoto e nosso lixo químico em seus habitats, e então usamos eles como bodes expiatórios para dar a ilusão de que o governo está preocupado em proteger o salmão.

O que os burocratas estão fazendo não é proteger o salmão. O que eles estão fazendo é se prostituir por votos, a mando dos políticos que querem o voto dos pescadores.

Leões marinhos em uma armadilha, potencialmente para serem sacrificados

E o que torna as coisas ainda mais bizarras é o fato de que qualquer tentativa de intervenção, no intuito de proteger os leões marinhos, será considerado um ato de terrorismo por causa da proximidade da barragem de Bonneville. Salve um leão marinho, vá para Gitmo!

Assim, os Guardiões da Represa estão lá para se opor à matança dos leões marinhos de maneira não-violenta e legal. Estamos apoiando a Humane Society dos Estados Unidos em sua legal contestação à essa matança e nós estamos ali para chamar a atenção internacional para esta vergonhosa tentativa de usar como bode expiatório uma espécie que tem todo o direito de estar onde está, fazendo o que está fazendo.

Então, para aqueles que dizem que não vão mais nos apoiar porque estamos defendendo os leões marinhos, a nossa posição é a de que não precisamos do seu apoio. Nós não somos uma organização que pretende ser todas as coisas para todas as pessoas. Nossa base de apoio pode ser os humano, mas os nossos clientes são as espécies marinhas, dos plânctons às baleias, sem exceções.

Não há nenhuma quantidade de dinheiro que possa nos dissuadir de uma fidelidade de 100% aos nossos clientes no mar. Não estamos aqui para fazer as pessoas se sentirem bem. Nós existimos para ser eficazes e eficácia significa salvar vidas e defender a biodiversidade e a proteção dos habitats marinhos.

Isto também significa tomar posições impopulares, dizendo coisas que as pessoas podem não gostar de ouvir e fazer as coisas que algumas pessoas preferem que não façamos.

Esta pode muito bem ser uma posição impopular com algumas pessoas, mas a posição da Sea Shepherd Conservation Society é que nós nos opomos a matança de leões marinhos pelo governo dos Estados Unidos nas águas do rio Columbia.

Traduzido por Dani Vasques, voluntária do Instituto Sea Shepherd Brasil